quinta-feira, 25 de dezembro de 2008



Shalom!
Quer dica de bons livros? Que tal um passeio entre Verdes Trigos...
No Papo de hoje Henrique Chagas!

PIT - Olá Henrique, bem vindo ao Papo em Comunidade!
HC -
É uma honra me apresentar à comunidade judaica, e de falar sobre literatura e sobre o site Verdes Trigos neste seu precioso espaço. Obrigado pela oportunidade que me concede.

PIT - Você é advogado, mas se dedica à literatura. Como se deu este interesse?
HC -
Muito antes de me tornar advogado já tinha vontade de ser escritor. Na verdade sempre tive interesse pela leitura. Cresci vendo meu pai ler, ele lia muito e de tudo, tive o privilégio de aprender a ler com ele. Ensinou-me que somente o conhecimento poderia dar-nos um destino e uma vida melhor. Ainda adolescente, minhas veias literárias já saltavam através de poemas, de crônicas e de um pequeno romance inacabado. Para mim o livro mantém uma carga simbólica enorme. Foram os livros que despertaram em mim, ainda estudante, o desejo vulcânico de mudar o mundo sem armas, apenas com palavras, com letras e rimas, mesmo arriscando às atrozes conseqüências advindas do regime daqueles anos de chumbo. Queria mudar o mundo com uma prosa diferente, com palavras transformadoras, que alterassem o rumo das coisas. Por isso, independentemente da profissão que exerço o livro e a literatura tem lugar especial no meu viver.

PIT - Há muito tempo você criou o site Verdes Trigos. O que te levou a criá-lo?
HC -
Foi em novembro de 1998, quando os blógues ainda não existiam. Imaginava escrever um livro “on line” com a participação do leitor, todavia desisti da idéia, pois o processo de criação é algo solitário. O que eu pretendia era escancarar o processo criativo com a interação dos leitores. Sequer existiam os conceitos da web 2.0, mas surgia, ali, um embrião do blógue, com meus comentários sobre os livros que lia e que davam fundamentação ao meu pensar. Preferi continuar o livro off line e dei seguimento à publicação de resenhas e ensaios literários. Assim nasceu o site Verdes Trigos.

PIT - Por que o nome Verdes Trigos?
HC -
O escritor israelense Amós Oz afirmou que costuma, às manhãs, caminhar pelo deserto para captar suas vozes. Diz ele que as vozes do deserto são regalos para a sua escrita. Faz sentido porque desde menino eu ouço as vozes do vento, aprecio dias de ventania, pois o vento carrega com ele o som do primeiro dia da existência. Aquele mesmo vento, após bilhões de anos, ainda ecoa sobre nós. Desde pequeno aprendi a ouvir a voz do vento, quando criança passava horas admirando o balançar das espigas do trigo e captando o ruach criador. Diz o texto sagrado que, após a criação do mundo, o vento do Senhor pairava sobre as águas; é este o vento que me inspira a escrever.
Ao dar nome ao meu site cultural e literário, busquei inspiração no vento que balança as espigas do trigo, uma cena que carrego comigo. Como aprecio a arte de Van Gogh, associei a sua arte aos verdes trigos da minha infância, e à marca Verdes Trigos atribui conceito filosófico, que representa a esperança de um mundo melhor, que se conquista pela solidariedade, tolerância e pelo repartir do conhecimento.

PIT - Você recebe muitos livros. Você consegue ler todos?
HC -
Por conta do site Verdes Trigos http://www.verdestrigos.org/ recebo muitos livros, seja dos seus autores ou das editoras. Recebo-os, em sua maioria, acompanhados por resenhas e apresentação para que sejam incluídos no site. Por uma questão de tempo, não consigo lê-los todos como também não divulgo todos. Entretanto, dependendo do conteúdo, da abordagem, eu procuro lê-los e, se for o caso, fazer uma nota para site ou publicar uma resenha. Muitas vezes compro determinado livro, leio e o divulgo quando julgo interessante. O livro que me interessa é aquele que, além de uma ficção ou não-ficção, possui algo de perene a dizer. Livros que não dizem “nada” não me interessam. E o “nada” é a ausência de harmonia com a criação.

