quinta-feira, 31 de dezembro de 2009


Shalom!
Você já ouviu falar no “Schindler” brasileiro?
O historiador Fabio Koifman vai nos contar sobre este “Justo entre as Nações”!


PIT - Olá Fabio, bem vindo ao Papo Comunidade!
FK - Obrigado. É um prazer participar.

PIT - Quando você decidiu ser historiador?
FK - Eu estudei direito e história, mas sempre tive mais afinidade com História. Trabalhei em outros setores até decidir-me por seguir carreira acadêmica em História.

PIT - Você escreveu o livro “Quixote das Trevas”, que conta a historia do “Schindler brasileiro”. O que te levou a escrever este livro?
FK - O livro é a minha dissertação de mestrado em História. A pesquisa iniciou-se em 1997 e foi concluída em 2000. Escrever o livro tornou-se uma necessidade depois que realizei extensa e profunda pesquisa. Um dos objetivos principais em publicar o livro foi o de conseguir o reconhecimento do Embaixador como “Um dos Justos entre as Nações” junto ao Museu do Holocausto em Jerusalém. Objetivo esse no qual obtive sucesso, a partir de remessa de expressiva quantidade de documentos e depoimentos, realizada logo após a publicação do livro. Este tema me foi sugerido pela antropóloga Kátia Lerner, que, em decorrência do depoimento do Sr. Raphael Zimetbaum, para a fundação “Shoah” (A fundação “Shoah” é uma entidade que foi criada pelo cineasta americano Steven Spielberg com sede nos EUA. No final da década de 1990 a fundação recolheu em diversos países os depoimentos de milhares de judeus sobreviventes do Holocausto), tomou conhecimento da importância histórica do papel de Souza Dantas. Portador de um dos inúmeros vistos concedidos pelo Embaixador, o Sr. Zimetbaum dizia-se impressionado com a falta de qualquer memória ou registro relativo aos atos humanitários do diplomata, a quem tinha por responsável direto pela salvação das vidas das pessoas de sua família.


PIT - O que mais te surpreendeu na historia do Souza Dantas?
FK - O que mais me surpreendeu foi o fato de como um personagem tão significativo historicamente – por vários fatores, em especial (mas não único) sua postura humanitária durante a ocupação nazista – tenha sido relevado ao completo esquecimento.


PIT - Por que ele é um desconhecido no Brasil?
FK - Não diria que Luiz Martins de Souza Dantas seja hoje completamente desconhecido no Brasil. A partir da divulgação de minha pesquisa na mídia (a partir de 1998) e, especialmente da publicação do meu livro em 2002, o Embaixador passou a ser um pouco mais conhecido, tendo inclusive algumas vezes “aparecido” em discursos do Presidente Lula, uma vez em Paris e outra no Itamaraty, entre outras situações expressivas. Ainda assim, o embaixador aguarda certamente um destaque maior para o seu nome. As razões são apontadas no livro. Possivelmente a mais expressiva delas tem relação com o fato de Souza Dantas ter se tornado lembrança “desagradável” para aqueles que cultuam a memória de um importante personagem da História brasileira, Getúlio Vargas. Seja pelo contraste de postura em relação ao drama dos refugiados, seja por remeter a atos, posturas e um governo – ditatorial – que os que cuidadosamente zelam pela memória de Vargas preferem não lembrar.


PIT - Como se deu a pesquisa para o livro e o que você achou de mais relevante ou surpreendente que possa nos contar?
FK - Essa pergunta pode ser respondida pela leitura das 475 páginas do livro. O que é mais surpreendente, justamente, é que depois de tudo que fez e viveu Souza Dantas ele siga pouco conhecido no Brasil.

PIT - O livro vai ser a base para o documentário “Bom para o Brasil”, ainda em pré-produção. Como surgiu a ideia deste filme?
FK - Justamente pelo fato das situações e ações do Embaixador serem bastante expressivas e impressionantes, a ideia de realizar um filme a esse respeito sempre é cogitada por aqueles que lêem o livro e se aprofundam na História. Certas passagens da vida de Souza Dantas parecem ficção de tão impressionantes. Em alguns casos – como, por exemplo, a invasão da embaixada do Brasil em Vichy pelos nazistas e a tentativa de resistência de Souza Dantas – eu recorri a diversas fontes para confirmar os fatos, uma vez que a primeira leitura a respeito me pareceu ficcional ou exagero da imprensa. Mas todas as versões para o fato deram conta dos mesmos detalhes, uma cena típica de um filme, mas que ocorreu de verdade. A parceria com Luiz Fernando Goulart será a materialização desse objetivo, que visa ampliar no Brasil e fora dele a divulgação do nome desse herói brasileiro.


PIT - Qual a sua expectativa com este documentário?
FK - A melhor possível. Conforme disse acima, que o filme contribua para divulgar e difundir os atos de Luiz Martins de Souza Dantas. Que cada vez mais o nome dele seja associado, exemplo e referência de ajuda humanitária.


PIT - Qual seu próximo projeto?
FK - Publicar a minha tese de doutorado. Trata justamente do outro lado dessa história. “Porteiros do Brasil”, o sistema que existiu para selecionar imigrantes e controlar a entrada de estrangeiros no país, em época contemporânea aos esforços de Souza Dantas em salvar os perseguidos do nazismo na Europa.

PIT - Fabio, obrigada por sua entrevista e deixe aqui o seu recado!
FK - Eu é que agradeço. Lembrar e enaltecer aqueles que se arriscaram de maneira altruísta e anônima para ajudar desconhecidos que corriam perigo de vida, além de ser um ato de reconhecimento, é educativo e extremamente necessário, especialmente em um país tão carente de bons exemplos.




O embaixador Luiz Martins de Souza Dantas




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Um comentário:

Antonio Ortega disse...

Conforme podemos notar na obra do Historiador Fabio Koifman, ¨Quixote das Trevas¨, a inexistência de quixotes em um mundo onde a destruição do ser humano por grupos de vândalos defensores de uma ideologia obtusa, implicaria em um mundo ainda pior. Graças a existência de seres humanos como o Embaixador Souza Dantas, é que a humanidade não pereceu diante de uma máquina de guerra assassina. Apesar de pouco conhecido em nosso país, devemos ter o compromisso humano de manter a roda da história seguindo sempre em frente para que esta humanidade nunca pereça nas mãos de assassinos inúteis, como foram os nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.