sábado, 21 de novembro de 2009


Shalom,

Quem conhece Israel se encanta, e quem não conhece não sabe o que está perdendo!
E cada um tem sua própria experiência...
Sabrina Abreu conte- nos e mostre- nos o seu Israel!


PIT - Olá Sabrina, bem vinda ao Papo em Comunidade!
SA - Muito legal poder contar um pouco das minhas experiências para você, Patrícia.


PIT - Você acaba de lançar o livro “Meu Israel”. Como surgiu a ideia do livro?
SA- Sou jornalista e, durante os onze meses que passei em Israel, entre 2007 e 2008, colaborei com diferentes revistas brasileiras. Ao mesmo tempo, tentei manter um blog (do qual desisti, porque sempre faltava tempo) e consegui atualizar sempre meu diário, escrito no papel mesmo, como tenho o hábito de fazer desde os meus 8 anos de idade. A mistura do meu amor pela escrita com as histórias que vivi e pessoas maravilhosas que conheci em Israel deram origem à ideia do livro. Ela foi amadurecendo ao longo de um ano inteiro, até que tive a oportunidade de apresentá-la à Editora Leitura, que topou o projeto do jeitinho que eu sonhei (com direito ao apêndice com entrevistas no final, para dar um toque bem jornalístico).


PIT - Por que o titulo “Meu Israel”?
SA - Olha, Israel é um país que suscita muitas paixões, pelo fato de ser berço do Judaísmo, a religião primordial na qual as outras duas religiões monoteístas se basearam: o Cristianismo e o Islamismo. Além disso, há a questão política e histórica, de conquistas e dominações naquela região, ao longo de milênios, que faz com que ela sempre esteja viva na mente de tantas pessoas. Por conta disso, ao escrever anteriormente sobre Israel (na monografia do meu curso de Jornalismo e no trabalho de conclusão de curso da minha pós-graduação, entre outras pesquisas), sempre tomei cuidado para apoiar cada linha com dados históricos, com material jornalístico, depoimentos de especialistas, de modo a tornar o trabalho o mais relevante possível. Já no livro – apesar de também ter prestado atenção na pesquisa -, tomei a liberdade de falar do meu Israel, aquele em que vi, que conheci, sobre o qual estudei, um lugar onde fui feliz e tenho amigos, do qual sinto saudades. Acho que mirando na minha experiência pessoal o relato da viagem acabou se tornando até mais próximo dos leitores – mesmo daqueles que nunca visitaram esse país.


PIT - O que te levou a morar em Israel?
SA - Na verdade, acho que demorou para eu tomar essa decisão. Sempre tive vontade. Mas, ao longo da faculdade de jornalismo (de 1999 a 2004), fui entendendo que o quanto Israel aparecia na mídia era proporcionalmente inverso ao quanto as pessoas eram informadas sobre o país. Mesmo sem ter ido até lá, sempre soube – por influência, especialmente do meu pai – as fronteiras, as principais guerras nas quais o país foi envolvido, os diferentes impérios que tomaram o país sucessivamente. Eu sabia também diferenciar os termos “judeu”, “israelense”, “árabe”, “muçulmano”, mas percebi que nem todo mundo poderia diferenciá-los. Então, surgiu a vontade de estudar mais, para poder informar melhor. Acho que o dia em que decidi, de verdade, morar lá, foi com isso em mente. Mas, além disso, havia tantas outras motivações envolvidas. E bem que eu tinha sido informada por vários amigos que morar num kibutz é uma diversão incomparável [risos]...


PIT - Você vive em Belo Horizonte. Você encontrou em alguma cidade israelense semelhança com a capital mineira?
SA- Pode parecer estranho, já que Belo Horizonte é uma capital com pouco mais de cem anos e Jerusalém é uma cidade milenar, mas vejo, sim, algo em comum entre as duas. A gente costuma brincar que “BH é um ovo”, porque lá, todos se encontram sem combinar, na rua, no shopping. E, ao mesmo tempo, as famílias se conhecem, todo mundo tem um amigo em comum – ou até um primo em comum. Em Jerusalém, acontece do mesmo jeito. Acho que essa proximidade entre essas pessoas, essa facilidade de constatar o laço entre elas deve ter alguma coisa a ver com os montes e montanhas de BH e de Jerusalém [risos]!