PIT - Qual o seu critério para divulgá-los no site?
HC -
O livro para ser divulgado no site Verdes Trigos, além de bom – na forma e no seu conteúdo - deve atender à nossa filosofia de trabalho e aos aspectos culturais que envolvem o site. Cremos que as boas idéias, bons pensamentos e os bens culturais devem ser disponibilizados socialmente, até mesmo como forma de entretenimento; é por isso que invisto tempo e dinheiro no site Verdes Trigos, cujo retorno cultural me é altamente satisfatório. Como já dito, advogo uma causa que me é muito particular: que a maior riqueza está no conhecimento, no aprendizado, na grande herança que recebi de meu pai (o desejo de sempre aprender). A mudança não acontece apenas porque achamos que é possível, mas especialmente porque nos preparamos para o futuro. No site aceitamos e instigamos a polêmica, entretanto jamais aceitamos idéias intolerantes, racistas ou desagregadoras. Essa é a nossa política. Os textos publicados devem trazer em seu bojo a busca pela completude humana, a busca pelo entendimento, pela harmonia e por um futuro melhor.

PIT - Qual o seu gênero literário e escritor preferidos?
HC -
Procuro ler um pouco de tudo, mas gosto mesmo é da literatura ficcional, com forte conteúdo histórico, sócio-político ou filosófico, seja romance ou conto. Meu autor predileto é Amós Oz, que permanece na fila de um Prêmio Nobel. Sou fã dele, cito-o constantemente. Na seqüência, não posso deixar de citar o albanês Ismail Kadaré e o contista Nathan Englander que muito me impressionou com o seu "Para Alívio dos Impulsos Insuportáveis", um livro que me foi presenteado pela escritora Noga Lubicz Sklar. Dos meus escritores brasileiros preferidos no momento peço licença para citar os gaúchos Moacyr Scliar e Alfredo Aquino.

PIT - Qual o seu livro de cabeceira?
HC -
Como leio muito, e em todo lugar, metaforicamente “na cabeceira” está hoje o livro “Tirando os sapatos”, de Nilton Bonder. E claro, desde que aprendi a ler, eu costumeiramente leio a Bíblia. Possuo várias; a última que comprei foi a “Bíblia Hebraica”, da Editora Sefer, de São Paulo.

PIT - Que livro você indicaria atualmente?
HC -
Indico os livros do Nathan Englander, os dois livros publicados no Brasil. Indico também um livro corajoso, “Carassotaque”, do gaúcho Alfredo Aquino. Estou lendo este último, é simplesmente ótimo, ele descreve as relações de poder e medo.

PIT - Qual o seu maior sonho?
HC -
Meu maior sonho é terminar de escrever e publicar um romance, cuja temática é uma reflexão sobre o sentido da existência humana, muito mais profundo que nosso sentido meramente filosófico, ao contrário, projeto nas personagens as nossas dificuldades de compreensão do sagrado e do profano. Não existem coisas sagradas e coisas profanas. Tudo é sagrado, como já dizia Djavan. Nessa busca por uma identidade, por um lugar no mundo, os personagens se esbarram com a sua inexorável pequenez frente ao universo, ao aquecimento global, à escassez de água que já se avista, embora neste mundo pós-moderno tudo seja facilitado pela tecnologia de ponta. Já adianto que o enredo passa por uma busca de identidade pessoal, que perpassa pelas ruas de Tel Aviv, pelas planícies da Galiléia e desemboca no Pontal do Paranapanema [local conflituoso], onde uma empresa israelense de exploração de água se instala. Em meio ao comércio de águas para irrigação e exportação, nossos personagens constroem o futuro. O resto é suspense.

PIT - Qual a sua relação com o Judaísmo?
HC -
Descobri que tenho raízes na cultura judaica. Meus avós são descendentes de marranos perseguidos pela inquisição portuguesa. Judeus que se converteram na marra ao catolicismo. Meu avô mudou de sobrenome em razão da perseguição. Depois desta descoberta, fui a Israel. Encantei-me com Jerusalém, senti-me como se tivesse voltado à terra dos meus ancestrais. Passei, então, a estudar o judaísmo, um judaísmo nada ortodoxo. Comecei também a estudar a língua hebraica. Assim, creio que não sou nada religioso no sentido comum, mas sou extremamente religioso no sentido ontológico da palavra. Busco sempre identificar-me com Aquele cujo nome é impronunciável, inclusive quando escrevo. Posso afirmar que minha relação com o Judaísmo é de total encantamento, não somente por acreditar que está no sangue, mas especialmente por acreditar que é possível ter uma relação de temor e amor com o Criador; que é possível viver os valores intrínsecos à cultura e religiosidade dos nossos ancestrais.

PIT - Henrique, obrigada por sua entrevista e deixe aqui o seu recado!
HC -
Obrigado pela oportunidade de estar no seu espaço, por sua generosidade.
Serei eternamente grato. Aos leitores desta entrevista, agradeço de coração e convido-os a nos acompanhar navegando em verdes trigais:
http://www.verdestrigos.org/ Que todos nós sejamos abençoados. Obrigado!








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quinta-feira, 18 de dezembro de 2008





Shalom!
Muitas famílias se perderam no Holocausto. E um homem, desde pequeno, ficou intrigado com o sumiço de seis de seus familiares. O livro “Os desaparecidos – a procura de 6 em 6 milhões de vitimas do Holocausto”, lançado agora no Brasil, retrata esta história.
Com vocês o autor norte americano Daniel Mendelsohn!


PIT - Olá Daniel um prazer tê-lo aqui no Papo em Comunidade!
DM -
Ok. Obrigado.

PIT - “Os Desaparecidos” foi best-seller não só nos EUA, mas também em outros países como França, Reino Unido, Austrália e Israel. Você esperava por isto? Qual foi sua reação ao saber de tanto sucesso?
DM -
Não esqueça da Itália! Nenhum escritor “espera” que seu livro vire um best-seller (ou qualquer outra coisa); você apenas escreve o livro e torce pelo melhor.
Eu acho que este livro teve um tremendo apelo internacional por que:
a) É uma história de família – ele remete a história de uma única família;
b) É um livro sobre como contar histórias e todos gostam de uma boa história;
c) Tem a estrutura da Odisséia junto com uma história de detetive
que é uma irresistível estrutura narrativa.
Portanto, não fico surpreso que tenha atraído tantas pessoas – estas são as narrativas que as pessoas sempre amaram, desde Homero!

PIT - Quais suas expectativas quanto ao lançamento no Brasil? Você pretende visitar o país?
DM -
Não estou familiarizado com o mercado brasileiro, portanto não posso ter expectativas – obviamente espero que agrade as pessoas que gostem de literatura em geral e também aqueles que têm um interesse particular em história familiar, história do mundo, temas judaicos e outros aspectos mais específicos do livro também.
Se eu pretendo visitar – sim eu espero!! Sempre fui muito ansioso para ir ao Brasil e esta será uma oportunidade maravilhosa. Se minha editora marcar um lançamento no Brasil, lógico que irei. (Sou um louco por praia!)

PIT - Você leu livros sobre o Holocausto para ter mais idéias sobre o assunto?
DM -
De modo algum – acho que nunca li um livro sobre Holocausto, não é um assunto que tenha me interessado. Lendo o livro você verá que não é um livro de História e na minha cabeça não é um livro sobre Holocausto. É um livro sobre família, memória de família, como as memórias são transferidas de uma geração para a outra – e de jeito nenhum é um “livro de história sobre o Holocausto”, eu nunca teria escrito um livro assim.

PIT - Como foi para você remexer em coisas e pessoas do passado para entender o presente? Como se deu a sua pesquisa?
DM -
A melhor resposta para esta pergunta está no livro...

PIT - O que mudou no seu dia a dia, na sua vida, depois do livro escrito, pronto?
DM -
Eu passei muito tempo nos aeroportos...

PIT - Em “Os Desaparecidos” você vai montando o quebra-cabeça até tudo se encaixar. Qual foi o momento ou a passagem mais importante que você pode destacar pra gente? E por quê?
DM -
Bem, obviamente o mais dramático foi o fim, quando – por acidente – eu descobri “a verdade” sobre o que aconteceu com meu tio avô, o que foi um mistério e que, após muita viagem, pareceu que nunca saberíamos realmente o que houve. Mas eu não diria que um momento foi mais importante que o outro porque, precisamente, o livro É um quebra-cabeça então cada peça é crucial para entender o todo.


PIT - Desde pequeno você ouvia histórias de seu avô sobre seu tio. Mas quando você decidiu arregaçar as mangas e começar a escrever e a investigar?
DM -
Bem, como digo na primeira parte do livro, minha infância foi realmente o início da minha obsessão pelo meu tio Shmiel e sua família – então, de uma maneira, eu escrevi este livro (ou estava pronto para escrevê-lo) toda minha vida. Porém mais especificamente, eu poderia dizer que, quando cheguei aos 40, falei para mim mesmo: “talvez agora seja finalmente a hora de descobrir o que pode ser descoberto sobre esta história”.

