quinta-feira, 25 de dezembro de 2008



Shalom!
Quer dica de bons livros? Que tal um passeio entre Verdes Trigos...
No Papo de hoje Henrique Chagas!

PIT - Olá Henrique, bem vindo ao Papo em Comunidade!
HC -
É uma honra me apresentar à comunidade judaica, e de falar sobre literatura e sobre o site Verdes Trigos neste seu precioso espaço. Obrigado pela oportunidade que me concede.

PIT - Você é advogado, mas se dedica à literatura. Como se deu este interesse?
HC -
Muito antes de me tornar advogado já tinha vontade de ser escritor. Na verdade sempre tive interesse pela leitura. Cresci vendo meu pai ler, ele lia muito e de tudo, tive o privilégio de aprender a ler com ele. Ensinou-me que somente o conhecimento poderia dar-nos um destino e uma vida melhor. Ainda adolescente, minhas veias literárias já saltavam através de poemas, de crônicas e de um pequeno romance inacabado. Para mim o livro mantém uma carga simbólica enorme. Foram os livros que despertaram em mim, ainda estudante, o desejo vulcânico de mudar o mundo sem armas, apenas com palavras, com letras e rimas, mesmo arriscando às atrozes conseqüências advindas do regime daqueles anos de chumbo. Queria mudar o mundo com uma prosa diferente, com palavras transformadoras, que alterassem o rumo das coisas. Por isso, independentemente da profissão que exerço o livro e a literatura tem lugar especial no meu viver.

PIT - Há muito tempo você criou o site Verdes Trigos. O que te levou a criá-lo?
HC -
Foi em novembro de 1998, quando os blógues ainda não existiam. Imaginava escrever um livro “on line” com a participação do leitor, todavia desisti da idéia, pois o processo de criação é algo solitário. O que eu pretendia era escancarar o processo criativo com a interação dos leitores. Sequer existiam os conceitos da web 2.0, mas surgia, ali, um embrião do blógue, com meus comentários sobre os livros que lia e que davam fundamentação ao meu pensar. Preferi continuar o livro off line e dei seguimento à publicação de resenhas e ensaios literários. Assim nasceu o site Verdes Trigos.

PIT - Por que o nome Verdes Trigos?
HC -
O escritor israelense Amós Oz afirmou que costuma, às manhãs, caminhar pelo deserto para captar suas vozes. Diz ele que as vozes do deserto são regalos para a sua escrita. Faz sentido porque desde menino eu ouço as vozes do vento, aprecio dias de ventania, pois o vento carrega com ele o som do primeiro dia da existência. Aquele mesmo vento, após bilhões de anos, ainda ecoa sobre nós. Desde pequeno aprendi a ouvir a voz do vento, quando criança passava horas admirando o balançar das espigas do trigo e captando o ruach criador. Diz o texto sagrado que, após a criação do mundo, o vento do Senhor pairava sobre as águas; é este o vento que me inspira a escrever.
Ao dar nome ao meu site cultural e literário, busquei inspiração no vento que balança as espigas do trigo, uma cena que carrego comigo. Como aprecio a arte de Van Gogh, associei a sua arte aos verdes trigos da minha infância, e à marca Verdes Trigos atribui conceito filosófico, que representa a esperança de um mundo melhor, que se conquista pela solidariedade, tolerância e pelo repartir do conhecimento.

PIT - Você recebe muitos livros. Você consegue ler todos?
HC -
Por conta do site Verdes Trigos http://www.verdestrigos.org/ recebo muitos livros, seja dos seus autores ou das editoras. Recebo-os, em sua maioria, acompanhados por resenhas e apresentação para que sejam incluídos no site. Por uma questão de tempo, não consigo lê-los todos como também não divulgo todos. Entretanto, dependendo do conteúdo, da abordagem, eu procuro lê-los e, se for o caso, fazer uma nota para site ou publicar uma resenha. Muitas vezes compro determinado livro, leio e o divulgo quando julgo interessante. O livro que me interessa é aquele que, além de uma ficção ou não-ficção, possui algo de perene a dizer. Livros que não dizem “nada” não me interessam. E o “nada” é a ausência de harmonia com a criação.

PIT - Qual o seu critério para divulgá-los no site?
HC -
O livro para ser divulgado no site Verdes Trigos, além de bom – na forma e no seu conteúdo - deve atender à nossa filosofia de trabalho e aos aspectos culturais que envolvem o site. Cremos que as boas idéias, bons pensamentos e os bens culturais devem ser disponibilizados socialmente, até mesmo como forma de entretenimento; é por isso que invisto tempo e dinheiro no site Verdes Trigos, cujo retorno cultural me é altamente satisfatório. Como já dito, advogo uma causa que me é muito particular: que a maior riqueza está no conhecimento, no aprendizado, na grande herança que recebi de meu pai (o desejo de sempre aprender). A mudança não acontece apenas porque achamos que é possível, mas especialmente porque nos preparamos para o futuro. No site aceitamos e instigamos a polêmica, entretanto jamais aceitamos idéias intolerantes, racistas ou desagregadoras. Essa é a nossa política. Os textos publicados devem trazer em seu bojo a busca pela completude humana, a busca pelo entendimento, pela harmonia e por um futuro melhor.

PIT - Qual o seu gênero literário e escritor preferidos?
HC -
Procuro ler um pouco de tudo, mas gosto mesmo é da literatura ficcional, com forte conteúdo histórico, sócio-político ou filosófico, seja romance ou conto. Meu autor predileto é Amós Oz, que permanece na fila de um Prêmio Nobel. Sou fã dele, cito-o constantemente. Na seqüência, não posso deixar de citar o albanês Ismail Kadaré e o contista Nathan Englander que muito me impressionou com o seu "Para Alívio dos Impulsos Insuportáveis", um livro que me foi presenteado pela escritora Noga Lubicz Sklar. Dos meus escritores brasileiros preferidos no momento peço licença para citar os gaúchos Moacyr Scliar e Alfredo Aquino.

PIT - Qual o seu livro de cabeceira?
HC -
Como leio muito, e em todo lugar, metaforicamente “na cabeceira” está hoje o livro “Tirando os sapatos”, de Nilton Bonder. E claro, desde que aprendi a ler, eu costumeiramente leio a Bíblia. Possuo várias; a última que comprei foi a “Bíblia Hebraica”, da Editora Sefer, de São Paulo.

PIT - Que livro você indicaria atualmente?
HC -
Indico os livros do Nathan Englander, os dois livros publicados no Brasil. Indico também um livro corajoso, “Carassotaque”, do gaúcho Alfredo Aquino. Estou lendo este último, é simplesmente ótimo, ele descreve as relações de poder e medo.

PIT - Qual o seu maior sonho?
HC -
Meu maior sonho é terminar de escrever e publicar um romance, cuja temática é uma reflexão sobre o sentido da existência humana, muito mais profundo que nosso sentido meramente filosófico, ao contrário, projeto nas personagens as nossas dificuldades de compreensão do sagrado e do profano. Não existem coisas sagradas e coisas profanas. Tudo é sagrado, como já dizia Djavan. Nessa busca por uma identidade, por um lugar no mundo, os personagens se esbarram com a sua inexorável pequenez frente ao universo, ao aquecimento global, à escassez de água que já se avista, embora neste mundo pós-moderno tudo seja facilitado pela tecnologia de ponta. Já adianto que o enredo passa por uma busca de identidade pessoal, que perpassa pelas ruas de Tel Aviv, pelas planícies da Galiléia e desemboca no Pontal do Paranapanema [local conflituoso], onde uma empresa israelense de exploração de água se instala. Em meio ao comércio de águas para irrigação e exportação, nossos personagens constroem o futuro. O resto é suspense.

PIT - Qual a sua relação com o Judaísmo?
HC -
Descobri que tenho raízes na cultura judaica. Meus avós são descendentes de marranos perseguidos pela inquisição portuguesa. Judeus que se converteram na marra ao catolicismo. Meu avô mudou de sobrenome em razão da perseguição. Depois desta descoberta, fui a Israel. Encantei-me com Jerusalém, senti-me como se tivesse voltado à terra dos meus ancestrais. Passei, então, a estudar o judaísmo, um judaísmo nada ortodoxo. Comecei também a estudar a língua hebraica. Assim, creio que não sou nada religioso no sentido comum, mas sou extremamente religioso no sentido ontológico da palavra. Busco sempre identificar-me com Aquele cujo nome é impronunciável, inclusive quando escrevo. Posso afirmar que minha relação com o Judaísmo é de total encantamento, não somente por acreditar que está no sangue, mas especialmente por acreditar que é possível ter uma relação de temor e amor com o Criador; que é possível viver os valores intrínsecos à cultura e religiosidade dos nossos ancestrais.

PIT - Henrique, obrigada por sua entrevista e deixe aqui o seu recado!
HC -
Obrigado pela oportunidade de estar no seu espaço, por sua generosidade.
Serei eternamente grato. Aos leitores desta entrevista, agradeço de coração e convido-os a nos acompanhar navegando em verdes trigais:
http://www.verdestrigos.org/ Que todos nós sejamos abençoados. Obrigado!








