quinta-feira, 29 de maio de 2008


Shalom!

O Papo de hoje é com alguém que não vive sem escrever e seus textos já lhe renderam vários prêmios.

Com vocês a escritora Miriam Halfim!

PIT - Advogada, pesquisadora e escritora. Como podemos definir Miriam Halfim?
MH -
Já estive professora; voltei a ser, para jovens carentes. Acabo de colocar um filho de porteiro na UERJ através de esforço dele e aulas particulares (minhas) gratuitas. Vi, com emoção, o jovem aprender a concatenar idéias numa redação, a compreender e criticar textos que lia, a abrir os olhos para a Educação e um futuro melhor. Até quando lido com gente estou pesquisando. Pesquiso sempre. O mestrado em Literatura Inglesa aprimorou a curiosidade infindável que sinto pela cultura em geral e por gente. A leitura sem fim acabou escorrendo por entre os poros. Escrever transformou-se numa necessidade espiritual. Não vivo sem escrever todos os dias, mesmo que uma linha de algum texto em andamento.


PIT - Quando surgiu este interesse em escrever?
MH -
Desde bem pequena, meu avô materno lia histórias para mim, geralmente de cunho judaicas, que era o que ele conhecia e amava. Crescendo, abri o leque de opções e li tudo que me caía às mãos, até me especializar na literatura inglesa, uma paixão na universidade. Sem esquecer as outras literaturas, que continuo ávida por livros. Ensinava meus alunos a lerem 50 páginas por dia. Faço igual. Mesmo assim, é certo que não se consegue ler 10% do que vale a pena, em toda uma vida.


PIT - "Senhora de Engenho, Entre a Cruz e a Torá", ganhou o primeiro lugar do Prêmio Literário da cidade do Recife, em 2004. Conte para nós como surgiu a idéia deste livro e qual foi sua reação com este prêmio? Por que você decidiu escrevê-lo como texto teatral?
MH -
O teatro está no sangue. Morei e acompanhei a carreira de minha tia Berta Loran, uma mulher incansável, ativa e bem humorada aos 82 anos. Escrevo teatro, mas também contos. E transformo teatro em romance ou conto, e vice-versa, um exercício que aprendi com um ex-professor. Fiquei feliz com o prêmio do Recife, aliás, o quarto que recebi de Pernambuco. Os outros 3 foram segundo e terceiro lugares. Vale dizer que Pernambuco é o berço dos marranos no Brasil. Branca Dias e sua família viveram mesmo no Recife, em meados do século XVI. A colônia era a mais importante do país e até a saída dos holandeses floresceu com vigor. Como o estado possui um belo arquivo histórico, e uma crônica encantadora, busquei lá inspiração para alguns textos. Senhora de Engenho fluiu como teatro e deu certo. Como Ana de Ferro, Bento Teixeira e Empinando Papagaio (este é sobre meninos de rua, o único que não se liga a Pernambuco, mas ao país como um todo).


PIT - Você tem vários textos teatrais. Você acha que o texto representado é mais difundido e melhor compreendido entre as pessoas?
MH -
Tenho mais de 30 textos teatrais. Oito premiados (primeiro lugar e/ou outras classificações) e quatro encenados. Um texto teatral deve fazer rir ou chorar, aprendi com João Bethencourt. Um texto que deixa o espectador sair do teatro como entrou não vale a pena. O problema é que o teatro depende de valores maiores que um romance editado. Por outro lado, o teatro atualiza a experiência da folha de papel. Você vê a cena, assiste ao conflito, e num espaço curto de tempo, se comparado ao tempo de leitura. O que não afasta o valor de um bom livro. Ler um bom livro é essencial. Assistir a um bom teatro é igualmente importante. É a sofisticação da cultura.


PIT - Suas temáticas geralmente abordam situações judaicas. Por que esta escolha, você acha que este é um “terreno fértil”?
MH -
Eu escrevo sobre costumes em geral. Tenho várias peças de temas judaicos (é meu terreno, no qual piso diariamente), alguns textos sobre lésbicas e gays, outros sobre prostituição, sobre velhice, infância, sobre negros, sobre qualquer coisa que me atraia a atenção. Meu mestre de drama dizia que eu escrevia com compaixão pela miséria humana. Observo pessoas e as idéias vêm. Só se escreve sobre o que se conhece muito bem, ou sobre o que se pesquisa profundamente. É como trabalho.


PIT - Entre os seus textos, qual deles te deu maior prazer ou orgulho de escrever? Existe um preferido?
MH -
Cada texto é um novo prazer. Por certo, a premiação de um deles traz orgulho. É como se minhas palavras ecoassem nos corações dos jurados. Não há textos preferidos, mas existem os que não "estão" definitivos. E é certo, os que são pinçados por seu valor nos dão alegria. Mauro Rasi, outro grande dramaturgo, ex-cliente e leitor de texto meu, decretou que eu seria póstuma. A idéia não é confortável, pois é melhor ver um pouco do resultado de seu trabalho em vida.


PIT - Você é sócia-titular do Pen Club. Como funciona esta associação?
MH -
O Pen Clube tem associados que são convidados e votados para fazerem parte de seu quadro. Trabalha pela liberdade de pensamento, pela valorização da Cultura, e tem em seus quadros membros da ABL e pessoas que se destacaram nas Letras e nas Artes em geral. Em janeiro de 2007, a professora Bella Jozef me telefonou dizendo que estava na hora e havia sugerido meu nome ao Pen Clube. Pediu meu currículo e exemplar de livros que eu publicara. Alguns meses após ela me ligou dizendo que meu nome havia sido aceito e eu tomei posse aos 28 de maio daquele ano. O Pen Club tem uma programação muito interessante e sempre de alto nível cultural. É um patrimônio a ser cultivado.


PIT - O que podemos esperar de novidade?
MH -
Estou fazendo pesquisas há um ano, mas aprendi com meu falecido mestre João Bethencourt a não falar sobre uma peça antes de terminar a primeira versão, pelo menos. E pretendo montar uma peça muito em breve. E como o que o homem realmente deseja, nada impede de acontecer, é só esperar.


PIT - Muito obrigada por suas palavras e deixe aqui seu recado!
MH -
O orgulho de pertencer ao povo judeu vem da certeza de fazer parte de uma nação ligada ao Humanismo, à Educação, ao respeito pelo outro. Por isso, mesmo que algum judeu me desiluda, o Judaísmo sempre me encantará. Shalom.


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quinta-feira, 22 de maio de 2008


Shalom!

Um jovem jornalista que saiu de São Paulo para viver em Israel e hoje trabalha como correspondente de vários veículos.

Com a palavra, Gabriel Toueg!

PIT - Olá Gabriel! Muito legal conversar com você aqui no Papo em Comunidade!
GT
- Obrigado e parabéns pelo blog, está bem bacana!


PIT - Para começar.. Apresente-se!
GT
- Apresentar-me? Tarefa difícil falar de si mesmo..! Vamos lá! Sou jornalista, tenho 29 anos e meio (o "meio" é coisa de israelense, aqui a idade se mede de seis em seis meses!) e vivo há quase quatro anos em Israel. Estou em Tel Aviv desde junho do ano passado, e antes morei em Jerusalém por três anos. Meu pai também está em Israel, há menos tempo, com o meu irmão de seis anos (e meio!) Minha mãe e minha irmã (que estuda Medicina em Campinas e termina no fim deste ano) moram no Brasil. Sou apaixonado pelo jornalismo (é mais certo dizer isso do que simplesmente que "sou jornalista"!) e trabalho "na área" há bem mais de dez anos. No Brasil, fiz várias coisas relacionadas - assessoria de imprensa, reportagem, edição... E trabalhei na imprensa judaica - no melhor e no pior da imprensa judaica brasileira... Hoje faço frilas para vários veículos na imprensa brasileira e sou correspondente da Rede Eldorado de rádio. Na imprensa judaica, escrevo para a Dezoito, do Centro da Cultura Judaica. Aqui em Israel trabalho há menos de um mês na empresa que toca os canais Viva, que exibe telenovelas brasileiras e de outros países latino-americanos. Sou o sub-editor de um site bem bacana que vai ser lançado nos próximos meses.

