Shalom!
O que você faria se um dia se descobrisse invisível? Quer uma sugestão?
Leia “As confissões do Homem Invisível” !
Alexandre Plosk... você está aí?
PIT - Olá Alexandre! Um prazer tê-lo aqui no Papo em Comunidade!
AP - Olá Patricia, olá a todos os leitores. O prazer é meu.
O que você faria se um dia se descobrisse invisível? Quer uma sugestão?
Leia “As confissões do Homem Invisível” !
Alexandre Plosk... você está aí?
PIT - Olá Alexandre! Um prazer tê-lo aqui no Papo em Comunidade!
AP - Olá Patricia, olá a todos os leitores. O prazer é meu.
PIT - Você é formado em publicidade e cinema. Como começou o seu interesse em escrever?
AP - Olha, não sou daqueles que escrevo histórias “desde pequenininho”. Lá pelos dezoito anos, tive uma paixão pelo cinema. Ficava imaginando fazer filmes, apesar de todas as dificuldades. Mas quando comecei a escrever meus próprios roteiros, percebi que a curtição maior era criar uma história, independente de ela vir a ser filmada. Aí fui embarcando cada vez mais na literatura. Não tem preço a liberdade de criar o que você quiser. Sem pensar em orçamento, no trabalho de convencer as pessoas... Isso sem falar no que me parece o mais especial na literatura: a capacidade de mergulhar no mundo interior dos personagens.
PIT - Quais são suas influências literárias?
AP - No meu primeiro romance, “Livro Zero”, eu dou uma verdadeira lista alfabética. Rs... É que o personagem principal do “Livro Zero” vai cumprir uma pena num presídio. Lá, ele imagina que finalmente terá paz para escrever seu primeiro romance... Bem, antes de começar, ele busca inspiração e sai lendo a obra de dezenas de seus escritores favoritos. Para mim, Dostoiévski e Kafka estão num patamar especial. Mas daí seguem inúmeros escritores geniais: Lewis Carroll, Paul Auster, Murilo Rubião, Ian McEwan...
PIT - Como surgiu a idéia de “As Confissões do homem invisível”?
AP - O meu ponto de partida foi a visão de um personagem que pudesse entrar na casa das pessoas. Alguém capaz de escutar os dramas que se passam no mundo entre quatro paredes. Um ser solitário vagando por entre esses universos tão particulares e humanos. Sua presença invisível teria um efeito reparador nos moradores, instalando calma e cumplicidade pelos cômodos da cidade.
PIT - No livro o espelho é o pivô da história. Você acredita que o espelho possa ser o condutor para um universo paralelo?
AP - Quando “entrei na pele” do personagem, pra valer, o primeiro impulso foi o de procurar o espelho em busca de uma imagem, ou não-imagem. Ao não encontrar nenhum sinal de existência ali na superfície polida, o homem invisível fica fascinado por aquele espaço de onde agora está exilado. A partir daí, muita coisa mudou no romance.Naquele momento, eu mesmo não sabia o poder que o espelho teria na história. Acho que desde sempre o homem é fascinado pelo espelho. Talvez seja preciso sentir-se invisível para redimensionar este objeto tão simples e tão mágico.
PIT - Se tornar invisível é um desejo seu? O que você gostaria de fazer se pudesse ficar invisível? Brincar de Deus também?
AP - Eu imagino que teria um comportamento parecido com o meu personagem. Primeiro, uma curiosidade enorme de acompanhar a vida das pessoas. Sabe quando você ouve o trecho de uma conversa na rua e fica super curioso para saber o desfecho? Pois o homem invisível pode penetrar nos bastidores, descobrir os segredos, as tristezas e as alegrias mais profundas do ser humano. Mas penso que, assim como ele, eu também não resistiria a um segundo passo: a vontade de interferir, de ajudar as pessoas em seus dilemas. No fundo, é um pouco o que um escritor faz. Ele se aproxima do outro, do leitor e, querendo, ou não, interfere na vida dele.