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quinta-feira, 18 de dezembro de 2008





Shalom!
Muitas famílias se perderam no Holocausto. E um homem, desde pequeno, ficou intrigado com o sumiço de seis de seus familiares. O livro “Os desaparecidos – a procura de 6 em 6 milhões de vitimas do Holocausto”, lançado agora no Brasil, retrata esta história.
Com vocês o autor norte americano Daniel Mendelsohn!


PIT - Olá Daniel um prazer tê-lo aqui no Papo em Comunidade!
DM -
Ok. Obrigado.

PIT - “Os Desaparecidos” foi best-seller não só nos EUA, mas também em outros países como França, Reino Unido, Austrália e Israel. Você esperava por isto? Qual foi sua reação ao saber de tanto sucesso?
DM -
Não esqueça da Itália! Nenhum escritor “espera” que seu livro vire um best-seller (ou qualquer outra coisa); você apenas escreve o livro e torce pelo melhor.
Eu acho que este livro teve um tremendo apelo internacional por que:
a) É uma história de família – ele remete a história de uma única família;
b) É um livro sobre como contar histórias e todos gostam de uma boa história;
c) Tem a estrutura da Odisséia junto com uma história de detetive
que é uma irresistível estrutura narrativa.
Portanto, não fico surpreso que tenha atraído tantas pessoas – estas são as narrativas que as pessoas sempre amaram, desde Homero!

PIT - Quais suas expectativas quanto ao lançamento no Brasil? Você pretende visitar o país?
DM -
Não estou familiarizado com o mercado brasileiro, portanto não posso ter expectativas – obviamente espero que agrade as pessoas que gostem de literatura em geral e também aqueles que têm um interesse particular em história familiar, história do mundo, temas judaicos e outros aspectos mais específicos do livro também.
Se eu pretendo visitar – sim eu espero!! Sempre fui muito ansioso para ir ao Brasil e esta será uma oportunidade maravilhosa. Se minha editora marcar um lançamento no Brasil, lógico que irei. (Sou um louco por praia!)

PIT - Você leu livros sobre o Holocausto para ter mais idéias sobre o assunto?
DM -
De modo algum – acho que nunca li um livro sobre Holocausto, não é um assunto que tenha me interessado. Lendo o livro você verá que não é um livro de História e na minha cabeça não é um livro sobre Holocausto. É um livro sobre família, memória de família, como as memórias são transferidas de uma geração para a outra – e de jeito nenhum é um “livro de história sobre o Holocausto”, eu nunca teria escrito um livro assim.

PIT - Como foi para você remexer em coisas e pessoas do passado para entender o presente? Como se deu a sua pesquisa?
DM -
A melhor resposta para esta pergunta está no livro...

PIT - O que mudou no seu dia a dia, na sua vida, depois do livro escrito, pronto?
DM -
Eu passei muito tempo nos aeroportos...

PIT - Em “Os Desaparecidos” você vai montando o quebra-cabeça até tudo se encaixar. Qual foi o momento ou a passagem mais importante que você pode destacar pra gente? E por quê?
DM -
Bem, obviamente o mais dramático foi o fim, quando – por acidente – eu descobri “a verdade” sobre o que aconteceu com meu tio avô, o que foi um mistério e que, após muita viagem, pareceu que nunca saberíamos realmente o que houve. Mas eu não diria que um momento foi mais importante que o outro porque, precisamente, o livro É um quebra-cabeça então cada peça é crucial para entender o todo.


PIT - Desde pequeno você ouvia histórias de seu avô sobre seu tio. Mas quando você decidiu arregaçar as mangas e começar a escrever e a investigar?
DM -
Bem, como digo na primeira parte do livro, minha infância foi realmente o início da minha obsessão pelo meu tio Shmiel e sua família – então, de uma maneira, eu escrevi este livro (ou estava pronto para escrevê-lo) toda minha vida. Porém mais especificamente, eu poderia dizer que, quando cheguei aos 40, falei para mim mesmo: “talvez agora seja finalmente a hora de descobrir o que pode ser descoberto sobre esta história”.

PIT - O romance não tem um tempo cronológico definido. Ele vai no passado e volta ao presente diversas vezes e é bem minucioso nos detalhes. Esta pode ser considerada a marca registrada da narrativa? E você pensou em escrever desta maneira por algum motivo?
DM -
A principal preocupação do livro é a narrativa e a “contação de história” – quais são os estilos e técnicas que usamos para contar histórias? Eu deixo bem claro na primeira parte do livro que a estrutura que ele seguirá é a mesma das histórias do meu avô (que tinha, como aprendi depois, a mesma “composição” usada por Homero na Ilíada e Odisséia: a história se desenvolve com freqüências de volta ao tempo para fornecer informações importantes do passado para explicar o presente) há uma lentidão no começo, com muitas informações que você não tem certeza porque estão ali, e a história começa a se mover rapidamente até, que no fim , todas as histórias, as narrativas do passado 0 que pareciam não estar conectadas com a história principal – chega junto de um jeito muito dramático. Este livro é, na minha cabeça, um livro sobre narrativa e prazeres – e perigos atraentes – de como “historias” transformam “o que aconteceu” em “ a historia do que aconteceu” – o que podem ser duas coisas muito diferentes. Neste sentido, é um livro sobre o que podemos chamar “historiografia” – o processo cuja história é escrita.

PIT - Existem vários livros, filmes, documentários sobre o Holocausto. E este assunto é sempre importante lembrar sempre que possível para não deixar que isso aconteça de novo. Como você vê a questão do anti-semitismo no mundo atualmente e qual a importância da divulgação de um livro como o seu?
DM -
Bom, as pessoas sabem muito sobre o Holocausto, e continuam deixando acontecer de novo em todo o mundo. É demais para o “poder dos livros”. Eu certamente não escreveria meu livro para mudar o mundo, como todos os escritores, eu escrevi porque tinha o livro dentro de mim. Não acho que este (ou qualquer livro) mudará o anti-semitismo, na minha experiência as pessoas que querem odiar os judeus vão achar motivos para odiá-los com ou sem livros! Se o meu livro tem “importância” eu diria que talvez seja pelo inimaginável grande evento e o estreito foco em um pequeno grupo de seis pessoas num jeito que qualquer um com um cérebro e um coração pode se conectar.
Eu recebi milhares de e-mails e cartas de pessoas de todo o mundo dizendo: “Eu li seu livro e agora eu sinto e entendo o Holocausto pela primeira vez”. Então isto talvez seja importante.

PIT - Daniel, obrigada por sua entrevista e deixe seu recado!
DM -
De nada. Leiam “Os Desaparecidos” e aproveitem!






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quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Shalom!
O Papo de hoje é com um imortal:
Com vocês: Moacyr Scliar!
PIT - Ola Moacyr um prazer tê-lo aqui no Papo em Comunidade!
MS -
Olá Patricia!

PIT - Você diz que escreve há muito tempo. Quando você definiria o começo de tudo? E o que te fez começar escrever?
MS -
Fui motivado em primeiro lugar pelas histórias que meu pai, imigrante e grande narrador, conta sobre sua vida no Brasil, e depois, pelo estímulo à leitura proporcionado por minha mãe, que era professora primária e grande leitura. Gostando de histórias e gostando de livros, não tardou para que eu começasse a escrever.

PIT - No seu recente livro “O Texto, ou: a Vida uma trajetória literária” você conta sua historia através dos seus textos. Como surgiu esta idéia? O que te levou a fazer uma autobiografia?
MS -
A editora queria uma coletânea de meus textos, mas eu já tenho várias coletâneas desse tipo. Ocorreu-me então a idéia de refazer minha própria trajetória através dos textos.

PIT - Você conciliou sua carreira de medico com a de escritor. Em algum momento uma se sobrepôs à outra? Você pensou em priorizar alguma e desistir da outra ou elas se complementam?
MS -
São coisas que se complementam. Muitas das minhas vivências médicas estão no que escrevo, e me tornei melhor médico graças à literatura.

PIT - Vários textos são fatos de sua vida. Ao escrevê-los você pensa como escrevendo um diário?
MS -
Não, penso no texto mesmo: crônica, conto...

PIT - O que te inspira? Você tem algum processo para escrever? Gosta mesmo que olhem pelos seus ombros? Vaidade das vaidades??
MS -
Qualquer coisa pode inspirar, uma notícia de jornal, uma pessoa que conheci, uma história que me contaram, um trecho da Bíblia... E todo mundo escreve para ser lido. É um pouco de vaidade, mas é, sobretudo o desejo de comunicação.

PIT - Falando em vaidade, você já recebeu vários prêmios. Inclusive com este novo livro. Um premio estimula o escritor?
MS -
Sim, massageia o ego, mas a certa altura a gente descobre que o melhor prêmio é a satisfação com o texto bem escrito.

PIT - Você ocupa a cadeira 31 da Academia Brasileira de Letras. Como é ser um imortal?
MS -
É algo que me dá orgulho, sobretudo por representar meu estado, o RS, na ABL, mas estou bem consciente de que literatura é coisa que se faz na solidão da sala, diante do computador.

PIT - No livro você passa uma idéia de que escrever é importante para o individuo. Na sua opinião as pessoas devem “escrever” a vida?
MS -
'Não, devem vivê-la, mas escrever ajuda a entender a vida.