PIT – Falando em imprensa judaica, você foi editor da revista Aleinu. Uma revista jovem voltada para a comunidade judaica, que infelizmente acabou. Você pensa em algum dia voltar a fazê-la ou algum outro tipo de veículo de comunicação?
GT
- Fui não apenas o editor, mas o criador - junto com um amigo, que era meu sócio à época - e o financiador daquela brincadeira de gente grande. Quis fazer algo que não existia e não existe (e, na minha opinião, nunca vai existir!) na comunidade - um veículo sério, mas com um tom informal, voltado para os jovens judeus brasileiros. A idéia inicial não foi minha. Mas eu trabalhei bastante, com várias outras pessoas (quando eu lancei o primeiro e único número impresso, em dezembro de 2000, cerca de cem pessoas colaboravam, em várias cidades do Brasil, em Israel e em várias partes do mundo, escrevendo, desenhando etc). A revista em papel acabou rápido porque eu não tinha fôlego financeiro para dar a ela a continuidade que merecia e porque não achei patrocinadores dentro da comunidade - é difícil conseguir fazer um veículo sério com apoio se você não está disposto a fazer fofoca e contar quem casou com quem, quem fez barmitzvá ou quem nasceu. E essa não era a minha idéia. A revista foi muito bem aceita. Eu costumava dizer que ela recebeu muito verbo e pouca verba. Como sou um idealista incansável nas coisas em que acredito, continuei com a versão virtual da revista por mais alguns anos, até fazer aliá. Hoje não penso mais em retomar essa idéia - me frustrei muito com a forma como tudo aconteceu mas não mudaria minha disposição de fazer um veículo sério só para conseguir um patrocinador que exigisse propagandas pessoais e fofocas. Prefiro me dedicar hoje a veículos fora da comunidade, que é o que venho fazendo, daqui de Israel, como correspondente, praticamente desde que cheguei.

PIT - De São Paulo para Israel. O que te levou a fazer aliá? O que você diria para quem pensa em morar em Israel?
GT
- Eu diria o que digo sempre: "pense mil vezes antes". Já cheguei a acreditar que todo judeu deveria morar em Israel. Esse pensamento, contudo, mudou depois que eu mesmo me mudei para cá. Israel não serve para todos. O estilo de vida aqui é bem diferente do que levamos no Brasil e é um erro acreditar que a cultura judaica e a cultura israelense são a mesma coisa - não são nem de longe! Viver em Israel significa abrir mão de muitas coisas que podem ser importantes e até essenciais na vida de uma pessoa, como o idioma, a cultura, a comida e principalmente as pessoas. Pode ser, claro, a realização de um sonho, de um ideal. Eu fiz aliá por sionismo acima de tudo. Acho que se não for dessa maneira, melhor não fazer. Já vi muita gente voltando porque não era bem o que imaginava para si ou porque foi ludibriado pelo departamento de aliá da Agência Judaica. Na semana passada eu recebi uma propaganda de um programa deles. No email, aparecia algo como "a sua oportunidade de mudar de vida". Eles vendem Israel como se vendessem um apartamento em um condomínio de luxo! Não pode dar certo...! E o resultado é óbvio: gente frustrada e que volta correndo pro Brasil. Dos 12 brasileiros que vieram comigo, oito já estão de volta... Tenho certeza de que muita gente na Sochnut vai desgostar da minha teoria, mas essa é uma das vantagens de viver em um país absolutamente livre...

PIT - Você trabalha no Arutz Viva, que leva as novelas latino-americanas para Israel. Como é a recepção das novelas brasileiras pelos israelenses? O que você ouve as pessoas comentarem?
GT
- As novelas brasileiras (e, na verdade, quase tudo que é brasileiro!) têm muito boa aceitação aqui. Quando eu morei em um kibutz, antes de fazer aliá, durante seis meses, a diretora do ulpan me perguntava qual era o final da novela brasileira que estava no ar - nem me lembro mais qual era... A cultura latina, de forma geral, provoca certo fascínio entre os israelenses. Temos fama de "calientes" e a fama tem muito a ver com isso. Muitos israelenses aprendem português e espanhol acompanhando as novelas! Ah, vale dizer que muitos israelenses (e muitos árabes em Israel, principalmente!) torcem pelo Brasil nas Copas!