PIT - O romance não tem um tempo cronológico definido. Ele vai no passado e volta ao presente diversas vezes e é bem minucioso nos detalhes. Esta pode ser considerada a marca registrada da narrativa? E você pensou em escrever desta maneira por algum motivo?
DM -
A principal preocupação do livro é a narrativa e a “contação de história” – quais são os estilos e técnicas que usamos para contar histórias? Eu deixo bem claro na primeira parte do livro que a estrutura que ele seguirá é a mesma das histórias do meu avô (que tinha, como aprendi depois, a mesma “composição” usada por Homero na Ilíada e Odisséia: a história se desenvolve com freqüências de volta ao tempo para fornecer informações importantes do passado para explicar o presente) há uma lentidão no começo, com muitas informações que você não tem certeza porque estão ali, e a história começa a se mover rapidamente até, que no fim , todas as histórias, as narrativas do passado 0 que pareciam não estar conectadas com a história principal – chega junto de um jeito muito dramático. Este livro é, na minha cabeça, um livro sobre narrativa e prazeres – e perigos atraentes – de como “historias” transformam “o que aconteceu” em “ a historia do que aconteceu” – o que podem ser duas coisas muito diferentes. Neste sentido, é um livro sobre o que podemos chamar “historiografia” – o processo cuja história é escrita.

PIT - Existem vários livros, filmes, documentários sobre o Holocausto. E este assunto é sempre importante lembrar sempre que possível para não deixar que isso aconteça de novo. Como você vê a questão do anti-semitismo no mundo atualmente e qual a importância da divulgação de um livro como o seu?
DM -
Bom, as pessoas sabem muito sobre o Holocausto, e continuam deixando acontecer de novo em todo o mundo. É demais para o “poder dos livros”. Eu certamente não escreveria meu livro para mudar o mundo, como todos os escritores, eu escrevi porque tinha o livro dentro de mim. Não acho que este (ou qualquer livro) mudará o anti-semitismo, na minha experiência as pessoas que querem odiar os judeus vão achar motivos para odiá-los com ou sem livros! Se o meu livro tem “importância” eu diria que talvez seja pelo inimaginável grande evento e o estreito foco em um pequeno grupo de seis pessoas num jeito que qualquer um com um cérebro e um coração pode se conectar.
Eu recebi milhares de e-mails e cartas de pessoas de todo o mundo dizendo: “Eu li seu livro e agora eu sinto e entendo o Holocausto pela primeira vez”. Então isto talvez seja importante.

PIT - Daniel, obrigada por sua entrevista e deixe seu recado!
DM -
De nada. Leiam “Os Desaparecidos” e aproveitem!






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quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Shalom!
O Papo de hoje é com um imortal:
Com vocês: Moacyr Scliar!
PIT - Ola Moacyr um prazer tê-lo aqui no Papo em Comunidade!
MS -
Olá Patricia!

PIT - Você diz que escreve há muito tempo. Quando você definiria o começo de tudo? E o que te fez começar escrever?
MS -
Fui motivado em primeiro lugar pelas histórias que meu pai, imigrante e grande narrador, conta sobre sua vida no Brasil, e depois, pelo estímulo à leitura proporcionado por minha mãe, que era professora primária e grande leitura. Gostando de histórias e gostando de livros, não tardou para que eu começasse a escrever.

PIT - No seu recente livro “O Texto, ou: a Vida uma trajetória literária” você conta sua historia através dos seus textos. Como surgiu esta idéia? O que te levou a fazer uma autobiografia?
MS -
A editora queria uma coletânea de meus textos, mas eu já tenho várias coletâneas desse tipo. Ocorreu-me então a idéia de refazer minha própria trajetória através dos textos.

PIT - Você conciliou sua carreira de medico com a de escritor. Em algum momento uma se sobrepôs à outra? Você pensou em priorizar alguma e desistir da outra ou elas se complementam?
MS -
São coisas que se complementam. Muitas das minhas vivências médicas estão no que escrevo, e me tornei melhor médico graças à literatura.

PIT - Vários textos são fatos de sua vida. Ao escrevê-los você pensa como escrevendo um diário?
MS -
Não, penso no texto mesmo: crônica, conto...

