quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Shalom!

O Papo em Comunidade de hoje vai ao teatro e conversa com um dos premiados diretores da nova geração.
Moacir Chaves, que está em cartaz com Ecos da Inquisição de Miriam Halfim.
Não Percam!


PIT - Olá Moacir! Bem vindo ao Papo em Comunidade!
MC- Olá Patricia!

PIT - Como surgiu seu interesse pelas artes cênicas?
MC - Sempre gostei de teatro. Como espectador mesmo. Aos dezessete anos vi todas as peças em cartaz no Rio, naquele ano de 1982. Era o meu primeiro ano na cidade, morava em Teresópolis e vim para cá estudar geologia na UFRJ. No ano seguinte, estava matriculado na Escola de Teatro Martins Pena e trocara geologia por história na UFRJ. Mais um tempinho e estudava teoria do teatro na Unirio.


PIT - Você é professor da Unirio e também foi aluno da instituição. Qual o desempenho da universidade para a formação de profissionais de teatro?
MC - A universidade oferece muitas possibilidades de conhecimento e troca, para quem consegue perceber isso e fazer o melhor caminho dentro da instituição. Há pessoas que passaram por lá e dela saíram sem nada aproveitar, e outras que tiveram suas vidas modificadas por essa vivência. Encontro-me nesse segundo caso. Para isso contribuíram especialmente os professores Ronaldo Brito e Flora Sussekind.


PIT - Atualmente você está dirigindo Ecos da Inquisição, texto de Miriam Halfim. Como você chegou a este texto?
MC - Fui convidado pela Miriam e pela Maria Alice, produtora do espetáculo, por sugestão do ator, diretor e amigo Ricardo Kosovski.

PIT - Mais um texto com Padre Antonio Vieira. Ele te persegue ou você o persegue?
MC - Padre Antonio Vieira é uma fonte de inteligência e luz na história e na cultura do Brasil e de Portugal. Um homem admirável. Estar em contato com suas obras e com sua biografia é um privilégio e um prazer. Quem sou eu para ser “perseguido” por ele. Mas também não o persigo. Imaginei e efetivei, produzindo e dirigindo, em 1994, o Sermão da Quarta-feira de Cinza, e fiz dois outros espetáculos em que ele aparece com muita força, o Ecos da Inquisição e, no ano passado, The Cachorro Manco Show, a convite da presidência da Funarte.


PIT - Não é a sua primeira peça sobre Inquisição, Bugiaria também abordava o assunto. Alguma predileção pelo tema?
MC - O meu interesse, no material que deu origem a Bugiaria, era em um personagem histórico de nome Jean Cointa, ou de Bolés, que veio para o Rio de Janeiro no século XVI se juntar a Villegaignon na aventura de fundar a França Antártica. O processo da Inquisição de Cointa foi parte estrutural do espetáculo, juntamente com o Viagem à Terra do Brasil, de Jean de Lery, no seu relato sobre os rituais antropofágicos dos índios Tamoios. Talvez eu tenha, de fato, uma predileção por temas ligados à cidade do Rio de Janeiro, sua história e seus personagens. Fiz um espetáculo chamado A Violência da Cidade, com textos históricos que iam do século XVI ao início do século XX, à época do “bota-abaixo” e dois espetáculos com textos de Machado de Assis, que foi, aliás, quem de alguma maneira me apresentou a cidade. Li toda sua obra exatamente nos meus primeiros anos aqui, e costumava refazer percursos de seus personagens pelas ruas da cidade, tentando identificar o que ainda restava daqueles cenários.


PIT - Apesar de Ecos da Inquisição se referir sobre um tema dos séculos XVI e XIX, a roupagem dada é mais atual. Podemos dizer que a inquisição não morreu?
MC - A Inquisição morreu. O que levou a humanidade a efetivá-la, não. Infelizmente é uma experiência quase que cotidiana esbarrarmos com abuso de poder, autoritarismo, violência, apropriação indébita, roubo, manipulação da população. Manipulação, aliás, que à época do nazismo ficou conhecida pelo nome de Propaganda.


PIT - Você tem alguma relação com o judaísmo? Seu sobrenome tem algo de cristão novo? Risos
MC - Minha família paterna veio de Portugal, da cidade de Chaves. Não sei se o nome é cristão novo. Meus avós maternos eram alemães que chegaram ao Brasil logo após o término na Primeira Guerra. Minha mulher, Monica Bielschowsky, é de origem judaica. Tenho grande interesse e carinho pela história judaica, que é a história de todos nós, fazemos parte todos da cultura judaico-ocidental. Mas não tenho atração pela idéia de raça nem pelas manifestações religiosas em geral. E menos ainda por qualquer fervor nacionalista.


PIT - Dentre os personagens você destacaria algum? Qual e por quê?
MC - Acho que a identificação do notário com o homem comum que, apesar de não responsável direto pelos fatos, se encontra em uma posição de testemunha de atos de arbitrariedade, violência, corrupção, e nada faz para mudar o estado das coisas, tornando-se desta forma cúmplice, co-autor mesmo das barbáries cometidas à sua vista, faz dele, notário, um personagem especial.


PIT - Moacir, obrigada por sua entrevista e deixe aqui o seu recado!
MC - Obrigado digo eu, por esse espaço de divulgação do espetáculo e reflexão. Espero ouvir depois sua opinião sobre a peça e, quem sabe, ter a chance de debater com mais tempo e profundidade as questões tangenciadas nesta entrevista.



Obs: Ecos da Inquisição está em cartaz no Centro Cultural Justiça Federal, na Cinelândia, Rio de Janeiro, de sexta a domingo às 19h, preços populares!


Moacir Chaves com a autora Miriam Halfim e o elenco de Ecos da Inquisição


Uma das cenas de Ecos da Inquisição



O Papo em Comunidade chega a 100ª entrevista!! Obrigada a todos os entrevistados, leitores e colaboradores que ajudam na existência deste blog! Espero contar sempre com vocês!





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