PIT - Além deste trabalho você é correspondente da rede Eldorado. Você já passou por alguma saia justa? Qual a maior dificuldade de um correspondente?
GT
- Saia justa? Não passei por saias justas, mas já tive algumas "aventuras", como durante a Segunda Guerra do Líbano. Eu ainda não trabalhava para a Eldorado formalmente, mas fiz na época alguns boletins para eles. Em uma ocasião, estava em Sha'ar Yishuv, um local muito próximo da fronteira. Estava conversando com jovens de lá, perguntando a eles se não tinham medo etc. Eles, fumando narguila, fazendo piada de toda aquela situação... De repente, o apito característico de quando um projétil está a caminho e um estrondo. Mesmo eles, que se diziam acostumados, ficaram visivelmente assustados e saíram correndo para os abrigos que têm em casa. Em vez de entrar em um abrigo, corri para um lugar alto, liguei para a rádio e entrei ao vivo. Coisas assim, essa adrenalina e a sensação de poder, com apenas um telefone, dar a sensação do que estou vivendo é o que me estimula mais no jornalismo! E a rádio é o único veículo que permite essa velocidade - nem a internet, que alcança mais lugares, é tão rápida, porque um texto precisa ser escrito antes de ser publicado, enquanto o rádio permite o improviso ao vivo. Dificuldades de ser correspondente? Eu diria que é difícil ser correspondente brasileiro e fazer as pessoas entenderem que também o nosso país tropical tem importância no mundo. Duas coisas aí - uma é uma pergunta recorrente que eu ouço de gente que fica sabendo do meu trabalho: "Mas interessa para os brasileiros o que acontece em Israel?" A segunda, uma falta de interesse entre porta-vozes de ajudar a realização do meu trabalho. Já perdi uma entrevista com o Shimon Peres porque a assessoria não julgou importante que o presidente falasse à imprensa brasileira. E uma vez fui chutado de um local onde estava fazendo uma reportagem porque no mesmo dia o assessor de imprensa da Sochnut tinha levado um grupo de jornalistas norte-americanos e não queria ver um sujeito que não tem a mesma importância que eles... Coisas assim!


PIT - Você participou da Marcha da Vida. Como foi a experiência? O que você acha deste projeto?
GT -
Acabei de voltar da Polônia, para cobrir para a revista Dezoito a participação dos jovens brasileiros de escolas judaicas na Marcha da Vida. Infelizmente, porque tenho uma porção de outros compromissos, não pude participar de toda a experiência da Marcha e não estive em lugares simbólicos como Treblinka ou Majdanek. Pretendo voltar. A verdade é que essa viagem deveria ser feita por cada ser humano para entender a dimensão do horror. O que mais me impressionou quando visitei Auschwitz e Birkenau foi a forma industrial e metódica desenvolvida pelos nazistas para matar. A imagem que mais me marcou, acho, foi a de uma sala no que hoje é o museu de Auschwitz onde estão conservados os fios de cabelo cortados dos prisioneiros que chegavam ao local - uma montanha imensa de cabelos, de cores diferentes, com tranças... Fiquei estático diante daquilo e muito comovido. Fiquei, na verdade, impressionado com a forma como os nazistas tiravam dos seres humanos tudo que diferenciava um do outro - dos cabelos aos pertences (sapatos, óculos, malas etc). Acho o projeto de levar jovens de 16, 17 anos para a Polônia admirável. Nenhuma aula, nenhum curso - por mais completo e extenso que seja - pode dar a dimensão que essa visita dá sobre o Holocausto. E na verdade o que vi nesse ano especial do evento - o vigésimo desde a criação - foi como sobrevivemos (como seres humanos, mais que como judeus) ao horror. Foi muito marcante reparar como aqueles jovens muitos deles netos de sobreviventes, voltaram cheios de vida e caminharam para lembrar e mostrar que nem o Holocausto conseguiu acabar com o judaísmo, apesar de ter sim feito um estrago imenso.

PIT - Sobre a situação de Israel, como os jovens israelenses vêem o conflito, a violência? Em sua opinião é mais seguro viver no Brasil ou em Israel?
GT -
Sem dúvida é mais seguro, bem mais seguro, viver em Israel. Quem disser que aqui não existe criminalidade é ingênuo ou mentiroso. Há, sim. Duas pessoas que eu conheço tiveram as casas invadidas e objetos roubados. Eu mesmo já fui roubado em Jerusalém. Mas nada se compara com a sensação que existe no Brasil de que devemos viver atrás de grades ou dentro de carros blindados para parecer que estamos seguros. Uso sempre um exemplo para ilustrar a situação no Brasil. Minha mãe e minha irmã moram em Campinas (que não é grande nem tem a criminalidade de São Paulo) em uma casa grande, em que outras onze estudantes de faculdades também vivem. Quando elas precisam entrar ou sair e está escuro, têm antes que ligar para uma empresa de segurança que envia uma viatura e espera até que tudo esteja trancado. Quem acha isso normal (e a maioria dos brasileiros já se acostumou com situações assim) tem um sério problema. Em Israel isso não existe. Pode ser que exista, sim. Mas hoje eu me sinto muito mais seguro aqui do que no Brasil. Quando estive em 2006 em São Paulo, pela primeira vez depois de fazer aliá, depois de um ano e meio morando em Israel, tive medo de andar na rua, de tomar ônibus. A gente só se dá conta da dimensão dos riscos quando se afasta deles e tem novas referências. Tenho muita saudade do Brasil e gostaria que meus filhos crescessem onde eu mesmo cresci. Mas tenho medo de criar filhos em uma realidade dessas. Com relação aos jovens israelenses, é difícil dizer como eles vêm o conflito e a violência de uma forma geral. Embora os israelenses sejam muito ligados ao que acontece por aqui (e isso é compreensível porque todos vão para o Exército, todos conhecem alguém que morreu em algum atentado...), existe muita gente apática. Essa apatia, no meu ver, é resultado em grande parte da pressão que a situação acaba exercendo sobre as pessoas. O israelense não agüenta mais ouvir sobre conflito, terrorismo, coisas assim. Coloca numa panela um país pequeniníssimo, cercado de inimigos, riscos enormes à existência e tudo isso em um período de tempo curtíssimo. O resultado não pode ser outro. É por isso que Israel é recordista em número de acidentes de trânsito, por exemplo.