PIT - Você teve contato com brasileiros por lá? Como eles vêem e/ou vivenciam o país?
SA- Sim, tive. Como Israel é um país com tantas possibilidades – e os brasileiros são tantos e tão diferentes, dependendo da vivência que têm no Brasil ou fora dele – fica difícil responder, de um jeito geral, como meus amigos ou conhecidos vivenciam Israel. Mas posso dizer que encontrei e entrevistei brasileiros que eram voluntários em diferentes kibutzim, outros que fizeram aliyah, ou que estavam lá por causa do próprio trabalho (caso de Alberto Gaspar, correspondente da TV Globo, que faz um comentário na orelha do meu livro) ou por conta do trabalho do cônjuge, como minha amiga Simone Karlsen, casada com um dinamarquês que tem um cargo na EU. Enfim, de todos, um depoimento que me marcou foi o do Fábio Júnior (ex-jogador do Cruzeiro, que também jogou no Hapoel Tel Aviv). Eu o entrevistei para um programa da Sportv. Ele disse que os israelenses eram parecidos com os brasileiros, porque são informais, quando convidam alguém para ir à suas casas, porque gostam de fazer piada, de comemorar, de dançar, de comer, são barulhentos, enfim, por tudo isso, ele se sentia acolhido lá. Acho que muitos outros brasileiros sentiam o mesmo.


PIT - O que você sentiu do conflito entre árabes e israelenses e da violência em geral?
SA- Prefiro começar a responder pela “violência em geral”, porque, em geral, ela não é muito presente [risos]. Morei em Jerusalém durante sete meses (e outros quatro no kibutz Bar-Am, no Norte). Na cidade, muitas vezes, tirava dinheiro no terminal 24h (que lá, de fato, funciona 24h) de madrugada, depois ia a pé para casa, com o dinheiro no bolso, sem medo. Por outro lado, sempre que entrava num restaurante ou loja, tinha que abrir minha bolsa para ser conferida (procedimento padrão adotado contra o terrorismo). Então, no meu dia a dia, o conflito se manifestava nesses detalhes e, também, em conversas com amigos que contavam como era a vida deles à época da Segunda Intifada (levante palestino de 2000 a 2002). Sendo jornalista e trabalhando como freelancer por lá, sempre tive curiosidade de pesquisar e entender mais sobre o conflito, me embrenhar por todo tipo de cidade e pelas diferentes áreas das cidades. Mas meu convívio se deu, na maior parte do tempo, com judeus israelenses – embora também tenha feito bons amigos árabes israelenses e palestinos. Quando ia visitar a Cisjordânia, sentia dos meus amigos judeus um tipo de ressalva, do tipo “não vale a pena ir até lá, porque é perigoso”. Mas entendo que pensem assim, já que, de fato, não são bem-vindos por lá. Por outro lado, conheci moradores da Cisjordânia que disseram claramente ter ódio dos judeus israelenses e até ouvi um menino dizer que queria ser mártir! Tudo isso me fez concluir que a situação é complexa demais para eu me arriscar a fazer quaisquer análises. Mas de uma coisa tenho certeza: a maioria das pessoas com quem conversei querem a paz, querem ficar numa boa. Isso vale para judeus e árabes que moram no território israelense. Além do mais, o conflito parece muito maior quando visto pela televisão. No cotidiano, as pessoas têm suas vidas, compromissos, feriados religiosos, preocupações outras. A vida por lá é muito mais “normal” do que se imagina.


PIT - Neste tempo o que mais te chamou atenção no país?
SA- As pessoas que formam a sociedade israelense chamam minha atenção mais que quaisquer paisagens ou sítios históricos (por mais interessantes que esses sejam também). No livro, falo disso: lá, todo mundo tem alguma história incrível, veio de muito longe, ou se casou com alguém que veio de muito longe, ultrapassou algum obstáculo dificílimo, aprendeu a viver a vida enfrentando, pelo menos, uma guerra a cada geração! É por isso que resolvi incluir em “Meu Israel” o apêndice “O Israel de Cada Um”, no qual mostro como treze pessoas (como a primeira mulher ordenada rabina em Israel, um adolescente sudanês refugiado de guerra, uma judia da comunidade do Rio que fez aliyah, um muçulmano morador de Jerusalém Oriental e uma sobrevivente do Holocausto, entre outros) se relacionam com aquele país.


PIT - O que você diria para quem não conhece Israel?
SA - Conheça Israel. Vá até lá. Se você gosta de história, não deixe de conhecer. Se gosta de diversidade, é um destino obrigatório, se tem curiosidade religiosa, idem, se gosta mesmo é de curtir o sol e uma boa balada, a mesma coisa. É um lugar que vale a pena.


PIT - Alguma coisa te deixou saudade?
SA- Dos meus amigos, de estar em Jerusalém num momento e, uma hora depois, aparecer em Tel Aviv. De rezar no Muro das Lamentações, de ir à Galileia de vez em quando, de fumar narguilê com o pessoal do kibutz.


PIT - Sabrina, obrigada por sua entrevista e deixe aqui o seu recado!
SA - Espero que “Meu Israel” seja uma fonte de informação para desmitificar um lugar que tem, sim, qualidades e defeitos, mas merece ser exposto com suas qualidades e seus defeitos, em vez de permanecer estereotipado. Escrevi sobre ele alternando o tom sério e as tiradas que são quase piadas, porque só assim achei possível ser mais fiel ao país que é jovem e tem uma história milenar, que é envolvido em questões tão sérias, mas não deixa de ter uma sociedade que sabe achar graça de si mesma.







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