PIT - Você diz que os textos devem ser mostrados. Você acredita que, hoje em dia, os blogs são uma forma alternativa de passar uma idéia a diante? Uma maneira de praticar a escrita antes de publicá-la efetivamente?
MS -
Sou fã dos blogs, e acho que é uma boa maneira de divulgar os textos.

PIT - No seu versinho da vela* baixou um “Augusto dos Anjos”? Risos *“Não te dás conta, pobre tola/ao aniversariares com paixão,/que a vela que arde no bolo,/é a mesma que enfeita o caixão?”
MS -
Não, acho que Augusto dos Anjos transita em outra esfera...

PIT - Moacyr, muito obrigada por sua entrevista e deixe aqui o seu recado!
MS -
Parabéns por este belo trabalho!


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quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Shalom!
Ela é Mestre em educação e autora de best-selllers sobre o assunto. E agora vai lançar livros infantis voltados para a ecologia.
No Papo de hoje Tania Zagury!


PIT - Olá Tania! Bem vinda ao Papo em Comunidade.
TZ -
Olá Patricia!

PIT - Filósofa, professora, escritora e pesquisadora. Como podemos definir Tania Zagury?
TZ -
Uma educadora que nunca desiste de suas lutas.

PIT - Você já escreveu vários livros destinados à educação. Quando você decidiu começar a escrever?
TZ -
Foi meio por acaso. Eu já trabalhava em Educação na Universidade Federal do Rio de Janeiro quando meu marido, que é médico especialista em Diabetes, me convidou para trabalhar num projeto conjunto: escrever um livro para diabéticos e seus familiares. Difícil dizer "não" tendo um maridinho como o meu... Resolvi aceitar o desafio... Daí que, juntos, publicamos o primeiro livro brasileiro que uniu profissionais das áreas de Educação e Medicina. Ele ficou responsável pelo projeto científico e eu pelo texto e a parte didática. A primeira edição saiu em 1986 pela Editora Rocco. Hoje estamos na 16ª. Foi tão bem aceito, que comecei a acreditar que podia escrever mesmo... E não parei mais.

PIT - O livro “Limite sem traumas” foi um sucesso de vendas sendo traduzido para o italiano, espanhol e francês. A que você atribui este sucesso?
TZ –
Realmente, foi e continua sendo um grande sucesso. Na França foi recentemente reeditado sob a forma de livro de bolso, com tiragem de 6000 exemplares. Também está na Espanha, Itália, México, Cuba, Estados Unidos e Portugal, entre outros. No Brasil já foram vendidos mais de 245.000 exemplares. Estamos na 84ª edição. Acredito que se deve ao fato de ser um trabalho que atende a uma necessidade imediata de pais e professores, detectada através de uma pesquisa de campo que realizei à época. A primeira edição saiu em 2000. Quase todos os meus livros têm essa característica, aliás; procuro observar o que a realidade nos mostra, fenômenos que muitas vezes passam despercebidos, mas, quando estudados de forma científica, trazem à luz demandas reais da sociedade. Por isso "Limites sem Trauma", assim como "Educar sem Culpa" e "Encurtando a Adolescência" têm aceitação grande. Porque vêm ao encontro de uma necessidade objetiva. Outro fator me parece ser a linguagem. Procuro escrever de forma simples, clara e objetiva, sem jargões profissionais, o que torna a leitura facilmente compreensível para pessoas de diferentes níveis culturais.

PIT - Como você vê a educação no Brasil? Há luz no fim do túnel?
TZ –
Nunca perco a esperança. Mesmo quando a situação é adversa, como o atual panorama educacional brasileiro. Se não tivesse firme convicção de que o quadro pode – e precisa - ser revertido, já teria abandonado a carreira, até por uma questão de coerência e ética. Um educador que não acredita no que faz é um embuste.

PIT - Para você qual o maior desafio atual na educação de um filho tanto pelos pais quanto pela escola?
TZ –
Eis uma pergunta difícil... Determinar "o maior problema", "a maior dificuldade" ou "o culpado" de uma determinada situação é sempre arriscado, porque se corre o risco de ser simplista. Problemas complexos como os que família e escola vêm enfrentando hoje têm várias causas inter-relacionadas, não apenas uma. Exigem, portanto, tratamentos específicos, preferencialmente simultâneos. De qualquer forma, arrisco dizer que um dos grandes desafios da escola e da família hoje é fazer com que crianças e jovens incorporem a idéia de que o saber e a ética ainda têm essencial importância na sociedade e na transformação do mundo.

PIT - Na sua concepção o que seria a escola ideal?
TZ –
Para mim é aquela que alcança os seus objetivos. Quer dizer transmite o saber acumulado pelas ciências e a cultura, mas também forma o cidadão, socializa e ensina a pensar criticamente.

PIT - Qual a dica que você pode dar aos pais de primeira viagem quanto à educação dos filhos?
TZ –
Não gosto muito dessa expressão "dar dicas", porque parece "conselho", "auto-ajuda" ou algo do gênero, coisa que nao faço nem nos meus livros nem em palestras ou cursos. Porém se me perguntassem o que importa fazer quando se pensa ter filhos (o ideal é começar nesse momento e não quando o filhote já está aqui), eu diria que considero essencial conversar para saber o que cada um pensa em termos de projeto educacional. De preferência antes das clássicas e românticas tarefas (fazer o enxoval, escolher nomes, padrinhos, decorar o quarto etc.). As pessoas tendem a pensar em tudo, menos nisso que é fundamental para uma educação bem-sucedida: identidade de propósitos e, se possível, também de métodos. Não precisa ser exatamente igual, mas as bases devem ser pelo menos próximas; se não for, ainda há tempo para analisar, pensar e tentar um mínimo de identidade. Garanto que problemas posteriores serão bem menores, se todos fizerem isso. A divergência sobre a melhor forma de educar é uma constante entre os casais e tem repercussões bem negativas sobre os filhos, porque leva à dissidência e ao confronto, enfraquecendo a autoridade dos pais e causando insegurança nas crianças.

PIT - Você vai lançar livros infantis. Conte para nós sobre este novo projeto.
TZ –
Tenho dado palestras para pais e professores, em todo o Brasil, desde 1991; é comum me perguntarem por que não escrevo também para os filhos. E daí, um dia, lembrando de quantos fatos interessantes presenciei enquanto meus dois filhos cresciam, achei que poderia tentar unir essas circunstâncias, aliando-as à minha firme convicção de que, estimulado adequadamente desde a infância, o ser humano reage admiravelmente bem aos estímulos positivos, ao lirismo e ao amor, mais ainda se apresentados de forma lúdica, engraçada ou com pequenos toques de suspense. Assim - e também com um pouco de criatividade e imaginação - nasceu a COLEÇÃO ECOLÓGICA. Em princípio serão 10 volumes para crianças entre 4 e 12 anos. Creio que, com essas historinhas ingênuas, engraçadas, mas também cheias de afeto, elas poderão desenvolver o amor pela leitura e pela natureza e o respeito pela nossa fauna e flora tão ricas.

PIT - Qual o seu sonho?
TZ –
Estar viva para presenciar um Brasil no qual o saber, a dignidade e a igualdade sejam propriedade de todos.

PIT - Tania muito obrigada por sua entrevista e deixe aqui o seu recado!
TZ –
Eu é que agradeço a oportunidade de participar do "Papo em Comunidade". Gostaria de passar aos leitores a minha convicção de que, se cada um de nós fizer a sua parte por menor que seja, com total dedicação, com integridade e sem se preocupar com "se" e "como" os outros estão fazendo, somente assim, poderemos mudar o mundo de forma a que ele se torne tal e qual o sonhamos.





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quarta-feira, 26 de novembro de 2008



Shalom!
Uma artista que transmite o otimismo, a esperança e o renascer da humanidade através de suas esculturas.
No Papo de hoje: Daisy Nasser!

PIT - Olá Daisy, bem vinda ao Papo em Comunidade!
DN -
Olá Patricia, um prazer falar com você.

PIT - Como começou o seu interesse por esculturas?
DN -
Eu queria liberar o meu lado feminino, tive uma educação rígida e precisava transparecer a minha feminilidade e através das esculturas consegui fazer isto.

PIT - Você teve influência de alguém?
DN -
Não. Tive aulas com Becheroni, Calabroni, mas não tive um ídolo. Meu trabalho é uma conexão com o divino, com a essência...

PIT - O que te inspira para criar as peças?
DN -
Não sei como explicar, eu executo, sou apenas uma “executora”, um instrumento. Sou só um canal. Recebo a inspiração que acredito vir de Deus e executo, sem planejar, sem desenhar e sem retoques.

PIT - Que tipo de material você usa? Você tem alguma técnica especial?
DN -
Trabalho com mármore, alabastro e atualmente laca colorida. Não tenho uma técnica, trabalho no barro, gesso, cera.

PIT - Qual a peça você mais gostou de fazer? Por quê?
DN -
Gosto da “Ternura” que simboliza o nascimento, a “Espiral” que é o crescimento e a “Germinação” a nossa força interior.

PIT - Você acredita que as esculturas falam por si só?
DN -
Eu acho que não, mas as pessoas dizem que as peças transmitem a minha energia.