PIT - Em alguns momentos o personagem central fala de vivencias judaicas. O judaísmo é uma grande fonte de inspiração para você?
AP - Total. Estudei no Barilan, colégio religioso e a relação homem-Deus, criador-criatura, para mim é fonte de inspiração tremenda. No “Livro Zero”, o escritor-presidiário acaba descobrindo que se tornou uma espécie de homem santo para os detentos. Atribuem a ele milagres e uma sabedoria divina. Uma situação a que ele resiste com todas as suas forças. No “Confissões”, abordo o tema da invisibilidade. Quase tão antigo quanto o homem. Ele é contado já por Platão em “A República”, na narrativa “O Anel de Giges”. Mas para mim, a idéia vem de muito antes. Vem da própria concepção de Deus. Minha herança judaica tem seu centro na idéia de um Deus invisível. Um conceito que é perturbador para uma criança. Ao mesmo tempo, é uma fonte de imaginação gigantesca. É um grande vazio a ser preenchido. Portanto, quando se funde essa idéia do Deus invisível com a de que o homem foi criado à sua imagem e semelhança, algo entra em curto-circuito. Há algum mistério aí que só atiça o caldeirão da ficção. Talvez não por acaso, quando realizei meu curta-metragem na faculdade de cinema, “A Caixa Preta”, contei a história de um homem que fala com uma mulher que nunca vemos. Ela é só uma voz. Como se fosse uma mulher invisível. Em certo sentido, as duas obras são complementares. E a frase com que abri o filme, poderia muito bem ser a epígrafe do livro: “E vos falou o Eterno do meio do fogo. Som de palavras vós ouvistes, porém imagem alguma não vistes. Tão somente uma voz.” Deuteronômio (4,12).
PIT - Você também é roteirista de TV e cinema. Você escreve os seus livros pensando na possibilidade de torná-los filmes?
AP - Não. Na hora de escrever, o que vale é o fluxo literário, a prioridade é o mundo interior. Como aquele personagem está vivenciando, internamente, aqueles acontecimentos. Mas, no momento de reescrever, de trabalhar o texto e, principalmente, a estrutura do romance, tenho consciência de que de alguma maneira a narrativa cinematográfica acaba influenciando também. Há muitas décadas somos moldados por essa cultura de tv/cinema. Acho que a experiência como roteirista traz para a literatura essa preocupação de deixar uma história bem amarrada. Agora, o importante numa adaptação é saber que é uma outra obra. Vale criar novos personagens, cortar tramas paralelas... Livro e filme são línguas diferentes. A idéia é traduzir o sentido e não a forma. Tive a sorte de ter essa liberdade quando adaptei o romance policial “Bellini e a Esfinge” para o cinema. O Tony Bellotto, autor da obra literária, teve essa inteligência. Não só entendeu que era preciso fazer modificações. Ele foi além. Chegava ao ponto de vibrar com as invenções que fui criando em cima do livro dele. Porque sabia que estávamos construindo algo novo a partir da obra que ele criou.
PIT - Algum novo projeto em vista?
AP - Desde que terminei meu primeiro romance tenho imaginado uma história em que se fundem os universos das artes plásticas e do misticismo judaico. Acho que vai ser algo por aí. Mas nunca se sabe. Existem várias idéias perambulando pela cabeça de quem trabalha com criação. Porém, na hora em que se começa o processo de realização, às vezes a mais inesperada se impõe sobre todas as outras.
PIT - “O Pomar” é o seu próximo livro? (risos)
AP - É... No “Confissões”, eu comento esse livro imaginário, escrito pela personagem feminina principal. Não sei se vou escrevê-lo. Talvez seja melhor fazer como Borges. Às vezes a resenha de um livro jamais escrito pode ser mais interessante do que escrever o próprio livro. Pelo menos, dá muito menos trabalho. Rs...
PIT - Alexandre, muito obrigada por sua entrevista e deixe aqui o seu recado!
