quinta-feira, 2 de abril de 2009





Shalom!
O Papo de hoje é contra o preconceito e a favor da igualdade e do respeito.
Viva as diferenças!!
Com a palavra Claudia Grabois!

PIT - Olá Claudia, bem vinda ao Papo em Comunidade.
CG -
Olá Patricia! Obrigada pelo convite.

PIT - Para começar conte um pouquinho sobre você...
CG –
Sou presidente da Federação Brasileira das Associações de síndrome de down, da comissão de políticas públicas do CONADE-SEDH, Diretora de Inclusão Social da FIERJ e Coordenadora da Rede Inclusiva. Tenho 4 filhos: Jaime, Raquel,Gabriel e Tali , a Raquel tem síndrome de down. Sou formada em direito, atuo na área da educação e orientação de escolas para a educação inclusiva e em direitos humanos. Faço consultoria jurídica nessa área. E sou conselheira do CONADE pela FBASD.

PIT – Como você falou, entre as suas ocupações está a de presidente da Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down. Em que consiste a FBASD e qual objetivo?
CG -
A Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down tem como missão liderar o processo de transformação da sociedade, para que a pessoa com síndrome de down seja reconhecida como cidadão pleno e incluído. Isso acontece através da mobilização da sociedade, da classe política, do judiciário e do cumprimento da legislação. Defendemos a inclusão ampla geral e irrestrita, e acreditamos que o direito a educação em classe comum é inalienável, assim como o direito de pertencer e não ser discriminado. Vivemos em uma sociedade de diferenças e as pessoas com síndrome de down fazem parte dela.


PIT - Recentemente comemorou-se o dia internacional da síndrome de down. Qual o maior desafio frente aos portadores e suas famílias?
CG - Temos muitos desafios, entre eles a mudança de paradigmas e acabar com estigmas impostos às pessoas com síndrome de down. A promoção da acessibilidade é uma de nossas prioridades assim com o rompimento de barreiras que ainda hoje colaboram para que pessoas com síndrome de down sejam vítimas de preconceito e discriminação. Esclarecer à sociedade que pessoas com síndrome de down são diferentes uma das outras, assim como todos somos, que podem e são capazes de aprender qualquer coisa e devem conviver com a sua própria geração - pessoas com e sem síndrome de down, e que devem ser incluídas plenamente em todos os espaços e setores da sociedade.


PIT - O que é Inclusão para Autonomia?
CG -
Inclusão para a autonomia foi escolhido como tema para o Dia Internacional da Síndrome de Down 2009, por que resume exatamente para o que trabalhamos. Queremos que nossos filhos e filhas com síndrome de down sejam incluídos a partir do nascimento ou mesmo antes dele e estude em uma escola regular e na classe comum com todos os alunos, com ou sem síndrome de down, em concordância com a CF e a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Acredito que a autonomia passa necessariamente pela educação inclusiva, pois na convivência com seus pares e crescendo naturalmente em sociedade, sem segregação, a inclusão no mercado de trabalho e o direito de pertencer, vivenciado na prática durante toda a vida da pessoa com síndrome de down, fará com que essa autonomia possa ser vivenciada, seja ela com ou sem apoio, de acordo com a necessidade de cada um.O que deve ser totalmente respeitado e legitimado. Os autodefensores, jovens e adultos com síndrome de down têm defendido a "Inclusão para a Autonomia" com muito sucesso.

PIT - O que tem mudado durante estes anos?
CG -
O movimento em defesa dos direitos da pessoa com deficiência avançou muito. Temos hoje uma mobilização muito maior, a Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência, promulgada no ano passado foi uma grande conquista e garante cidadania plena às pessoas com deficiência, entre elas pessoas com síndrome de down. A Inclusão deve acontecer em todos os campos e aspectos. A segregação é causada por barreiras que vem diminuindo graças a luta de muitas pessoas. Temos a CORDE-SEDH atuante e o Ministro Paulo Vanucchi que apóia e incentiva com muito empenho o movimento e todas as nossas demandas, se contrapondo a qualquer forma de violação, além do CONADE-SEDH, que reúne lideranças de todos Brasil, empenhados na garantia do direito e na construção de uma sociedade inclusiva , conselheiros totalmente mobilizados para isso.

PIT - Como você vê a questão do preconceito hoje em dia?
CG -
O preconceito ainda é grande. É preciso que as pessoas com deficiência, entre elas as pessoas com síndrome de down, façam parte do imaginário coletivo e estejam presentes em todos os lugares. Para isso precisamos que inclusão e acessibilidade sejam uma realidade, e de acordo com a legislação vigente. Falta vontade política e uma mobilização maior. Mas é preciso entender que o preconceito deve ser combatido. As escolas precisam educar em e para os direitos humanos, incluindo todas as diferenças e as tratando com naturalidade. Pessoas com deficiência pertencem a todas as camadas sociais, a todas as populações, etnias e culturas. É preciso que as agendas dos movimentos sociais contenham a inclusão e acessibilidade para pessoas com deficiência, seja ela física, sensorial, intelectual, múltiplas. É preciso usar as terminologias corretas para que sejam incorporadas nas falas diárias e ajudem na formação de uma nova consciência. Uma pessoa com síndrome de down não porta nada, ela tem síndrome de down e só. Por isso se diz pessoa com síndrome de down. Também não é "especial”. É sim um ser humano único como todos somos e com as suas especificidades e diferenças que devem ser legitimadas. Usamos apenas pessoas com síndrome de down. Pessoa com deficiência intelectual e pessoa com deficiência. Pessoa vem sempre antes, o que deixa claro o fundamento.

PIT - O que você gostaria ainda de realizar?
CG -
Gostaria que em todas as escolas se trabalhasse direitos humanos desde a educação infantil e que essa formação acompanhasse o aluno até o final dos seus estudos. O plano, mesmo que pessoal, é que todas as escolas venham a ter uma sala de recursos multifuncionais com atendimento necessariamente no contraturno. Apenas com a garantia da educação de qualidade para todos (as) pessoas com e sem deficiência deixarão de ser excluídas. Gostaria de trabalhar com mais afinco nesse projeto. Também gostaria que a educação inclusiva fosse de fato ampla geral e irrestrita, para isso precisamos mobilizar para o cumprimento das leis e preparar autodefensores em todo Brasil. A Inclusão não é sonho. Pessoas com deficiência precisam assumir esse protagonismo para garantir que as leis saiam do papel. Trabalhar pela mobilização e levantar a sociedade para exigir o cumprimento das leis é um projeto ambicioso, mas totalmente viável.

PIT – Claudia, obrigada por sua entrevista e deixe aqui o seu recado!
CG -
Vivemos em uma sociedade de diferenças. Somos todos diferentes e todo ser humano é único. Com tantas denúncias diárias de violações de direitos devemos nos unir para a construção de uma sociedade melhor para todos. No Brasil existem aproximadamente 24.500.000 pessoas com deficiência e 70% delas são pobres. Diariamente recebemos denúncias de violações de direitos humanos e fundamentais de pessoas com e sem deficiência. Devemos nos unir nesse combate e apoiar e propor ações afirmativas nesse sentido. É preciso de vontade política e contamos com o apoio da SEDH para essas mudanças. Mas as mudanças sociais são sempre frutos de mobilização e pressão da sociedade. E nesse sentido devemos agir.
Deixo meu e-mail para quem quiser entrar em contato presidentefbasd@gmail.com claudiagrabois@yahoo.com.br. Obrigada pelo convite do Papo em Comunidade e foi um grande prazer conversar com vocês.







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