PIT - Você já expôs em vários lugares do mundo. Os estrangeiros valorizam mais a arte?
DN -
Não acredito. Depende da pessoa e não do local, acho que eles têm mais costume, mas aqui no Brasil tem muitos que dão valor. O que tem me impressionado é a reação das crianças, é fantástico. Quero muito que as pessoas com deficiência visual visitem a exposição, que toquem as peças e sintam a energia.

PIT - Atualmente você está com a exposição “Fonte do Nascer”. Conte-nos um pouco sobre estes novos trabalhos e o que o público poderá apreciar?
DN -
A exposição está na Hebraica, em São Paulo, de terça a domingo, das 9 às 22 horas até o dia 3 de dezembro. São peças brancas e também com cores fortes que transmitem os meus sentimentos de amor, fé, esperança e, sobretudo de otimismo. As esculturas representam o divino, a nossa força e confiança.

PIT - Qual o seu sonho?
DN -
O meu sonho é continuar fazendo o que faço. É passar todo o meu amor, através das esculturas, para mais pessoas. O que sinto é que minha missão é passar coisas boas para as pessoas, fazê-las felizes. E posso dizer que já estou realizando este sonho!

PIT - Daisy, muito obrigada por sua entrevista e deixe aqui o seu recado!
DN -
Obrigada, estou muito feliz de falar com você. Quero dizer para as pessoas que temos um poder ilimitado, de criar, expor emoções e é isso que vai ajudar a gente a sair desse túnel de dificuldades e ver a luz depois, com paz e abundância.
Apareçam na exposição, sintam e tirem suas próprias conclusões...






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quinta-feira, 20 de novembro de 2008


Shalom!
O que você faria se um dia se descobrisse invisível? Quer uma sugestão?
Leia “As confissões do Homem Invisível” !
Alexandre Plosk... você está aí?

PIT - Olá Alexandre! Um prazer tê-lo aqui no Papo em Comunidade!
AP -
Olá Patricia, olá a todos os leitores. O prazer é meu.


PIT - Você é formado em publicidade e cinema. Como começou o seu interesse em escrever?
AP -
Olha, não sou daqueles que escrevo histórias “desde pequenininho”. Lá pelos dezoito anos, tive uma paixão pelo cinema. Ficava imaginando fazer filmes, apesar de todas as dificuldades. Mas quando comecei a escrever meus próprios roteiros, percebi que a curtição maior era criar uma história, independente de ela vir a ser filmada. Aí fui embarcando cada vez mais na literatura. Não tem preço a liberdade de criar o que você quiser. Sem pensar em orçamento, no trabalho de convencer as pessoas... Isso sem falar no que me parece o mais especial na literatura: a capacidade de mergulhar no mundo interior dos personagens.

PIT - Quais são suas influências literárias?
AP -
No meu primeiro romance, “Livro Zero”, eu dou uma verdadeira lista alfabética. Rs... É que o personagem principal do “Livro Zero” vai cumprir uma pena num presídio. Lá, ele imagina que finalmente terá paz para escrever seu primeiro romance... Bem, antes de começar, ele busca inspiração e sai lendo a obra de dezenas de seus escritores favoritos. Para mim, Dostoiévski e Kafka estão num patamar especial. Mas daí seguem inúmeros escritores geniais: Lewis Carroll, Paul Auster, Murilo Rubião, Ian McEwan...

PIT - Como surgiu a idéia de “As Confissões do homem invisível”?
AP -
O meu ponto de partida foi a visão de um personagem que pudesse entrar na casa das pessoas. Alguém capaz de escutar os dramas que se passam no mundo entre quatro paredes. Um ser solitário vagando por entre esses universos tão particulares e humanos. Sua presença invisível teria um efeito reparador nos moradores, instalando calma e cumplicidade pelos cômodos da cidade.

PIT - No livro o espelho é o pivô da história. Você acredita que o espelho possa ser o condutor para um universo paralelo?
AP -
Quando “entrei na pele” do personagem, pra valer, o primeiro impulso foi o de procurar o espelho em busca de uma imagem, ou não-imagem. Ao não encontrar nenhum sinal de existência ali na superfície polida, o homem invisível fica fascinado por aquele espaço de onde agora está exilado. A partir daí, muita coisa mudou no romance.Naquele momento, eu mesmo não sabia o poder que o espelho teria na história. Acho que desde sempre o homem é fascinado pelo espelho. Talvez seja preciso sentir-se invisível para redimensionar este objeto tão simples e tão mágico.

PIT - Se tornar invisível é um desejo seu? O que você gostaria de fazer se pudesse ficar invisível? Brincar de Deus também?
AP -
Eu imagino que teria um comportamento parecido com o meu personagem. Primeiro, uma curiosidade enorme de acompanhar a vida das pessoas. Sabe quando você ouve o trecho de uma conversa na rua e fica super curioso para saber o desfecho? Pois o homem invisível pode penetrar nos bastidores, descobrir os segredos, as tristezas e as alegrias mais profundas do ser humano. Mas penso que, assim como ele, eu também não resistiria a um segundo passo: a vontade de interferir, de ajudar as pessoas em seus dilemas. No fundo, é um pouco o que um escritor faz. Ele se aproxima do outro, do leitor e, querendo, ou não, interfere na vida dele.

PIT - Em alguns momentos o personagem central fala de vivencias judaicas. O judaísmo é uma grande fonte de inspiração para você?
AP -
Total. Estudei no Barilan, colégio religioso e a relação homem-Deus, criador-criatura, para mim é fonte de inspiração tremenda. No “Livro Zero”, o escritor-presidiário acaba descobrindo que se tornou uma espécie de homem santo para os detentos. Atribuem a ele milagres e uma sabedoria divina. Uma situação a que ele resiste com todas as suas forças. No “Confissões”, abordo o tema da invisibilidade. Quase tão antigo quanto o homem. Ele é contado já por Platão em “A República”, na narrativa “O Anel de Giges”. Mas para mim, a idéia vem de muito antes. Vem da própria concepção de Deus. Minha herança judaica tem seu centro na idéia de um Deus invisível. Um conceito que é perturbador para uma criança. Ao mesmo tempo, é uma fonte de imaginação gigantesca. É um grande vazio a ser preenchido. Portanto, quando se funde essa idéia do Deus invisível com a de que o homem foi criado à sua imagem e semelhança, algo entra em curto-circuito. Há algum mistério aí que só atiça o caldeirão da ficção. Talvez não por acaso, quando realizei meu curta-metragem na faculdade de cinema, “A Caixa Preta”, contei a história de um homem que fala com uma mulher que nunca vemos. Ela é só uma voz. Como se fosse uma mulher invisível. Em certo sentido, as duas obras são complementares. E a frase com que abri o filme, poderia muito bem ser a epígrafe do livro: “E vos falou o Eterno do meio do fogo. Som de palavras vós ouvistes, porém imagem alguma não vistes. Tão somente uma voz.” Deuteronômio (4,12).

PIT - Você também é roteirista de TV e cinema. Você escreve os seus livros pensando na possibilidade de torná-los filmes?
AP -
Não. Na hora de escrever, o que vale é o fluxo literário, a prioridade é o mundo interior. Como aquele personagem está vivenciando, internamente, aqueles acontecimentos. Mas, no momento de reescrever, de trabalhar o texto e, principalmente, a estrutura do romance, tenho consciência de que de alguma maneira a narrativa cinematográfica acaba influenciando também. Há muitas décadas somos moldados por essa cultura de tv/cinema. Acho que a experiência como roteirista traz para a literatura essa preocupação de deixar uma história bem amarrada. Agora, o importante numa adaptação é saber que é uma outra obra. Vale criar novos personagens, cortar tramas paralelas... Livro e filme são línguas diferentes. A idéia é traduzir o sentido e não a forma. Tive a sorte de ter essa liberdade quando adaptei o romance policial “Bellini e a Esfinge” para o cinema. O Tony Bellotto, autor da obra literária, teve essa inteligência. Não só entendeu que era preciso fazer modificações. Ele foi além. Chegava ao ponto de vibrar com as invenções que fui criando em cima do livro dele. Porque sabia que estávamos construindo algo novo a partir da obra que ele criou.

PIT - Algum novo projeto em vista?
AP -
Desde que terminei meu primeiro romance tenho imaginado uma história em que se fundem os universos das artes plásticas e do misticismo judaico. Acho que vai ser algo por aí. Mas nunca se sabe. Existem várias idéias perambulando pela cabeça de quem trabalha com criação. Porém, na hora em que se começa o processo de realização, às vezes a mais inesperada se impõe sobre todas as outras.

PIT - “O Pomar” é o seu próximo livro? (risos)
AP -
É... No “Confissões”, eu comento esse livro imaginário, escrito pela personagem feminina principal. Não sei se vou escrevê-lo. Talvez seja melhor fazer como Borges. Às vezes a resenha de um livro jamais escrito pode ser mais interessante do que escrever o próprio livro. Pelo menos, dá muito menos trabalho. Rs...

PIT - Alexandre, muito obrigada por sua entrevista e deixe aqui o seu recado!
AP -
Legal, Patricia. É sempre bom poder falar sobre o nosso trabalho. A gente acaba aprendendo mais. O bacana da literatura é que a obra não se esgota quando colocamos o ponto final. Ao fim de cada leitura, cada leitor terá criado sua própria história. Isso faz de todos nós leitores, pessoas mais criativas e inventivas.