PIT - Super obrigada por sua entrevista e deixe seu recado! O espaço é seu!
GT –
Obrigado pela oportunidade. Aproveito para desejar a você feliz aniversário. Quanto ao meu recado, acho que já dei, né?


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quinta-feira, 15 de maio de 2008


Shalom!

A circuncisão marca a aliança do povo judeu com D-us, mas além da questão religiosa, ela traz muitos benefícios à saúde. Para esclarecer melhor o assunto, o Papo de hoje é com o mohel e urologista Dr. Paulo Gabriel.

PIT - Olá Dr. Paulo bem vindo ao Papo em Comunidade!
PG -
Obrigado Patrícia, é um prazer ser novamente entrevistado por você!


PIT - Você além de urologista é mohel. Qual a função e importância do mohel? É necessário ser médico?
PG
- Mohel é um judeu, perito nas leis e técnicas da circuncisão, ao mesmo tempo, um judeu praticante e cumpridor das leis, não necessariamente um médico. Porém o fato de ser médico e urologista permite ao mohel tranqüilidade para prevenir, identificar e corrigir possíveis complicações relacionadas à circuncisão. O mohel é muito importante, uma vez que ele realiza a mais importante das mitsvot juntas, que é o brit-milah, a iniciação do judeu do sexo masculino, na qualidade de integrante pleno do povo judeu, em obediência ao segundo dos 613 mandamentos da Torah.


PIT - Como surgiu seu interesse por este assunto?
PG -
O interesse pelo brit-milah, a fé, a minha religiosidade a minha freqüência na sinagoga no minian, pela continuidade do povo judeu, associados ao fato de ser cirurgião e urologista me despertaram o desejo de ser mohel.


PIT - No judaísmo a circuncisão chama-se Brit Milá. Qual a diferença do brit e da milá?
PG
- Brit-milah significa aliança da carne ou pacto da circuncisão ou corte.
Brit é a aliança (as rezas,os rituais) milah é o corte propriamente dito.

PIT - Qual o fundamento religioso da circuncisão?
PG
- É o selo da aliança, através do qual reconhecemos Deus e nos comprometemos com sua palavra e seus mandamentos, desta forma nos tornamos sagrados e recebemos suas promessas de vida e fertilidade.
E nos conectamos com a corrente que une virtualmente todos os homens judeus desde Avraham Avinu até nosso filho.


PIT - Quais os benefícios da circuncisão?
PG -
A circuncisão nos oferece muitos benefícios:
a - praticamente elimina a chance do aparecimento do câncer de Pênis,
quando é realizada no recém-nato.
b - crianças circuncidadas têm 20 vezes menos chances de desenvolver
infecção do trato urinário do que as não circuncidadas.
c - ajuda a proteger contra infecções fúngicas, bacterianas ou parasitárias.
d- impede o aparecimento de parafimose e fimose .
e -Homens NÃO circuncidados tem 4 vezes mais chance de tornar-se
soropositivo (HIV) e 2 vezes e meia mais chances de desenvolverem
úlceras genitais do que homens circuncidados .
f - diminui a incidência de câncer de colo de útero em mulheres de
homens circuncidados .
g - diminui a incidência de dano ("estourar") ao preservativo durante a
relação sexual .

PIT - Há alguma idade ideal para se fazer a circuncisão?
PG
- Caso a circuncisão não tenha sido realizada no recém-nato, os casos
devem ser examinados individualmente de acordo com a indicação:
a - religiosa
b - médica


PIT - Existe alguma regra para um adulto que queira fazer este tipo de cirurgia? Quais as indicações clínicas básicas para este tipo de procedimento? Existe alguma contra-indicação?
PG
- As orientações são: para adultos, exames pré-operatórios
indicações: fimose / infeçcões fúngicas de repetição ("candidíase masculina") excesso de prepúcio .
contra-indicação : diabetes descontrolada .


