quinta-feira, 20 de março de 2008





O Papo em Comunidade de hoje traz um entrevistado diferente. No ano passado tive a honra de entrevistar, a convite do Fundo Comunitário, o jornalista do Jerusalém Post, o árabe israelense Khaled Abu Toameh. Ele é um dos maiores especialistas nos conflitos internos palestinos e um dos poucos no mundo com fontes e trânsito nos territórios ocupados de Israel. Filho de pai árabe-israelense e de mãe palestina, ele se considera um árabe –israelense – muçulmano. Nasceu na Cisjordânia quando o país ainda estava sob o domínio árabe, e quando foi ocupado por Israel ele se tornou também israelense. Iniciou seus estudos em uma escola cristã e depois cursou Relações Internacionais na Universidade Hebraica de Jerusalém, cidade onde reside atualmente.

Compartilho com vocês esta entrevista!

Shalom e Chag Purim Sameach!!


PIT - Como começou seu trabalho como jornalista?

KAT - Desde pequeno quis ser jornalista. Quando terminei o segundo grau consegui um trabalho como repórter. Qualquer um que tenha curiosidade o bastante pode se aventurar no jornalismo. E foi o que eu fiz. Comecei no jornal da OLP (Organização para a Libertação da Palestina), mas como não podia escrever o que realmente acontecia, fui em busca de uma mídia onde eu pudesse ter liberdade de imprensa e exercer o verdadeiro jornalismo, assim cheguei no Jerusalém Post um veículo sério e de credibilidade.


PIT - Como é trabalhar no Jerusalém Post sendo um árabe israelense?

KAT - Normal. Tenho liberdade para escrever. Eles não me censuram. Às vezes fico bravo com meus editores quando pego o jornal pela manhã e eles não mudaram nem uma vírgula! Até os erros gramaticais estão lá. Falo com eles e eles dizem que meu inglês é melhor do que muitos americanos. Quer mais liberdade do que isto?

PIT - Você se diz “um verdadeiro jornalista” o que isto significa?

KAT - Um verdadeiro jornalista é aquele que é imparcial. Que não defende nenhum lado, nenhum ideal. Um verdadeiro repórter é aquele que conta os fatos do jeito que eles são sem ser tendencioso.

PIT - Então você acha que os outros não são verdadeiros jornalistas?

KAT - Não, lógico que não. Porque no mundo em que vivemos, especialmente no mundo árabe, você tem que ser membro do Hamas, da OLP (Organização para a Libertação da Palestina) ou alguma outra organização para ser um jornalista. O conceito é diferente. No mundo árabe o jornalista é uma espécie de advogado que defende seu governo, seu presidente, seu povo, não escreve sobre a corrupção que acontece por lá, não há imparcialidade. É um jeito diferente de fazer jornalismo.

PIT - Você acredita na paz?

KAT - Sim, todos nós queremos a paz. Mas eu não acredito que vá acontecer, não é fácil. Eu não acredito que a verdadeira paz, no sentido de amor, harmonia, aconteça. A única coisa que podemos fazer agora é gerenciar o conflito, assim a gente tenta diminuir a violência, o que é bom. Temos que manter judeus e palestinos separados, eles não querem viver juntos, especialmente depois do que aconteceu há sete anos, isso é bom, não há problema, mantê-los separados gera calma, tranqüilidade e todos precisam disto.

PIT - O que você acha de um Estado palestino?

KAT - Eu acho que é uma boa solução. Mas não acho que seja prático e nem viável, porque os palestinos têm que agir junto, eles não são unidos. Eles não têm uma boa liderança, brigam entre eles e sob estas circunstâncias um estado não pode ser estabelecido. É uma tragédia o que eles fizeram com eles mesmos. O Estado palestino não é um presente de Israel, é algo que se tem que trabalhar duro para alcançar, eles não podem esperar que Israel ou Condoleezza Rice lhes dêem um Estado, eles têm que provar para o mundo que merecem ter um estado, fazer por onde e eles não fazem, eles estão perdendo tempo.

PIT - Os palestinos pensam assim, que merecem um estado? Que tem que lutar para ter um?

KAT - Claro, a história é esta. O problema não é o povo. O povo quer viver em paz, quer uma boa vida, quer um Estado. O problema é a liderança que é corrupta que não se importa. Já era para ter este Estado há muito tempo, mas a OLP pegou o dinheiro da comunidade internacional e perdeu, jogou fora, não deu para as instituições, não fez nada de bom.

PIT - Qual o seu sonho como jornalista?

KAT - Meu sonho é continuar trabalhando como jornalista e ver meus filhos crescerem e viver feliz para sempre. Adoraria ver a paz de verdade, não um acordo aqui outro ali, a situação era melhor antes de começar o processo de paz. Eu quero que meus filhos tenham um futuro tranqüilo, isto para mim é muito importante.

PIT - Você tem medo de algo?

KAT - Sim. Tenho medo da “Jihad” Global, do crescimento do fundamentalismo islâmico. Eu sou um muçulmano moderado, me preocupa o que estas pessoas estão fazendo, eles distorceram a imagem do Islã.

Nenhum comentário: