quinta-feira, 9 de outubro de 2008





Shalom!
Você já ouviu falar em Trochembrod?
Na próxima semana chega ao Brasil Avrom Bendavid-Val, que pesquisa sobre esta cidade judaica que foi exterminada pelos nazistas.
O Papo em Comunidade teve a honra de entrevistá-lo, em primeira mão!
Aproveitem!

PIT - Avrom um prazer entrevistá-lo no Papo em Comunidade!
ABV -
Querida Patricia, o prazer é meu.

PIT - Para começar, conte um pouco sobre você...
ABV -
Meu avô, o rebe Moshe David Beider, era o rabino chefe e uma espécie de prefeito de Trochenbrod durante a Segunda Grande Guerra. Meu pai nasceu lá e emigrou para a Palestina (Israel), como um halutz , um pioneiro, em 1932 . Lá, ele mudou o sobrenome para Bendavid (filho de David) para homenagear seu pai, conheceu minha mãe e os dois se mudaram para os Estados Unidos em 1939. Eu nasci em Washington, DC. Trabalhei com o desenvolvimento econômico e como especialista em administração ambiental nos países em desenvolvimento. Aposentei-me ano passado e passei a dedicar tempo integral para escrever um livro sobre Trochenbrod, mas, enquanto fazia a pesquisa para o livro, fui me envolvendo com a procura dos nomes das pessoas de Trochenbrod e seus descendentes (a quem chamo de Trochenbroders) nas Américas do Norte e do Sul. Foi crescendo a idéia de fazer um grande encontro mundial dos Trochenbroders da diáspora, previsto para o ano que vem, em agosto, no local onde existiu a cidade. Estou trabalhando também no projeto de um documentário e depois o livro.

PIT – Falando em Trochenbrod conte-nos um pouco desta cidade e por que você decidiu pesquisá-la?
ABV -
Trochenbrod era uma pequena cidade estabelecida numa área inóspita que se tornou um centro comercial com cerca de 5000 almas. O nome Trochenbrod foi dado pelos judeus, porém, o nome que constava nos mapas Ucranianos e Poloneses era Sofiyuvka. Localizada na província de Volyn, a 40 km de Lutsk. Em agosto e setembro de 1942 TODOS os moradores de Trochenbrod foram assassinados pelos nazistas, mas, antes, tiveram de cavar suas próprias covas. Nada da cidade sobrou. Após a guerra, os soviéticos fizeram fazendas coletivas de trabalho forçado (kolhoz) naquela área. Nunca falei muito com meu pai sobre a cidade dele. Após sua morte, comecei a pensar em Trochenbrod: Será que realmente existiu uma cidade com esse nome tão gozado? Onde ficava? Sabia que não sobrara nada da cidade... seria verdade? Mas onde ficava? Que tamanho tinha? Como funcionava comercialmente? E socialmente? Enfim, muitas questões vinham à minha mente. Como sempre viajei muito profissionalmente. Estive no leste Europeu (meados de 1990) e arrisquei tentar achar o lugar. Comecei a pesquisar e foi num centro de pesquisas Mórmon , em 1997, que obtive meios para poder viajar para lá. Muitas coisas mudaram desde então, mas encontrei história viva. A segunda grande guerra foi um marco divisor profundo e muitas pessoas idosas ainda se lembravam de Trochenbrod. Eu mesmo vi muitos sinais da vida judaica que um dia existiu por lá e, pela primeira vez na minha vida pude entender totalmente e pude também sentir a enormidade do fato de ter existido uma sociedade judia, vibrante, cheia de vida naquela área e que foi totalmente erradicada do mundo. Quando comecei a entender e saber mais sobre o que foi Trochenbrod, sabendo mais detalhes sobre sua história, vendo coisas, falando com pessoas, fui ficando fascinado pelo tema, o que me obriga até hoje a querer saber mais e mais.

PIT - Você esteve em Trochenbrod algumas vezes. O que você sentiu? Como está o lugar hoje em dia?
ABV -
Já estive lá por 8 vezes. Até já fiz amigos por lá: alguns são filhos ou netos de pessoas dos vilarejos vizinhos que ajudaram os nazistas a assassinar os Trochenbroders. Mas nosso encontro foi cordial e tenho tido um acolhimento muito caloroso sempre que vou. Eles também querem saber mais sobre a história da cidade que existiu ali. Eu procuro pensar no presente e no futuro, pois acho mais importante reconciliar e honrar a memória do passado junto com o povo do local, ao invés de cultivar motivos para o ódio. Procuro focar na vida, na comunidade, na energia, no serviço da região, na bondade do povo, na vitalidade que havia em Trochenbrod, mais do que na sua destruição. Ouvi muitas histórias sobre a vida em Trochenbrod. Hoje, como se pode ver nas fotos, você identifica Trochenbrod pela alameda de árvores e arbustos que marcam onde existiu a Grande rua da cidade. Há um monumento em homenagem às vítimas que foi erguido pelos israelenses em 1992.