PIT - O que te inspira? Você tem algum processo para escrever? Gosta mesmo que olhem pelos seus ombros? Vaidade das vaidades??
MS -
Qualquer coisa pode inspirar, uma notícia de jornal, uma pessoa que conheci, uma história que me contaram, um trecho da Bíblia... E todo mundo escreve para ser lido. É um pouco de vaidade, mas é, sobretudo o desejo de comunicação.

PIT - Falando em vaidade, você já recebeu vários prêmios. Inclusive com este novo livro. Um premio estimula o escritor?
MS -
Sim, massageia o ego, mas a certa altura a gente descobre que o melhor prêmio é a satisfação com o texto bem escrito.

PIT - Você ocupa a cadeira 31 da Academia Brasileira de Letras. Como é ser um imortal?
MS -
É algo que me dá orgulho, sobretudo por representar meu estado, o RS, na ABL, mas estou bem consciente de que literatura é coisa que se faz na solidão da sala, diante do computador.

PIT - No livro você passa uma idéia de que escrever é importante para o individuo. Na sua opinião as pessoas devem “escrever” a vida?
MS -
'Não, devem vivê-la, mas escrever ajuda a entender a vida.

PIT - Você diz que os textos devem ser mostrados. Você acredita que, hoje em dia, os blogs são uma forma alternativa de passar uma idéia a diante? Uma maneira de praticar a escrita antes de publicá-la efetivamente?
MS -
Sou fã dos blogs, e acho que é uma boa maneira de divulgar os textos.

PIT - No seu versinho da vela* baixou um “Augusto dos Anjos”? Risos *“Não te dás conta, pobre tola/ao aniversariares com paixão,/que a vela que arde no bolo,/é a mesma que enfeita o caixão?”
MS -
Não, acho que Augusto dos Anjos transita em outra esfera...

PIT - Moacyr, muito obrigada por sua entrevista e deixe aqui o seu recado!
MS -
Parabéns por este belo trabalho!


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quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Shalom!
Ela é Mestre em educação e autora de best-selllers sobre o assunto. E agora vai lançar livros infantis voltados para a ecologia.
No Papo de hoje Tania Zagury!


PIT - Olá Tania! Bem vinda ao Papo em Comunidade.
TZ -
Olá Patricia!

PIT - Filósofa, professora, escritora e pesquisadora. Como podemos definir Tania Zagury?
TZ -
Uma educadora que nunca desiste de suas lutas.

PIT - Você já escreveu vários livros destinados à educação. Quando você decidiu começar a escrever?
TZ -
Foi meio por acaso. Eu já trabalhava em Educação na Universidade Federal do Rio de Janeiro quando meu marido, que é médico especialista em Diabetes, me convidou para trabalhar num projeto conjunto: escrever um livro para diabéticos e seus familiares. Difícil dizer "não" tendo um maridinho como o meu... Resolvi aceitar o desafio... Daí que, juntos, publicamos o primeiro livro brasileiro que uniu profissionais das áreas de Educação e Medicina. Ele ficou responsável pelo projeto científico e eu pelo texto e a parte didática. A primeira edição saiu em 1986 pela Editora Rocco. Hoje estamos na 16ª. Foi tão bem aceito, que comecei a acreditar que podia escrever mesmo... E não parei mais.

PIT - O livro “Limite sem traumas” foi um sucesso de vendas sendo traduzido para o italiano, espanhol e francês. A que você atribui este sucesso?
TZ –
Realmente, foi e continua sendo um grande sucesso. Na França foi recentemente reeditado sob a forma de livro de bolso, com tiragem de 6000 exemplares. Também está na Espanha, Itália, México, Cuba, Estados Unidos e Portugal, entre outros. No Brasil já foram vendidos mais de 245.000 exemplares. Estamos na 84ª edição. Acredito que se deve ao fato de ser um trabalho que atende a uma necessidade imediata de pais e professores, detectada através de uma pesquisa de campo que realizei à época. A primeira edição saiu em 2000. Quase todos os meus livros têm essa característica, aliás; procuro observar o que a realidade nos mostra, fenômenos que muitas vezes passam despercebidos, mas, quando estudados de forma científica, trazem à luz demandas reais da sociedade. Por isso "Limites sem Trauma", assim como "Educar sem Culpa" e "Encurtando a Adolescência" têm aceitação grande. Porque vêm ao encontro de uma necessidade objetiva. Outro fator me parece ser a linguagem. Procuro escrever de forma simples, clara e objetiva, sem jargões profissionais, o que torna a leitura facilmente compreensível para pessoas de diferentes níveis culturais.

PIT - Como você vê a educação no Brasil? Há luz no fim do túnel?
TZ –
Nunca perco a esperança. Mesmo quando a situação é adversa, como o atual panorama educacional brasileiro. Se não tivesse firme convicção de que o quadro pode – e precisa - ser revertido, já teria abandonado a carreira, até por uma questão de coerência e ética. Um educador que não acredita no que faz é um embuste.

PIT - Para você qual o maior desafio atual na educação de um filho tanto pelos pais quanto pela escola?
TZ –
Eis uma pergunta difícil... Determinar "o maior problema", "a maior dificuldade" ou "o culpado" de uma determinada situação é sempre arriscado, porque se corre o risco de ser simplista. Problemas complexos como os que família e escola vêm enfrentando hoje têm várias causas inter-relacionadas, não apenas uma. Exigem, portanto, tratamentos específicos, preferencialmente simultâneos. De qualquer forma, arrisco dizer que um dos grandes desafios da escola e da família hoje é fazer com que crianças e jovens incorporem a idéia de que o saber e a ética ainda têm essencial importância na sociedade e na transformação do mundo.

PIT - Na sua concepção o que seria a escola ideal?
TZ –
Para mim é aquela que alcança os seus objetivos. Quer dizer transmite o saber acumulado pelas ciências e a cultura, mas também forma o cidadão, socializa e ensina a pensar criticamente.

PIT - Qual a dica que você pode dar aos pais de primeira viagem quanto à educação dos filhos?
TZ –
Não gosto muito dessa expressão "dar dicas", porque parece "conselho", "auto-ajuda" ou algo do gênero, coisa que nao faço nem nos meus livros nem em palestras ou cursos. Porém se me perguntassem o que importa fazer quando se pensa ter filhos (o ideal é começar nesse momento e não quando o filhote já está aqui), eu diria que considero essencial conversar para saber o que cada um pensa em termos de projeto educacional. De preferência antes das clássicas e românticas tarefas (fazer o enxoval, escolher nomes, padrinhos, decorar o quarto etc.). As pessoas tendem a pensar em tudo, menos nisso que é fundamental para uma educação bem-sucedida: identidade de propósitos e, se possível, também de métodos. Não precisa ser exatamente igual, mas as bases devem ser pelo menos próximas; se não for, ainda há tempo para analisar, pensar e tentar um mínimo de identidade. Garanto que problemas posteriores serão bem menores, se todos fizerem isso. A divergência sobre a melhor forma de educar é uma constante entre os casais e tem repercussões bem negativas sobre os filhos, porque leva à dissidência e ao confronto, enfraquecendo a autoridade dos pais e causando insegurança nas crianças.

PIT - Você vai lançar livros infantis. Conte para nós sobre este novo projeto.
TZ –
Tenho dado palestras para pais e professores, em todo o Brasil, desde 1991; é comum me perguntarem por que não escrevo também para os filhos. E daí, um dia, lembrando de quantos fatos interessantes presenciei enquanto meus dois filhos cresciam, achei que poderia tentar unir essas circunstâncias, aliando-as à minha firme convicção de que, estimulado adequadamente desde a infância, o ser humano reage admiravelmente bem aos estímulos positivos, ao lirismo e ao amor, mais ainda se apresentados de forma lúdica, engraçada ou com pequenos toques de suspense. Assim - e também com um pouco de criatividade e imaginação - nasceu a COLEÇÃO ECOLÓGICA. Em princípio serão 10 volumes para crianças entre 4 e 12 anos. Creio que, com essas historinhas ingênuas, engraçadas, mas também cheias de afeto, elas poderão desenvolver o amor pela leitura e pela natureza e o respeito pela nossa fauna e flora tão ricas.

PIT - Qual o seu sonho?
TZ –
Estar viva para presenciar um Brasil no qual o saber, a dignidade e a igualdade sejam propriedade de todos.

PIT - Tania muito obrigada por sua entrevista e deixe aqui o seu recado!
TZ –
Eu é que agradeço a oportunidade de participar do "Papo em Comunidade". Gostaria de passar aos leitores a minha convicção de que, se cada um de nós fizer a sua parte por menor que seja, com total dedicação, com integridade e sem se preocupar com "se" e "como" os outros estão fazendo, somente assim, poderemos mudar o mundo de forma a que ele se torne tal e qual o sonhamos.





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