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quinta-feira, 13 de novembro de 2008






Shalom!
Você consegue pensar em um programa de TV que está há 47 anos no ar? Pois é, ele existe!
E o Papo de hoje é com o seu criador.
No ar: Francisco Gotthilf ou se preferir Senhor Mosaico!

PIT - Sr Francisco, é uma honra entrevistá-lo no Papo em Comunidade!
FG -
Muito obrigado, o prazer é meu!

PIT - Como surgiu a idéia de fazer um programa de TV?
FG -
Pouco tempo após a nossa chegada ao Brasil, em 1938, meu saudoso pai, Siegfried Gotthilf percebeu a necessidade que a comunidade tinha de se manter informada sobre assuntos do seu interesse. Assim iniciamos um programa de rádio “Hora Israelita” – em 1940: era um programa diário com músicas, notícias, informações sobre a Terra Santa e os judeus no mundo. No fim dos anos 50 a televisão no Brasil se tornou muito importante e decidi começar um programa ali de TV. Ele começou na TV Excelsior, em 16 de julho de 1961.

PIT - O programa Mosaico está no Guinness Book como o programa mais antigo da TV Brasileira: 47 anos ininterruptos! Como o senhor explica tal longevidade e sucesso?
FG -
Minha fórmula sempre foi a de estar aberto a todas as correntes, valorizar a comunidade e batalhar muito para ter bons patrocinadores. Acho que o apoio da Rachel, minha esposa, e a ajuda de meus filhos também foram fundamentais.

PIT - Conte para nós um momento emocionante ou marcante durante estes anos de Mosaico:
FG -
A cobertura da visita do 1o ministro israelense David Ben Gurion ao Brasil.
A primeira entrevista com Albert Sabin. As mensagens de Shaná Tová de praticamente todos os presidentes da República.

PIT - Para o Senhor, qual a importância de um programa como o Mosaico para as comunidades judaica e maior?
FG -
O Mosaico na TV mostra ao público em geral a participação positiva da comunidade judaica em todos os aspectos da vida brasileira. É indispensável para combater a ignorância que gera o racismo, que muitas vezes se transforma em anti-semitismo.

PIT - Além do Mosaico, o senhor também é muito atuante na comunidade judaica. O Sr Francisco é incansável?
FG -
Não, não, acho que todo mundo fica cansado! Mas também acho que é uma obrigação de todo judeu trabalhar pela sua comunidade. Por isso fui um dos criadores do Grupo de Escoteiros “Avanhandava” na Congregação Israelita de São Paulo: era uma forma de introduzir os filhos dos imigrantes que vieram da Alemanha e também de paises vizinhos na época nazista. Também me dediquei ao Hospital Albert Einstein, à Federação Israelita e, no momento, também sou o co-presidente da Bnai Brith - São Paulo, onde atuo e gosto de estar sempre presente.

PIT - Recentemente o senhor foi homenageado com um livro e um documentário. Revendo a sua história e seus feitos, o senhor tem a sensação de dever cumprido ou ainda tem algo a fazer?
FG -
Se Deus permitir pretendo continuar fazendo o programa na televisão, que faz parte de minha vida e de minha história. Acho que chegar aos quase 50 anos de televisão sem parar dá a sensação de dever cumprido. Mas ainda tenho muito a fazer!

PIT - Que conselho o senhor pode dar para quem quer fazer um programa de TV?
FG -
Conselho: ser persistente, não desistir. E se vocês tiverem alguém que pretende fazer um programa de televisão, terei a maior satisfação de manter contato e oferecer a minha experiência.

PIT - Qual o seu sonho?
FG -
Neste momento tenho dois: manter o Mosaico na TV no ar e fazer uma viagem para Israel.

PIT - Sr Francisco, muito obrigada por sua entrevista e deixe aqui o seu recado!
FG -
Agradeço a oportunidade da entrevista nesse Papo em Comunidade e desejo muito sucesso a você!









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quinta-feira, 6 de novembro de 2008




Shalom!
Ela é jornalista, mas a vida a levou para o cinema. Hoje faz documentários e já foi premiada pelo novo filme “ Meu Brasil”.
Luzes, câmera, ação:
Daniela Broitman

PIT - Olá Daniela bem vinda ao Papo em Comunidade!
DB -
Olá Patricia!

PIT - Quando você decidiu se tornar uma cineasta?
DB -
Sempre gostei muito de cinema. Quando decidi fazer jornalismo nafaculdade, tinha minhas dúvidas se deveria fazer cinema. Cheguei aconcorrer a uma bolsa para a Escola Internacional de Cinema e TV deSan Antonio de los Baños, em Cuba. Passei na primeira fase, masacabei desistindo, pois não era o meu momento de sair do país. Quando trabalhei no Estadão como repórter, eu escrevia muito sobrecultura, e muitas vezes fazia crítica de cinema. Em 1998 fui fazer mestrado na Universidade da Califórnia - Berkeley, e lá fui assistente do professor Kenneth Turan, crítico do jornal Los Angeles Times, no curso de crítica de cinema no Departamento de Jornalismo.

PIT - Por que você optou pelos documentários?
DB -
No meu mestrado, fiz TV e também fiz um curso de Históriado Documentário, para o qual tive que assistir e discutir dezenas defilmes. Foi uma época maravilhosa, apesar das dificuldades de ter que fazer um mestrado em outro idioma. Lá eu aprendi a editar em Avid, fazer trabalho de câmera, roteiro e produção para TV e documentário. No meu segundo ano de mestrado, recebi uma proposta de trabalho deuma "start-up", durante aquele boom da internet em San Francisco(Califórnia). Fui contratada para ser editora da seção de Cinema do site Streetspace e eles me pagaram um curso específico de edição de vídeo. Hoje entendo que tudo isso já estava me preparando para o caminho que vim a seguir, apesar da minha primeira escolha não ter sido cinema. Acabei estudando cinema na New York University, onde fiz um certificado em 2002. No final deste mesmo ano, voltei ao Brasil depois de seis anos nos Estados Unidos. Na bagagem, trouxe uma câmera digital, microfones, um Macintosh com software de edição e tudo o mais que era necessário para produzir um documentário, que era o que eu mais queria naquele momento. Com tantos anos no jornalismo, acho que foi um caminho natural a opção por documentários. Mas tenho vontade de fazer muitos outros projetos, inclusive de ficção.

PIT - “A Voz da Ponta” foi sua estréia no cinema, conte-nos um pouco sobre este filme.
DB -
A produção de "A Voz da Ponta" começou justamente na minha volta ao Brasil em outubro de 2002. Minha motivação para me envolver de corpo e alma neste projeto foi uma imagem que não esqueço nunca: no caminho do aeroporto do Galeão para a Zona Sul, vi aquele mar de favelas que tinha tomado conta do Rio de Janeiro. Fiquei muito impressionada com aquela imagem e senti a necessidade de entender o que estava acontecendo no Brasil, como a pobreza estava crescendo tanto. "A Voz da Ponta", entre outros temas, conta sobre o surgimento de uma favela no Rio chamada Terra Encantada. Na época existia um parque de diversão na Barra da Tijuca com o mesmo nome. Aquilo era muito irônico: por um lado, um grupo social que havia ganhado muito dinheiro no Brasil, mais conhecidos como "novos-ricos" (muitos dos quais foram morar na Barra da Tijuca no Rio); por outro lado, um grupo cada vez mais pobre, que tinha que brigar por um metro de terra invadida para construir um barraco de telha. Estes que lutavam na favela por um pedaço de terra - na verdade, uma moradia, direito de todos os cidadãos brasileiros, de acordo com o Artigo Sexto da nossa Constituição - são sempre retratados como bagunceiros, bandidos, etc e só aparecem na mídia quando há tiroteio, desmoronamento, blitz policial ou algum outro tipo de tragédia. Só se fala dos traficantes das favelas. Mas e os outros 98% dos moradores da comunidade que são trabalhadores e pessoas honestas que vivem no meio desse caos social? Eu precisava ir a fundo nesta questão para compreender melhor esta diferença social vergonhosa que existe em nosso país e quem sabe poder contribuir de alguma maneira para uma transformação pela qual o Brasil precisa passar. "A Voz da Ponta" é a voz dos invisíveis, dos excluídos, dos nossos "intocáveis", de todos aqueles que sofrem a injustiça social deste país. Creio que o fato de ser filha e neta de judeus imigrantes, que passaram por campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial e perderam tudo o que tinham, seja uma das minhas motivações para fazer filmes que discutem temas como igualdade e paz.

PIT - O seu recente filme “Meu Brasil” conta a história de vários lideres comunitários. Como surgiu a idéia deste filme?
DB -
Desde 2002 tenho contato com lideranças comunitárias, associações demoradores e ONGs no Rio de Janeiro. Em 2004, fiz uma parceria com o Comitê Rio do Fórum Social Mundial para selecionar um grupo de 33 líderes comunitários para irem ao Fórum Social Mundial, os quais seriam os personagens do meu documentário "Meu Brasil". Quando comecei o projeto não sabia ainda quem seriam os personagens principais. A idéia era levar esse grupo ao Fórum, oferecer capacitação a eles e ver o resultado. Ao longo da produção foi ficando claro que se eu queria fazer um filme que falasse sobre diversidade e discriminação, eu tinha que ter três personagens principais que representassem bem estas questões. A Gaúcha, a Juliana e o Carlos têm histórias de vida e perfis bem diferentes, mas seus ideais são muito similares: combater a discriminação e trazer melhorias para sua comunidade.

