quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Shalom!
O Papo de hoje é com uma professora apaixonada pelo judaísmo.
Jane Bichmacher de Glasman conte-nos tudo!

PIT - Olá Jane, bem vinda ao Papo em Comunidade!
JBG - O prazer é meu!

PIT - Professora, doutora em Língua Hebraica, Literaturas e Cultura Judaica, fundadora e ex-diretora do Programa de Estudos Judaicos na UERJ. Como surgiu este programa na universidade?
JBG - Fui a primeira professora concursada e contratada pela UERJ para o Setor de Hebraico, o qual, então, comecei formalmente. Para tal contava com outros professores contratados temporariamente, pela Fierj e pela própria universidade. Consegui uma sala, para pesquisas e atendimento a alunos, onde montei uma biblioteca, com recursos próprios, incluindo muito material didático, fitas e filmes, além dos livros sobre hebraico e judaísmo. Ela era conhecida como "sala dos judeus"(!) No início de 1992, na semana do carnaval, mal eu saí dela - e a mesma foi incendiada e vários recados antissemitas foram deixados. Eu já vinha sofrendo pequenos atentados (meu carro foi arranhado em forma de suástica; nas minhas salas de aula eram deixados recados nas paredes com suásticas, "Morte aos Judeus", e outros do gênero) e sempre era convencida a "deixar pra lá", que aquilo era"coisa de maluco querendo chamar a atenção"... Foi a gota d'água! Contrariando a orientação chamei o então presidente da Fierj (Milton Nahon) e a imprensa, que cobriu largamente o ocorrido. Houve abertura de inquérito policial e o Reitor da UERJ (Hésio Cordeiro, na época), a partir de uma série de reuniões que tivemos, resolveu instaurar o Programa de Estudos Judaicos, de caráter comunitário e mais abrangente do que o Setor. A este, agregaram-se então docentes de outras áreas, como o Prof. José Resende, com o qual iniciei o oferecimento de cursos eletivos sobre Inquisição e Cristão-Novos, inclusive com a realização de Simpósios nacionais. Fora estes, foram realizados cursos e palestras com professores de renome acadêmico internacional, muitos de Israel (dada a carência de recursos, eu "corria atrás" de todos que estivessem de passagem pelo Rio ou por S. Paulo!) além de Congressos de Estudos Judaicos.
Lamentavelmente, houve certo "desvio de percurso" (aproveitando um afastamento meu, devido a um sério acidente de carro) e, pessoas de fora da UERJ "apoderaram-se" do Programa e têm impedido a participação de docentes da casa, principalmente os "pioneiros"... Mas isto é assunto para outro "papo"...


PIT - Você escreve para a comunidade maior sobre temas judaicos. Como você vê a reação perante a história judaica?
JBG - Venho, cada vez mais, procurado escrever num idioma menos "academês", mais leigo, na imprensa e em veículos de comunicação como sites e revistas eletrônicas, para um público amplo e diversificado, no Brasil e no exterior. A resposta tem sido fantástica! Inclusive já escrevo artigos como réplica a dúvidas e questionamento de leitores... Sinto um imenso prazer, também, quando consigo provocar polêmicas, que já originaram até grupos de debate e discussão na internet, por exemplo, a partir de alguns textos meus como "Os negros e os judeus", "Palavras Mal Ditas: Filologia e Preconceito” (este, por acaso, foi premiado no meio acadêmico e depois repassado em versão popular), "A assinatura cabalística de Cristóvão Colombo", "Palavras e costumes brasileiros de origem marrana", etc., além de temas específicos dentro da história e da cultura judaica, como "A rainha esquecida", "A noite dos cristais", etc.


PIT - Você tem um projeto de pesquisa sobre a presença judaica na língua e cultura brasileira. O que você descobriu de mais interessante?
JBG - É fantástico! A cada dia descubro algo novo! Desde a origem de palavras, expressões, ditados populares e nomes de lugares (a começar por Brasil! já que a pesquisa começou como sociolinguística) até personagens e passagens históricas, passando pelos costumes populares e pelo folclore brasileiro - todos com conteúdo expressamente judaico ou com origem no mesmo! Sabe o personagem do pai do filme “O casamento grego”, que encontra origem grega em tudo? Pois é, eu sou uma versão “kasher” dele! (rs)