PIT - Você tem algum caso interessante para contar?
PG
- me lembro de uma circuncisão que a mãe e a avó disseram que estavam
muito nervosas com o brit-milah e que iriam dar uma volta no quarteirão enquanto eu fazia o bris. Eu fiz o bris, o curativo e o pai colocou o filho para dormir, fiquei conversando com o pai, e após 40 minutos elas retornam "meio de pileque", todos riram...

PIT - Muito obrigada por suas explicações e deixe aqui seu recado!
PG - Obrigado a você Patrícia. Deixo meus telefones de contato: celular: 9994-4220 e consultório: 3852-5435.





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quinta-feira, 8 de maio de 2008


Shalom!
Israel completa 60 anos. E para comemorar esta data, o Papo de hoje é com o estudioso de história judaica Paulo Geiger.


PIT - Professor, editor, historiador, conte para nós: quem é Paulo Geiger?
PG - Designer, editor de obras de referência, estudioso de história judaica, autor de artigos, professor ad hoc, fundador do CHCJ (Centro de História e Cultura Judaica) e seu consultor-geral.


PIT - Como você vê o conflito entre Judeus e Palestinos? Qual o grande empecilho para a paz?
PG - A causa original do conflito é a recusa árabe, palestina e islâmica (nessa ordem cronológica) de aceitar a existência de um minúsculo estado judaico no único lugar do mundo em que é viável. O resto é conseqüência, e conseqüência de conseqüência, formando um círculo vicioso de conflitos e beligerância, realimentando-se sempre dos fatos que, de novo, lhes são conseqüências. Só a aceitação definitiva e sincera da coexistência poderá levar à solução do conflito e a uma paz verdadeira.


PIT - Em uma carta à produção do programa Manhattan Connection, você questionou sobre a má informação passada, por eles, sobre Israel. Em sua opinião a mídia fala muita bobagem sobre Israel? Os veículos continuam pró Palestina?
PG - A mídia forma opinião, mas também tem a opinião formada, por interesse, por necessidade de público e de divulgação. A mídia tende ao maniqueísmo, à identificação de vilões e vítimas, opressor e oprimido, e não consegue filtrar nem repassar quadros complexos, em que o cinza é o predominante, e não o branco e o preto. Nessa abordagem, o vilão tradicional da história é bem conhecido, e não seria paranóia afirmar que o anti-semitismo é parte do processo e distorção na apresentação dos fatos e em sua interpretação.

PIT - Ainda falando sobre distorção da informação, na edição atual da revista Devarim*, no texto “Por Que Israel?” você fala da falta de informação que as pessoas têm e faz um apanhado sobre a história de Israel. Não seria interessante uma matéria deste tipo ser divulgada para a comunidade maior?
PG - Sem dúvida, não só uma matéria, mas toda uma estrutura de esclarecimento de fatos, sem trégua, pois existe uma verdadeira indústria de demonização de Israel em ação.


PIT - Qual a importância do Estado de Israel para o Povo Judeu?
PG - Sion sempre foi o centro do povo judeu, a terra prometida da Bíblia, o território nacional do povo judeu estabelecido, durante 1.200 anos, a meta de retorno durante 2.000 anos de dispersão (antes de existir o sionismo), o único lugar onde o povo judeu poderia exercer o moderno direito de autodeterminaçáo concedido a todos os povos. A visão política da questão judaica, que conferiu ao povo judeu o direito de ter um estado-nação, se realiza com o Estado de Israel, fundado em Sion, portanto no centro da história do povo judeu. Israel é a nação judaica institucionalizada em termos contemporâneos, o músculo do povo judeu, a continuação de sua busca de um futuro comum.


PIT - Como você vê os 60 anos de Israel? O que mudou de lá para cá? O que você espera dos 120 anos?
PG - Sessenta anos de luta pela sobrevivência enquanto se construía uma sociedade moderna, democrática, dinâmica, um estado para seus cidadãos e também para cada judeu que o queira ou necessite. As questões básicas continuam as mesmas: conseguir uma paz estável baseada na coexistência, enquanto isso ser forte para resistir às ameaças cada vez mais reais, agora reforçadas pelo elemento religioso do islamismo radical, continuar a ser uma sociedade democrática apesar das pressões da segurança, formar uma identidade ao mesmo tempo de estado moderno e de nação judaica, configurar o tipo de relação com os judeus de todo o mundo. Não são poucos os desafios para os 120anos.


PIT - Você costuma ministrar cursos no Centro de Historia e Cultura Judaica. Como é possível ter informações sobre os cursos?
PG - Simples, o telefone é 2275-7096


PIT - Qual o seu maior orgulho?
PG - Meus orgulhos são de natureza privada, familiar.


PIT - O que você gostaria ainda de realizar?
PG - Contento-me em continuar a fazer o que sempre tenho feito.


PIT - Muito obrigada por sua entrevista e deixe aqui o seu recado!
PG - O judaísmo se baseia em opções. Optar, ter a opção como objetivo, persegui-lo, estar comprometido com ele, renovar-se sempre ao longo do caminho, olhos abertos para mudar sempre que necessário, para continuar a ser o mesmo!

* Devarim é uma revista publicada pela ARI ( Associação Religiosa Israelita)

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quinta-feira, 1 de maio de 2008



Em época de Iom Hashoá (Dia do Holocausto), que nos faz refletir sobre o passado, nada melhor do que conhecer o Museu Judaico do Rio de Janeiro e bater um papo com seu presidente, Max Nahmias.

Shalom!


PIT - Max, o que você fazia antes de assumir a presidência do Museu Judaico?
MN
- Bem, sou economista de profissão, tendo começado a trabalhar com 14 anos, em uma subsidiária da Gulf Oil Corporation aqui no Rio. Depois de formado, trabalhei como administrador de empresas em várias multinacionais, chegando por último ao Citibank, N.A. onde fiz carreira e cheguei à vice-presidente do banco. Depois que me aposentei ainda fiz consultoria financeira por algum tempo.


PIT - O que te levou a ser o Presidente do Museu Judaico?
MN
- Nasci no seio de uma família tradicional judaica. Meus pais e avós são oriundos do Marrocos, de onde saíram para viver na Amazônia, no início do século XX. Desde jovem me senti atraído por tudo o que diz respeito ao judaísmo: sua história, religião, cultura, seus valores éticos e morais. Tudo isto faz parte de uma herança tão rica e abrangente que resolvi, tão logo tive condições, trabalhar em uma instituição como o Museu Judaico que tem como objetivo, divulgar, preservar e dinamizar a história, a cultura e as tradições de nosso povo. Antes participei das diretorias do Cemitério Comunal Israelita e da Sinagoga Shel Guemilut Hassadim.


PIT - Como surgiu a idéia do museu? Desde quando ele existe?
MN
- O Museu Judaico foi fundado em 1977 pelos casais Naum e Ester Kosovski, Jorge e Bela Josef e Chaim e Rosa Szwertszarf, instalando-se provisoriamente na Biblioteca Klepfisz em Copacabana, e transferindo-se depois para o Lar das Crianças Rosa Waisman, na Tijuca, onde permaneceu por três anos. Com o apoio de outros ativistas da comunidade, os fundadores engajaram-se no trabalho, para depois verificarem os meios, como nossos antepassados haviam prometido: “Fazer para depois ouvir”.

Desde 1986 o Museu está instalado na atual sede (Rua México 90, 1o. andar), cedida em comodato pela Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro. Todas as atividades são realizadas graças à participação generosa de nossa equipe de voluntários, entre eles os membros da diretoria.


PIT - O que as pessoas podem encontrar no museu?
MN
- A primeira peça do acervo foi uma menorá (candelabro de sete braços, um dos símbolos do judaísmo), réplica de uma menorá italiana do século XVIII, adquirida do antiquário e artesão José Feldman, que, nascido na Rússia em 1899, viveu no Rio de 1925 até sua morte, em 1978. Com o objetivo de que cada lar judaico tivesse uma chanukiá (candelabro de oito braços, objeto do ritual judaico usado por ocasião de Chanuká), ele passou a reproduzir estas peças. O conjunto de 69 candelabros exibidos no Museu Judaico constitui a coleção Feldman, doada pelo casal Leon e Yvone Herzog. Todas essas peças fazem parte de nossa exposição permanente.
Dentre outras peças em exposição, como quadros e esculturas, e objetos relativos ao Holocausto, como uniforme de campo de concentração e outros itens usados por prisioneiros judeus, o Museu possui uma coleção de peças arqueológicas, como moedas romanas, vasos em cerâmica e terra cota, e outros objetos de bronze do período dos patriarcas, entre 1800 e 1500 a.e.c.
O Museu Judaico possui um Departamento Áudio-visual com acervo de mais de mil e 400 vídeos, desde documentários a filmes de ficção, sobre temas que têm ligação com o povo judeu, realizando sessões regulares em sua sede e emprestando material para escolas. Também possui um Centro de Estudos sobre o Holocausto, com acervo de 300 livros, além de documentos, vídeos e depoimentos de sobreviventes.


PIT - O acervo é feito de doações? Como costuma acontecer?
MN
- Sim, o nosso acervo é constituído por doações. As pessoas que sabem da existência do Museu têm nos procurado para fazer doações de peças, objetos, quadros, livros, etc.


PIT - O Museu também faz eventos. O que você pode nos adiantar?
MN
- Realizamos, além de exposições, ciclos de palestras, exibição de filmes e lançamento de livros. Entre os eventos produzidos pelo Museu Judaico nos últimos anos, mencionamos a exposição Autores Judeus no Rio de Janeiro (1999), com a mostra de 240 livros publicados desde 1930, na Biblioteca Nacional; a exposição Anne Frank, Uma História para hoje (2000) no Museu Histórico Nacional; a exposição Vistos para a Vida, Diplomatas que Salvaram Judeus (2001), no Museu da República; exposição e palestras em lembrança ao dia do Holocausto (Iom Hashoá Uguevurá) e aos 60 anos do levante do Gueto de Varsóvia, na Academia Brasileira de Letras, em abril de 2003; exposição Os desenhos das crianças de Terezin e mesa redonda Arte e Holocausto realizada no Museu Histórico Nacional, em abril de 2004; exposição fotográfica Observances, do fotógrafo Emmanuel Santos, do acervo Judaico da Austrália, realizada no Centro de Cultura da Justiça Federal, em dezembro de 2004; exposição Janusz Korczak e mesa redonda sobre sua Vida e Obra, inaugurada na Casa de Cultura Laura Alvim, em agosto de 2005; exposição Sinagogas Alemãs com peças do acervo do Museu Judaico, inaugurada no Museu Histórico Nacional, em agosto de 2005; exposição A Fonte e mesa-redonda “O Significado da cidade de Jerusalém para o monoteísmo”, inaugurada no Museu Judaico, em abril de 2006; e por último a exposição Criptojudeus: a chama que a inquisição nunca conseguiu apagar, do acervo da Shavei Israel, realizada no Museu Judaico, em julho de 2007.

Realizamos anualmente, há nove anos, um evento ligado ao Holocausto, um concurso de redações com o tema “Carta a um sobrevivente” entre os alunos de ensino médio das escolas judaicas do Rio de Janeiro.

Nosso próximo evento será em comemoração aos 60 anos da Independência de Israel, em nossa sede. Vamos inaugurar a exposição “Israel sob os meus olhos”, composta por 40 fotografias que retratam a diversidade cultural, religiosa, gastronômica de povos de Israel. O evento ainda terá exibição de documentário e palestras por Jacob Dolinger e Didi Appelbaum.


PIT - O Museu costuma receber visitas de instituições não judaicas? Existe um programa para o conhecimento/visitação da comunidade maior?
MN
- O Museu está aberto para toda a sociedade. Recebemos visitas de estudantes, pesquisadores e do público em geral, inclusive muitos turistas judeus do mundo inteiro.


PIT - Qual o horário de funcionamento?
MN
- De segunda à quinta, das 10 às 16h e sexta, das 10 às 15h.


PIT - Qual o seu maior orgulho nestes anos frente à presidência?
MN
- Ter transformado o Museu em um pólo cultural dinâmico, de acordo com a concepção contemporânea de que os museus, enquanto instituições de memória caracterizam-se como meios de comunicação e disseminação de conhecimento, em que a tradição e a cultura são um elemento vivo e um fator de integração à comunidade. Pelo conjunto de suas atividades o Museu hoje desfruta de prestígio e elevado conceito entre as grandes instituições culturais do país.


PIT - O que você gostaria ainda de realizar?
MN
- Gostaria de conseguir uma casa para o Museu. Temos um enorme potencial de crescimento. Precisaríamos de um espaço, de pelo menos 400 m², onde pudéssemos abrigar um salão de exposição, auditório, biblioteca, etc.


PIT - Muito obrigada por seus esclarecimentos e deixe o seu recado aqui!
MN
- Obrigado a você. Visitem o Museu Judaico do Rio de Janeiro e tornem-se sócio, mais informações em http://www.museujudaico.org.br