AP - Legal, Patricia. É sempre bom poder falar sobre o nosso trabalho. A gente acaba aprendendo mais. O bacana da literatura é que a obra não se esgota quando colocamos o ponto final. Ao fim de cada leitura, cada leitor terá criado sua própria história. Isso faz de todos nós leitores, pessoas mais criativas e inventivas.
AP - Olha, não sou daqueles que escrevo histórias “desde pequenininho”. Lá pelos dezoito anos, tive uma paixão pelo cinema. Ficava imaginando fazer filmes, apesar de todas as dificuldades. Mas quando comecei a escrever meus próprios roteiros, percebi que a curtição maior era criar uma história, independente de ela vir a ser filmada. Aí fui embarcando cada vez mais na literatura. Não tem preço a liberdade de criar o que você quiser. Sem pensar em orçamento, no trabalho de convencer as pessoas... Isso sem falar no que me parece o mais especial na literatura: a capacidade de mergulhar no mundo interior dos personagens.
PIT - Quais são suas influências literárias?
AP - No meu primeiro romance, “Livro Zero”, eu dou uma verdadeira lista alfabética. Rs... É que o personagem principal do “Livro Zero” vai cumprir uma pena num presídio. Lá, ele imagina que finalmente terá paz para escrever seu primeiro romance... Bem, antes de começar, ele busca inspiração e sai lendo a obra de dezenas de seus escritores favoritos. Para mim, Dostoiévski e Kafka estão num patamar especial. Mas daí seguem inúmeros escritores geniais: Lewis Carroll, Paul Auster, Murilo Rubião, Ian McEwan...
PIT - Como surgiu a idéia de “As Confissões do homem invisível”?
AP - O meu ponto de partida foi a visão de um personagem que pudesse entrar na casa das pessoas. Alguém capaz de escutar os dramas que se passam no mundo entre quatro paredes. Um ser solitário vagando por entre esses universos tão particulares e humanos. Sua presença invisível teria um efeito reparador nos moradores, instalando calma e cumplicidade pelos cômodos da cidade.
PIT - No livro o espelho é o pivô da história. Você acredita que o espelho possa ser o condutor para um universo paralelo?
AP - Quando “entrei na pele” do personagem, pra valer, o primeiro impulso foi o de procurar o espelho em busca de uma imagem, ou não-imagem. Ao não encontrar nenhum sinal de existência ali na superfície polida, o homem invisível fica fascinado por aquele espaço de onde agora está exilado. A partir daí, muita coisa mudou no romance.Naquele momento, eu mesmo não sabia o poder que o espelho teria na história. Acho que desde sempre o homem é fascinado pelo espelho. Talvez seja preciso sentir-se invisível para redimensionar este objeto tão simples e tão mágico.
PIT - Se tornar invisível é um desejo seu? O que você gostaria de fazer se pudesse ficar invisível? Brincar de Deus também?
AP - Eu imagino que teria um comportamento parecido com o meu personagem. Primeiro, uma curiosidade enorme de acompanhar a vida das pessoas. Sabe quando você ouve o trecho de uma conversa na rua e fica super curioso para saber o desfecho? Pois o homem invisível pode penetrar nos bastidores, descobrir os segredos, as tristezas e as alegrias mais profundas do ser humano. Mas penso que, assim como ele, eu também não resistiria a um segundo passo: a vontade de interferir, de ajudar as pessoas em seus dilemas. No fundo, é um pouco o que um escritor faz. Ele se aproxima do outro, do leitor e, querendo, ou não, interfere na vida dele.
PIT - Em alguns momentos o personagem central fala de vivencias judaicas. O judaísmo é uma grande fonte de inspiração para você?