PIT - Na história judaica que passagem mais te agrada? Por quê?
JBG - Sou tão visceralmente apaixonada pelo judaísmo que seria impossível destacar apenas uma passagem... Há várias que me intrigam e ponho-me a pesquisá-las! Gosto, particularmente, de histórias ocultas ou pouco estudadas. Talvez, dentro de temáticas, eu pudesse citar, por exemplo, estudos de gênero, como a questão da mulher no judaísmo (que foi parte da minha tese de doutorado: “De Rachel a Rachel- mulher, amor e morte”) e por outro lado, passagens, principalmente bíblicas, incoerentes ou ininteligíveis a princípio, como o sacrifício de Isac e sua posterior relação com o pai ou a morte de Moisés, sem entrar em Canaã (por sinal, abordo na tese também; afinal, é um drama universal humano, morrer antes de entrar na “Terra Prometida”...)

PIT - Você já publicou vários livros. Conte um pouco sobre eles...
JBG - Comecei escrevendo livros “encomendados” por setores de empresas e universidades onde trabalhei (sobre Psicologia, Didática, Educação, Treinamento) e, posteriormente, passei a publicar livros a partir da demanda discente e da carência de material em português sobre temas, principalmente sobre judaísmo, visando a torná-los acessíveis, como o “`A Luz da Menorá: Introdução à Cultura Judaica” e “Interseções: relações entre judaísmo e culturas e religiões na Antiguidade”, que foram, para minha alegria, adotado em diversas escolas, faculdades e seminários, pelo Brasil e vendidos até na Argentina e nos Estados Unidos. Aliás, tenho recebido encomendas e cobranças, por estarem esgotados – aguardo um alô de editoras interessadas!


PIT - Você costuma proferir palestras. Como são estas palestras?
JBG - Bom, há as acadêmicas, em Congressos e em universidades, as para grupos judaicos (como Wizo, Pioneiras, etc.) e as para o público em geral, geralmente em grupos de estudo e em cursos de atualização. E, principalmente, há as “mistas”: por exemplo, em agosto fui dar uma palestra em Denver, no Colorado, num Simpósio da Sociedade de Estudos Criptojudaicos, e uma grande parte do público era formado... pelos próprios! Tinha gente interessantíssima como artistas plásticos, cineastas e escritores (além dos pesquisadores acadêmicos), todos originalmente marranos, criptojudeus, que retornaram ao judaísmo, com obras sobre o tema. Tinha até rabino que nasceu em família marrana (com quem eu já me correspondia)! Apesar de eu ser a única brasileira lá, houve um interesse incrível em minha apresentação – e as perguntas foram abundantes! Fui “intimada” a comparecer ao Encontro ano que vem...


PIT - Que historia é esta que você ensinou padre a rezar missa em hebraico?
JBG - Comecei como professora no Barilan, onde fui aluna. Lecionei em diversos lugares como UFRJ (onde montei o atual Setor de Hebraico e de onde me aposentei em 99), Senac (Psicologia Empresarial), Colégio Imperial (Didática, MPA,Orientação Educacional) e, por quase 10 anos no ISTARJ (Instituto Superior de Teologia da Arquidiocese do Rio de Janeiro), onde pude, literalmente, ensinar padre a rezar missa... em hebraico! Ensinava hebraico e cultura judaica, com ênfase na origem judaica do cristianismo e das práticas e da liturgia católica. Tive alunos que foram se especializar em Israel, inclusive conhecidos, como os padres Zeca, Zé Roberto, André Sampaio (meu “afilhado” de ordenação e primeiro núncio apostólico brasileiro em centenas de anos)... Foi muito bonito, que eles trouxeram a “paramentação” judaica kasher de Israel para o bar-mitzva de meu filho (além de Padre André ter feito as bênçãos hebraicas do casamento dele)!

PIT - O que você gostaria ainda de realizar?
JBG - Profissionalmente, reeditar alguns livros meus e publicar outros que já estão prontos (!), inclusive (e principalmente) minha atual pesquisa e filmar um documentário sobre a mesma. Quero estudar, pesquisar, ler e escrever até o fim! Pessoalmente, quero ter netos e continuar curtindo muito a vida (principalmente viajando) com meu “namorido”!

PIT - Jane, obrigada por sua entrevista e deixe aqui o seu recado!
JBG - Perdoe eu ser tão prolixa! Adoraria receber comentários! Meu e-mail é janeglasman@terra.com.br










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