PIT - Falando dos personagens, o que você aprendeu com eles?
DB - Com cada personagem aprendi algo especial:
Com a Gaúcha, aprendo até hoje, pois é com quem eu mais tenho contato. Não tenho visto a Juliana, pois ela mora em Três Rios e oCarlos anda meio sumido. Toda vez que encontro com a Gaúcha, ela mesurpreende com uma nova história. Outro dia numa apresentação do filme que fizemos na Faculdade ESPM, ela contou como foi abandonada pelo marido, grávida do sexto filho, que acabou perdendo. Eu quase chorei. Olhando ali pra ela, com aquela força e garra, eu não podia acreditar que aquela senhora de 65 anos tinha passado por tudo aquilo. Hoje sua maior luta é para manter a COMZO (Conselho da Mulherda Zona Oeste), associação que ela fundou e para a qual está buscando uma sede. Com o Carlos, aprendi sobre a beleza e a importância da reciclagem(ele ensina jovens a reciclar lixo e a fazer arte com esse material). Carlos é ambicioso e muito batalhador, e vive cercado de adolescentes que trabalham com ele nos projetos sociais da sua ONG comunitária Ecologic Bike. Já a Juliana é uma figura polêmica. Uma travesti de quase 2 metros de altura que às vezes é de uma ingenuidade espantosa, apesar de tudo que ela já teve que enfrentar em termos de discriminação. Nas filmagens me diverti muitíssimo com ela, pois é engraçada, desbocada e sincera. O que mais me intrigou na Juliana é que ela é uma travesti que, diferentemente da maioria, não se prostituiu. Ela batalha para estudar, ter uma profissão e poder ajudar sua família e comunidade. O que aprendi com eles? Uma pergunta que não quer calar: se eles, que estão numa situação econômica tão difícil, podem contribuir de alguma maneira para um mundo melhor, como tantas pessoas que têm uma condição financeira melhor não fazem nada?

PIT - Como foi receber o premio Júri Popular no Cinesul? Você já esperava por isto?
DB -
Nossa, foi maravilhoso, claro. Na hora que falaram o nome do filme (Meu Brasil) e meu nome no palco na premiação, eu não conseguia nem levantar dacadeira de tão surpresa que fiquei. Tanto não esperava que não tinhanem preparado discurso, tive que improvisar. E claro, tinha que oferecer aquele prêmio aos líderes comunitários do filme e a todos os outros que lutam dia-a-dia para melhorar a condição de vida em suas comunidades.

PIT - Quando poderemos assistir “Meu Brasil”?
DB -
"Meu Brasil" estréia nos cinemas do Rio de Janeiro e São Paulo dia 14 de novembro no circuito Unibanco Arteplex. No Rio entrará em cartaz no Unibanco Arteplex de Botafogo, e em São Paulo a sala só será confirmada daqui alguns dias (verifiquem nos jornais ou no site do filme na semana da estréia). Também deve ser exibido no Ponto Cine na Zona Oeste do Rio, aonde foi filmado boa parte do documentário. Depois iremos para outros estados. Para mais informações sobre "Meu Brasil", acesse: www.videoforum.tv/meubrasil

PIT - Como é fazer filme no Brasil?
DB -
Muitas pessoas, até alguns amigos, têm vindo me procurar dizendo que querem fazer cinema. Um conselho que sempre dou: faça uma boa poupança antes de começar! Não estou brincando. Nessa profissão você mais paga para trabalhar do que recebe. É incrível o empenho, dedicação e dinheiro que você tem que colocar no projeto quando está começando. É muito esforço mesmo. A maioria dos diretores que conheço veio da publicidade (às vezes ainda trabalham com publicidade), ou então tem outra profissão ou dão aula em faculdade, creio que estessão caminhos mais fáceis. Mas eu arrisquei tentar viver só de documentário e eventualmente fazer projetos institucionais, mas tenho que batalhar muito até hoje. Ou seja, é uma luta constante.

PIT - Algum projeto em vista?
DB -
Ganhei uma bolsa da Fundação Guggenheim de Nova York para desenvolver meu próximo projeto: um documentário sobre o músico e ativista social Marcelo Yuka (ex-baterista da banda O Rappa).

PIT - Daniela, muito obrigada por sua entrevista e deixe aqui o seu recado!
DB -
Estamos distribuindo "Meu Brasil" através de um projeto inovador chamado Distribuição Criativa, da Pipa Produções, que recebeu apoioda Secretaria do Audiovisual e do MinC. Estamos investindo na formação de público e tentando fazer com que pessoas que não têm condições de ver o filme possam vê-lo, através da distribuição de vale-cinema (ingresso gratuito) e vale-promoção (o espectador pagaapenas R$ 5,00). Ambos vales são aceitos em qualquer cinema em que o filme estiver sendo exibido, em qualquer dia e horário. Se alguma instituiçãoeducacional, associação ou ONG quiser vales-cinema ou vales-promoção, por favor, nos procure: info@videoforum.tv. Também oferecemos exibições fechadas para empresas e organizações seguidas de debates com a participação da diretora (eu!) e líderes comunitários. Várias organizações têm nos procurado, pois o filme serve como ferramenta educacional e de capacitação, além de ser uma obra informativa e de entretenimento. Se alguém quiser mais informações, meu e-mail é: daniela@videoforum.tv
Obrigada!!


Assista aqui o trailer de Meu Brasil

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quinta-feira, 30 de outubro de 2008



Shalom!
O Papo de hoje é com Vice Presidente Executivo da Federação Israelita de São Paulo:
Ricardo Berkiensztat.

PIT - Olá Ricardo bem vindo ao Papo em Comunidade! Atualmente você é o vice-presidente executivo da Federação Israelita de São Paulo e participa também de outras instituições judaicas. Como começou seu trabalho comunitário?
RB
- Iniciei minhas atividades comunitárias no Movimento Juvenil Netzah Israel, onde fui madrich e participei da Diretoria. Fui um dos coordenadores do Conselho Juvenil Sionista e, através deste, fui convidado a participar da Diretoria da Fisesp na gestão do presidente Jayme Bobrow. É importante ressaltar que meu avô, Carol Goldenstein foi um grande ativista comunitário tendo participado de inúmeras entidades de nossa comunidade.

PIT - Dentre os projetos que você realizou na FISESP o que foi mais gratificante?
RB -
Sempre digo que o grande projeto que participei foi a Marcha da Vida. Tive a honra de ser o primeiro madrich da Marcha da Vida na Polônia e em Israel em 1992. Ajudei a criar a Marcha da Vida Regional em 1993 e hoje vemos este projeto massificado com a participação das escolas judaicas através do apoio do Fundo Comunitário e a certeza que o Holocausto jamais será esquecido pelas novas gerações impossibilitando revisionistas de atentarem contra a memória de nossos mártires.

PIT - Qual o maior desafio para a Federação?
RB -
Como sempre digo, ser judeu nunca é monótono. Cada dia temos um novo desafio. Vencer a batalha da informação em relação a Israel é um grande desafio, bem como termos uma representação correta de nossa comunidade perante as autoridades públicas. A Federação passa por um momento de transformação, com mudança estatutária e de gestão. Estamos incrementando ainda mais a profissionalização da entidade e esperamos que as demais, que ainda não iniciaram este processo, sigam o mesmo caminho. Outro grande e perene desafio é o de viabilizar financeiramente todos os projetos que julgamos fundamentais para a comunidade.

PIT - Qual a importância do relacionamento da Federação com os políticos brasileiros?
RB -
O principal papel da Federação é o de ser o interlocutor da comunidade judaica do Estado de São Paulo com os poderes constituídos. Temos excelente relações com o Governo do Estado, com as Prefeituras Municipais, poderes legislativos e Judiciário, além das ONGs que militam em nosso Estado. A comunidade judaica contribui e muito com a sociedade maior invocando um dos pilares de nosso povo que é a Tzedacá, Justiça Social.

PIT - É importante a comunidade ter um representante dentro da política nacional?
RB -
Ter pessoas identificadas com a sua causa é sempre muito importante. Nem sempre o melhor representante é aquele que veio do seio da comunidade. Temos grandes parceiros que atuam lado a lado conosco na busca de bens comuns. Na última eleição para a Câmara Municipal de São Paulo, tivemos o privilégio de termos entre os eleitos grandes amigos de nossa comunidade e membros efetivos como Floriano Pesaro e Gilberto Natalini. A vereadora de Santo André, Dina Zakcer foi eleita vice-prefeita da cidade e o nosso grande amigo Israel Zekcer será vereador em Santo André. Portanto, é fundamental termos este nível de representação.

PIT - Como você vê a comunidade judaica brasileira atualmente?
RB -
Existe um grande movimento de retorno dos judeus às suas origens. Os pequenos ishuvim sofrem mais com a assimilação e a falta de recursos financeiros e humanos para terem uma vida judaica plena e satisfatória. Creio que as comunidades maiores como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre podem, através da CONIB, colaborarem mais com seus irmãos menores. Quanto à participação política, a CONIB nos representa muito bem obtendo o respeito da sociedade civil e fazendo valer o seu papel de entidade teto da comunidade judaica brasileira.