AP - Total. Estudei no Barilan, colégio religioso e a relação homem-Deus, criador-criatura, para mim é fonte de inspiração tremenda. No “Livro Zero”, o escritor-presidiário acaba descobrindo que se tornou uma espécie de homem santo para os detentos. Atribuem a ele milagres e uma sabedoria divina. Uma situação a que ele resiste com todas as suas forças. No “Confissões”, abordo o tema da invisibilidade. Quase tão antigo quanto o homem. Ele é contado já por Platão em “A República”, na narrativa “O Anel de Giges”. Mas para mim, a idéia vem de muito antes. Vem da própria concepção de Deus. Minha herança judaica tem seu centro na idéia de um Deus invisível. Um conceito que é perturbador para uma criança. Ao mesmo tempo, é uma fonte de imaginação gigantesca. É um grande vazio a ser preenchido. Portanto, quando se funde essa idéia do Deus invisível com a de que o homem foi criado à sua imagem e semelhança, algo entra em curto-circuito. Há algum mistério aí que só atiça o caldeirão da ficção. Talvez não por acaso, quando realizei meu curta-metragem na faculdade de cinema, “A Caixa Preta”, contei a história de um homem que fala com uma mulher que nunca vemos. Ela é só uma voz. Como se fosse uma mulher invisível. Em certo sentido, as duas obras são complementares. E a frase com que abri o filme, poderia muito bem ser a epígrafe do livro: “E vos falou o Eterno do meio do fogo. Som de palavras vós ouvistes, porém imagem alguma não vistes. Tão somente uma voz.” Deuteronômio (4,12).
PIT - Você também é roteirista de TV e cinema. Você escreve os seus livros pensando na possibilidade de torná-los filmes?
AP - Não. Na hora de escrever, o que vale é o fluxo literário, a prioridade é o mundo interior. Como aquele personagem está vivenciando, internamente, aqueles acontecimentos. Mas, no momento de reescrever, de trabalhar o texto e, principalmente, a estrutura do romance, tenho consciência de que de alguma maneira a narrativa cinematográfica acaba influenciando também. Há muitas décadas somos moldados por essa cultura de tv/cinema. Acho que a experiência como roteirista traz para a literatura essa preocupação de deixar uma história bem amarrada. Agora, o importante numa adaptação é saber que é uma outra obra. Vale criar novos personagens, cortar tramas paralelas... Livro e filme são línguas diferentes. A idéia é traduzir o sentido e não a forma. Tive a sorte de ter essa liberdade quando adaptei o romance policial “Bellini e a Esfinge” para o cinema. O Tony Bellotto, autor da obra literária, teve essa inteligência. Não só entendeu que era preciso fazer modificações. Ele foi além. Chegava ao ponto de vibrar com as invenções que fui criando em cima do livro dele. Porque sabia que estávamos construindo algo novo a partir da obra que ele criou.
PIT - Algum novo projeto em vista?
AP - Desde que terminei meu primeiro romance tenho imaginado uma história em que se fundem os universos das artes plásticas e do misticismo judaico. Acho que vai ser algo por aí. Mas nunca se sabe. Existem várias idéias perambulando pela cabeça de quem trabalha com criação. Porém, na hora em que se começa o processo de realização, às vezes a mais inesperada se impõe sobre todas as outras.
PIT - “O Pomar” é o seu próximo livro? (risos)
AP - É... No “Confissões”, eu comento esse livro imaginário, escrito pela personagem feminina principal. Não sei se vou escrevê-lo. Talvez seja melhor fazer como Borges. Às vezes a resenha de um livro jamais escrito pode ser mais interessante do que escrever o próprio livro. Pelo menos, dá muito menos trabalho. Rs...
PIT - Alexandre, muito obrigada por sua entrevista e deixe aqui o seu recado!
AP - Legal, Patricia. É sempre bom poder falar sobre o nosso trabalho. A gente acaba aprendendo mais. O bacana da literatura é que a obra não se esgota quando colocamos o ponto final. Ao fim de cada leitura, cada leitor terá criado sua própria história. Isso faz de todos nós leitores, pessoas mais criativas e inventivas.
ANUNCIE AQUI NO COMUNIPAPO
Nenhum comentário:
Postar um comentário