PIT - O que você conseguiu com as pesquisas até agora?
ABV -
Aprendi muito, nem dá para falar aqui. Mas, vou resumir, contando um dos achados mais fascinantes sobre Trochenbrod, e eu só fiquei sabendo mais há um ano ou dois. Tenho muitas histórias fascinantes que guardarei para contar no nosso encontro na ARI dia 16 de outubro.

PIT - Durante este tempo pesquisando algum fato te surpreendeu mais? Alguma curiosidade que você possa revelar?
ABV -
Trochenbrod foi "unique" em toda história judaica, pois foi a única cidade (sem contar com Israel) repito, a única cidade totalmente judia. Foi criada por judeus em meados de 1800 e viveu sob os governos tanto da Polônia quanto da Rússia. Falavam Iddish e Hebraico moderno. Começou como uma cidade agrícola, mas cresceu e diversificou suas atividades. Produzia bens de consumo para as cidades vizinhas (Kolki, Lutsk, Rovno). Era diferente da maioria das outras comunidades judias da Europa. Era como se fosse uma cidade de Israel, mas no Leste europeu. Por ser totalmente judia, depois de seus habitantes terem sido mortos, nada sobrou da cidade, ninguém se interessou por reconstruí-la, não havia motivo, e todos os traços foram eliminados.

PIT - O filme “Everything is Iluminated” tem Trochenbrod como pano de fundo. O que você achou do filme? Você teve contato com o autor?
ABV -
A mãe do autor do filme e eu trabalhamos juntos nesse projeto Trochenbrod. Estou ajudando na pesquisa que ela faz para descobrir como o pai dela sobreviveu ao Holocausto. O autor, Jonathan Safran Foer participou do encontro de Trochenbroders em Washington, em abril desse ano. O livro usa uma variação do nome Trochenbrod e foi filmado em Volyn. Mas Jonathan é o primeiro a dizer que o filme é totalmente ficção, que nem o livro nem o filme contêm material verdadeiro sobre Trochenbrod e nunca pretenderam isso. Um efeito surpreendente é que o livro e o filme fizeram com que muita gente passasse a se interessar e a querer saber mais sobre Trochenbrod e suas famílias. Ficamos felizes com esse resultado.

PIT - Você vem ao Brasil. Quais as sua expectativas?
ABV -
Chego dia 14 de outubro no Rio de Janeiro para me encontrar com Trochenbroders e familiares. Um dos objetivos é o de promover o encontro de Trochenbroders, onde vou poder apresentar alguns slides sobre a História de Trochenbrod ; as pessoas poderão trazer e mostrar documentos, objetos , fotos e trocar histórias sobre a cidade; vamos também discutir o encontro lá em Trochenbrod , em agosto de 2009. Pretendemos fazer uma grande conexão entre Trochenbroders do mundo todo (Américas, Israel, Europa). Pretendo fazer entrevistas com os que vieram para o Brasil. Estou à disposição para outras apresentações, visitas, para entrevistas ou simplesmente para trocar informações entre descendentes e emigrantes de lá. Minha mais recente amiga e parente distante, Eliana Zuckermann, está me ajudando nessa tarefa e agendando tudo para mim.

PIT - Qual o seu maior sonho?
ABV
- Sonho número 1: Ter um maravilhoso encontro de Trochenbroders na ARI, dia 16 de outubro.
Sonho 2:.Ter um encontro maravilhoso entre Trochenbroders do Brasil, Israel e Estados Unidos em 2009.
Sonho 3: produzir o filme, um tocante e agradável tributo a Trochenbrod e seu povo, que o filme ajude a colocar Trochenbrod no lugar que merece na História Judaica.
Sonho 4: Lançar um livro que, complementado pelo filme, seja mais profundo no sentido de ampliar os conhecimentos sobre a vida e as pessoas daquela cidade. Que sirva de referência para as próximas gerações. Isso deve me manter ocupado por muitos anos e anseio pela realização desses sonhos. Tem sido extremamente gratificante ouvir o que as pessoas têm para contar: o entusiasmo e a vibração confirmam apenas o quanto Trochenbrod deve ter sido pulsante enquanto cidade. Era como se fosse uma grande família, uma vez que todos eram judeus.

PIT - Avrom, muito obrigada por sua entrevista e deixe aqui o seu recado!
AVB -
Obrigado por seu interesse. Como você pode ver, para mim, a história de Trochenbrod é muito forte, e eu agradeço a oportunidade de poder compartilhar. Se seus leitores tiverem quaisquer dúvidas sobre o evento, ou quiserem fazer perguntas, peço que entrem em contato com Eliana Zuckermann no Rio (21) 8111-7787 ou no email: winkyz@terra.com.br. Mais uma vez, Patricia, obrigado por seu interesse e por essa oportunidade de compartilhar com seus leitores a história de Trochenbrod. Espero todos no dia 16 de outubro, quinta-feira, na ARI, às 20 horas.



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