PIT - Para você qual a importância da Hasbará no Brasil? Como é possível ver os resultados?
RB -
Vejo pessoas bem intencionadas fazendo Hasbará. Falta uma estrutura mais centralizada, canalizando o potencial de todas estas pessoas para obter um resultado melhor. A Hasbará é um instrumento importante na defesa do Estado de Israel. Cito alguns bons projetos nesta área como o site “De olho na Mídia”, criado sob o apoio da Federação Israelita e os portais de Internet “Pletz” e “Net Judaica”, que muito difundem notícias de Israel.

PIT - O que você gostaria ainda de realizar?
RB -
Muita coisa. Creio que estamos apenas iniciando um trabalho. Gostaria de ver a comunidade mais organizada, como entidades estabilizadas financeiramente e vejo a necessidade de uma maior aproximação entre as entidades para evitar sobreposição de atividades. Outro foco permanente é aumentar nossa participação na vida de nosso Estado através de projetos conjuntos com a sociedade maior.

PIT - Muito obrigada por sua entrevista e deixe aqui o seu recado!
RB -
Peço para que cada vez mais pessoas se engajem neste trabalho e possam colaborar com a causa judaica e sionista.






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quinta-feira, 23 de outubro de 2008






Shalom,
O Papo de hoje é com uma judia de coração que se propôs a ensinar o que foi o Holocausto.
Peço a atenção de todos:
Com a palavra, Ana Parreira!

PIT - Olá Ana, bem vinda ao Papo em Comunidade!
AP -
Olá, Patrícia. Fico muito contente por este espaço.

PIT - Qual a sua formação? Conte um pouco sobre você ...
AP -
Fiz o curso de Letras incompleto em Jaú, perto da cidade de Bariri, estado de SP, onde eu nasci. Depois fui para Campinas, onde fiz Publicidade e Propaganda na Puccamp, curso este que terminei na Casper Líbero em SP. Trabalhei com Mauro Salles em sua agência, e na Norton Publicidade. Ao me casar e ter o primeiro filho, retornei com meu marido a Campinas onde fiz Psicologia. Nesse tempo, trabalhei como secretária executiva bilíngüe em multinacionais e depois, como psicóloga, na CPFL, na Delegacia da Mulher e em outras. Também fui (e ainda sou) tradutora e revisora, tendo traduzido cerca de 20 títulos estrangeiros. Hoje, trabalho como psicóloga exclusivamente com dois temas (ou melhor, fatos), o assédio moral no trabalho e o ensino do Holocausto. É uma missão, mais do que um trabalho.


PIT - Quando e como começou o seu interesse em trabalhar o Holocausto?
AP -
Foi meio sem querer, algo que surgiu de meus estudos sobre assédio moral, que é uma forma de perseguição intencional, cruel e sistemática, que adoece as pessoas e que primeiro as descaracteriza, depois exclui e mata indiretamente (demissão, doenças etc.) – tentando não deixar vestígios. Nos textos, falava-se em genocídio. Fui conferir e daí comecei a estudar o Holocausto. Nunca mais parei de trabalhar este assunto, todos os dias. Com poucos recursos que tinha, eu consegui livros usados nacionais e estrangeiros, bem como filmes. Há 3 anos eu assisto a um filme por dia, leio e pesquiso tudo que posso.

PIT - Falando em assédio moral, qual a relação deste com o Holocausto?
AP -
Entendo que as práticas perversas de perseguição no assédio moral podem ser muito melhor compreendidas vendo o Holocausto. Nesse estudo, já encontrei 73 semelhanças (ou coincidências) entre as práticas de perseguição da época do nazismo e de hoje, na sociedade moderna. Mas o estudo do Holocausto em si é o que me atrai diariamente. Por que tanta perseguição aos judeus? Como no assédio moral, por que eu sou perseguido? Esta é a primeira pergunta que uma vítima de assédio faz a si mesma. Quem responde é Tim Fields, engenheiro inglês que foi muito perseguido no trabalho e fundou o site Bully Online. Ali está a pergunta "Why me?" (por que eu?). E a resposta de Tim: "Short answer. Only the best are bullied." (curto e grosso: só os bons são perseguidos). Isso me chamou muito à atenção. Assim também os judeus são perseguidos por uma série de razões que apontam para o mesmo centro: são muito bons e muito esforçados no que fazem. Primam pela excelência, gostam de estudar, se refazem e se reconstroem do nada (veja o exemplo de muitos sobreviventes). Outra coisa. Uma vítima de assédio às vezes é perseguida porque simplesmente está bem consigo mesma. Isso causa insegurança, por exemplo, a um superior que não tem certeza sobre si mesmo. Causa inveja. Sabemos que a inveja é o ódio de si mesmo, projetado no Outro. Um alvo de assédio, tal como os judeus, é o Outro. Os judeus são felizes da forma como são, não precisam mudar nada em suas tradições, de maneira geral. Esse é o ponto. Veja o filme "A Guerra do Fogo". Um bom funcionário, qualificado e esforçado, faz o seu próprio fogo. Os judeus também fazem o seu próprio fogo. Mas há os que preferem roubar o fogo, a tentar esforçar-se por atritar as pedras e conseguir luz própria. Então, tentam ter luz – fogo – roubando-a dos outros e ainda destruindo-os, para não lhes fazer sombra. Acho que é isso que acontece aos judeus há milênios. A perseguição ao ATO DE PENSAR POR SI MESMOS.

PIT - Você é autora de "Assédio Moral - Um Manual de Sobrevivência". Conte-nos um pouco deste livro...
AP -
Ah... Espero que o livro fale por si. É como um pão. Você não fala sobre o pão, você experimenta. Então, você pode dizer se é bom ou não. Tenho tido um excelente retorno desse trabalho. O livro foi feito para tentar ajudar a vítimas de assédio e aos profissionais em torno dela, pois eu passei pela experiência e não desejo a ninguém. Pode ser encontrado nas livrarias, mas se não encontrarem, quem quiser pode entra em contato comigo. A venda do livro também ajuda a continuar esse trabalho e o ensino do Holocausto. É uma forma de resistência, a mesma que você vê no levante do Gueto de Varsóvia. Se eu tiver de ser eliminada do trabalho (como fui, por assédio), prefiro morrer em pé e deixar meu recado. Foi o que eu fiz...

PIT - Para você qual a importância de se ensinar o Holocausto?
AP -
Bem, isso daria um livro. Mas por enquanto, vou citar apenas quatro motivos por que o Holocausto é importante ser conhecido.
Primeiro, o Holocausto é, para mim, o código genético do comportamento humano, da raça humana. Como diz Zygmunt Bauman (que felizmente veio pôr em palavras algo que eu não conseguia expressar), o homem contém em si as duas possibilidades, do bem e do mal. São as duas faces de uma mesma moeda. E sem revisitar o Holocausto, somos sujeitos a cometer os mesmos erros. Certamente, o Holocausto pode acontecer de novo, sim, ainda mais depois que o nazismo abriu um perigoso precedente, o maior genocídio da história da humanidade. Mas só podemos tentar evitar conhecendo os erros do passado. Não é à toa que os sobreviventes sempre estão a dizer "Para que nunca mais se repita".
Segundo, o Holocausto interessa a toda e qualquer profissão. O Holocausto é uma lição, dividida em milhares de mini-lições, para qualquer ser vivo. Amplia a visão de mundo de uma forma assustadora. Revela a força e as fragilidades do homem. Um dia, quero dar um curso sobre o Holocausto para PAIS e MÃES. Muitas mães, na época, deslumbradas com o nazismo, ou simplesmente por sobrevivência, estimularam os filhos – que seriam pessoas normais, em outras circunstâncias – e entrarem para o partido nazista e foi aí que eles se transformaram em cruéis torturadores e assassinos. Uma lástima. Eles poderiam ter sido mais felizes e também ter feito muito menos pessoas em sua volta infelizes.
Terceiro (e há muito mais motivos), o Holocausto é o único período que, de uma maneira trágica, é verdade, foi registrado passo-a-passo, inclusive pelos próprios perpetradores. Nenhum outro genocídio foi contado antes, nem pelos sobreviventes ou famílias das vítimas, nem pelos seus algozes, de maneira tão detalhada e farta em documentos como o Holocausto. Nenhuma experiência humana antes foi tão minuciosamente escrita e revelada. Se não aproveitarmos para aprender agora, significa que o homem ainda terá muito a sofrer no futuro, por ter memória curta em relação ao passado. (e olhe que o Holocausto ainda nem é passado – muitos que o experimentaram, de ambos os lados, ainda estão vivos).
E, quarto, o Holocausto ensina a destruir. Fazendo o caminho inverso, a partir desse conhecimento, podemos talvez aprender a construir, o que é muito mais difícil – porém é o melhor caminho a ser trilhado.

PIT - Você tem algum método próprio?
AP -
Eu me guio sempre pelas melhores fontes que posso encontrar, como os manuais do Teacher´s Guide, as diretrizes do Yad Vashem, do Museu do Holocausto, Simon Wiesenthal Center e outros. Dessa forma, ensinava o Holocausto sempre desde o início, começando pela ascensão do nazismo e chegando até o dia da libertação pelos Aliados. Mas, com o tempo, pensei em começar a mostrar o Holocausto (e a II Guerra Mundial) de trás para diante. Mostrar primeiro as cidades destruídas, a Europa inteira destruída, o resultado do genocídio alastrado como uma epidemia, as infinitas práticas sutis e perversas antes da "solução final", as mortes com que foram "premiados" tantos oficiais alemães que foram eliminados por capricho, ao menor sinal de insatisfação do "Führer", como era difícil a vida durante a guerra e durante o Holocausto, dentro ou fora dos campos de concentração. O medo constante, a fome, os bombardeios, as doenças, as deportações. Depois, sim, ir voltando no tempo. Não para justificar, mas para simplesmente ver como aconteceu. Além disso, eu faço uma pesquisa de rua para ver o que as pessoas sabem e/ou pensam sobre o Holocausto. É a partir das respostas eu vou reformulando a forma como introduzir essas questões em um curso. Eu não sou historiadora e o meu não é um curso de História, e sim, uma forma de pessoas comuns reavaliarem sua própria responsabilidade em cada mínimo ato do cotidiano. Muitas execuções de pessoas inocentes começaram, por exemplo, com uma simples fofoca ou denúncia de um vizinho.

PIT - Você teve ou tem resistência por parte de pessoas/instituições em tratar deste assunto?
AP -
Tive várias, inesperadas e as mais diversas. Mas tudo tem sido um aprendizado. Algumas são bem sutis, mas visíveis para quem estuda o Holocausto. Elas vão desde portas fechadas de algumas escolas até a falta de resposta para meus pedidos de apoio. Eu não posso continuar esse trabalho sozinha, pelo menos não como ele deveria ser feito. Elas também vão desde manifestações explícitas de irritação até polidas respostas de que "vão estudar o assunto" e tudo cai num vazio. Eu hoje faço parte da Comissão de Direitos Humanos da OAB-Campinas, mesmo não sendo advogada, e ali fui para introduzir as causas do assédio moral e do Holocausto. Tive uma boa acolhida e pude fazer amigos na comissão, alguns já até fizeram um curso de Holocausto comigo. Outros já foram comigo a celebrações sobre o Holocausto, pela primeira vez, e isso os tornou mais sensíveis ao assunto. Eu não tenho vínculo acadêmico e, para alguns, isso é um impedimento. Eu tenho um bom conhecimento do Holocausto (jamais o suficiente), bem como vontade de implantar um curso com um pouco mais de energia. Mas falta-me, às vezes, um simples folder. Ou meios de divulgar. Ou um computador mais atualizado. Sou como aquele homem da periferia que resolveu montar um cinema na garagem de sua casa, com material feito de sucata, e conseguiu. Penso que também vou conseguir e por isso continuo. Enquanto isso, os neo-nazistas são patrocinados, apoiados e incentivados. Então, o tempo perdido de um lado, e o tempo cada vez mais bem aproveitado pelos neo-nazistas, isso já é capaz mostrar a situação qual é, ou seja: a intolerância ainda tem mais espaço do que a boa vontade de alguns para combatê-la. Mas isso faz parte.

PIT - O que você acha daqueles que negam a existência do Holocausto?
AP -
Acho uma perda de tempo – deles e de nós que sabemos ser isso verdade. Mas como, felizmente, tem muita gente boa perdendo seu precioso tempo, obrigatoriamente, para refutar os "negacionistas" ou "revisionistas", concentro-me no ensino do Holocausto em si. Em todo caso, tenho certa pena dos que preferem fazer o papel de tolos e sair por aí fazendo discursos sobre a não existência do Holocausto, pois imagino que estes, no período nazista, também não seriam poupados. A qualquer escorregadela que dessem, também seriam executados por "traição". Enfim, ser tolo também é uma escolha do ser humano e alguns querem ir por esse caminho.

PIT - Qual a sua relação com o judaísmo?
AP -
Minha relação com o judaísmo, hoje, é de encantamento, de tímida e prazerosa aproximação. Lá no fundo, eu sinto que é um encantamento definitivo, para o resto da vida. Fui criada na religião católica, quando era menina. Fui procurar outras religiões e fiquei muito tempo no budismo, que respeito bastante, inclusive conheci de perto o Dalai Lama, um homem santo. Mas também ali não era exatamente o meu lugar. Eu tenho uma imagem, como se fosse um sobrevivente de um campo, e conseguisse retornar à sua aldeia depois de muitos anos, e saísse a caminhar pelas ruas tentando reconhecer o lugar em que viveu no passado. Então via uma casa, e outra, e pensava: Será que esta é a minha casa? Mas uma atrás da outra, cada religião que eu procurava não era o meu lar, "my home". Nesse sentido, eu já estava me habituando a ser uma "homeless" - e isso me inquietava um pouco. Até que penso ter encontrado a casa verdadeira (o judaísmo), porém ela está ocupada e seus habitantes não me reconhecem o que, dadas as circunstâncias, acho natural. Mas só de localizar a casa já fico muito feliz. Se eu tivesse conhecido o judaísmo quando pequena teria sido muito bom. Mas fui conhecer só agora, então estou aprendendo. Faço um curso sobre o Shabbat, e guardo – como posso – o Shabbat e outros feriados judaicos. Mas ainda não tenho acesso a nenhuma sinagoga. Muitos amigos judeus de São Paulo, Rio e até João Pessoa me dão dicas. Eles me mandam textos, ensinam sobre os costumes, práticas e expressões. Assisto muitos filmes. Leio muito. Sei recitar o Kaddish e cantar Hatikvah. O primeiro dia em que eu ouvi o hino de Israel foi uma celebração. E um dia muito feliz foi o dia em que consegui adquirir uma mezuzah e a coloquei em minha porta. Um amigo me deu a Siddur, e um dia eu ainda quero ter uma Torah para ler em casa, mesmo se não puder freqüentar uma sinagoga por enquanto (estou em Campinas). Mas isso tudo é muito recente. Eu ainda tenho muito que aprender.

PIT - Você chegou a pesquisar sobre o seu sobrenome?
AP -
Bom, meu tio avô, Alceu Martins Parreira, que era presidente do extinto IBC em Santos, costumava viajar e pesquisar sobre nossa família Parreira. Ele me enviou várias cartas, antes de falecer, contando que minha família materna "começou" em 1540, em Angra do Heroísmo, nos Açores, com um sujeito chamado Antão Martins Parreira. Na época, eu não liguei esse fato com nada. Mas hoje, sabendo que os judeus em Portugal foram forçados a se converterem, eu fico imaginando que esta seja uma pista do que pode nos ter acontecido. Pois nenhuma família "começa" do nada. Há outras pistas também sobre meus antepassados, de sobrenome europeu, que teriam vindo para o Brasil entrando por Minas ou Goiás, e lá tiveram ou trabalharam em uma fazenda. Ainda estou pesquisando, embora sejam pistas muito vagas. Mas no fundo, eu fico feliz por imaginar que sou judia – e me sinto judia desde essas descobertas.

PIT - O que você gostaria ainda de realizar?
AP -
Tudo gira em torno do estudo e da transmissão do Holocausto hoje. Eu gostaria de poder montar um curso de um ano e outros cursos menores, sem tanta dificuldade. Gostaria de poder visitar, sem pressa, alguns locais como Auschwitz, Lods, os museus, o Yad Vashem, o Simon Wiesenthal Center em Viena, ou na Argentina. Tenho já uma pequena rede de pessoas que, com o meu trabalho, acabaram por se interessar pelo Holocausto e algumas, possivelmente, até iriam comigo e eu gostaria de guiá-las numa viagem depois. Desde adultos até jovens. Uma de minhas primeiras alunas de um curso de Holocausto que eu dei tem 17 anos e quer ser historiadora. Ela me acompanha em tudo, até hoje. Eu lhe dou livros para ler e ela gosta muito. Ela trouxe uma colega, também com 17 anos, que trouxe o pai, um professor de matemática. Eu os levei na Jornada do Holocausto, que foi feita pelo LEER-USP em São Paulo. Acho que este é um dever e um prazer. Também gostaria de traduzir livros e textos sobre Holocausto para o português. De ter uma coluna em um site sobre Holocausto e de fazer, quem sabe, meu próprio site. Mas, principalmente, eu sonho em montar um curso sobre o Holocausto, como falei, para pais, mães e professores – bem como cursos dentro de algumas empresas. Acontecerá, quando eu tiver o devido apoio para isso. Por enquanto, dou alguns cursos pequenos (dois dias) em um conjunto no meu prédio, para poucas pessoas.

PIT - Ana, obrigada por sua entrevista e deixe aqui o seu recado.
AP - Eu é que agradeço pela oportunidade de mostrar o meu trabalho à comunidade judaica e a outros. O recado que eu deixo se resume em uma frase já conhecida, "Tikum Olam": torne o mundo melhor do que estava quando você o encontrou.
Quem quiser ser um apoiador deste trabalho pode entrar em contato: anaparreira@uol.com.br – telefones: 19 – 3235.1815 ou 9185.0015
Shalom!



Ana Parreira e o artista plástico alemão Horst Hoheisel, que faz monumentos sobre o Holocausto





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