quinta-feira, 22 de maio de 2008


Shalom!

Um jovem jornalista que saiu de São Paulo para viver em Israel e hoje trabalha como correspondente de vários veículos.

Com a palavra, Gabriel Toueg!

PIT - Olá Gabriel! Muito legal conversar com você aqui no Papo em Comunidade!
GT
- Obrigado e parabéns pelo blog, está bem bacana!


PIT - Para começar.. Apresente-se!
GT
- Apresentar-me? Tarefa difícil falar de si mesmo..! Vamos lá! Sou jornalista, tenho 29 anos e meio (o "meio" é coisa de israelense, aqui a idade se mede de seis em seis meses!) e vivo há quase quatro anos em Israel. Estou em Tel Aviv desde junho do ano passado, e antes morei em Jerusalém por três anos. Meu pai também está em Israel, há menos tempo, com o meu irmão de seis anos (e meio!) Minha mãe e minha irmã (que estuda Medicina em Campinas e termina no fim deste ano) moram no Brasil. Sou apaixonado pelo jornalismo (é mais certo dizer isso do que simplesmente que "sou jornalista"!) e trabalho "na área" há bem mais de dez anos. No Brasil, fiz várias coisas relacionadas - assessoria de imprensa, reportagem, edição... E trabalhei na imprensa judaica - no melhor e no pior da imprensa judaica brasileira... Hoje faço frilas para vários veículos na imprensa brasileira e sou correspondente da Rede Eldorado de rádio. Na imprensa judaica, escrevo para a Dezoito, do Centro da Cultura Judaica. Aqui em Israel trabalho há menos de um mês na empresa que toca os canais Viva, que exibe telenovelas brasileiras e de outros países latino-americanos. Sou o sub-editor de um site bem bacana que vai ser lançado nos próximos meses.

PIT – Falando em imprensa judaica, você foi editor da revista Aleinu. Uma revista jovem voltada para a comunidade judaica, que infelizmente acabou. Você pensa em algum dia voltar a fazê-la ou algum outro tipo de veículo de comunicação?
GT
- Fui não apenas o editor, mas o criador - junto com um amigo, que era meu sócio à época - e o financiador daquela brincadeira de gente grande. Quis fazer algo que não existia e não existe (e, na minha opinião, nunca vai existir!) na comunidade - um veículo sério, mas com um tom informal, voltado para os jovens judeus brasileiros. A idéia inicial não foi minha. Mas eu trabalhei bastante, com várias outras pessoas (quando eu lancei o primeiro e único número impresso, em dezembro de 2000, cerca de cem pessoas colaboravam, em várias cidades do Brasil, em Israel e em várias partes do mundo, escrevendo, desenhando etc). A revista em papel acabou rápido porque eu não tinha fôlego financeiro para dar a ela a continuidade que merecia e porque não achei patrocinadores dentro da comunidade - é difícil conseguir fazer um veículo sério com apoio se você não está disposto a fazer fofoca e contar quem casou com quem, quem fez barmitzvá ou quem nasceu. E essa não era a minha idéia. A revista foi muito bem aceita. Eu costumava dizer que ela recebeu muito verbo e pouca verba. Como sou um idealista incansável nas coisas em que acredito, continuei com a versão virtual da revista por mais alguns anos, até fazer aliá. Hoje não penso mais em retomar essa idéia - me frustrei muito com a forma como tudo aconteceu mas não mudaria minha disposição de fazer um veículo sério só para conseguir um patrocinador que exigisse propagandas pessoais e fofocas. Prefiro me dedicar hoje a veículos fora da comunidade, que é o que venho fazendo, daqui de Israel, como correspondente, praticamente desde que cheguei.

PIT - De São Paulo para Israel. O que te levou a fazer aliá? O que você diria para quem pensa em morar em Israel?
GT
- Eu diria o que digo sempre: "pense mil vezes antes". Já cheguei a acreditar que todo judeu deveria morar em Israel. Esse pensamento, contudo, mudou depois que eu mesmo me mudei para cá. Israel não serve para todos. O estilo de vida aqui é bem diferente do que levamos no Brasil e é um erro acreditar que a cultura judaica e a cultura israelense são a mesma coisa - não são nem de longe! Viver em Israel significa abrir mão de muitas coisas que podem ser importantes e até essenciais na vida de uma pessoa, como o idioma, a cultura, a comida e principalmente as pessoas. Pode ser, claro, a realização de um sonho, de um ideal. Eu fiz aliá por sionismo acima de tudo. Acho que se não for dessa maneira, melhor não fazer. Já vi muita gente voltando porque não era bem o que imaginava para si ou porque foi ludibriado pelo departamento de aliá da Agência Judaica. Na semana passada eu recebi uma propaganda de um programa deles. No email, aparecia algo como "a sua oportunidade de mudar de vida". Eles vendem Israel como se vendessem um apartamento em um condomínio de luxo! Não pode dar certo...! E o resultado é óbvio: gente frustrada e que volta correndo pro Brasil. Dos 12 brasileiros que vieram comigo, oito já estão de volta... Tenho certeza de que muita gente na Sochnut vai desgostar da minha teoria, mas essa é uma das vantagens de viver em um país absolutamente livre...

PIT - Você trabalha no Arutz Viva, que leva as novelas latino-americanas para Israel. Como é a recepção das novelas brasileiras pelos israelenses? O que você ouve as pessoas comentarem?
GT
- As novelas brasileiras (e, na verdade, quase tudo que é brasileiro!) têm muito boa aceitação aqui. Quando eu morei em um kibutz, antes de fazer aliá, durante seis meses, a diretora do ulpan me perguntava qual era o final da novela brasileira que estava no ar - nem me lembro mais qual era... A cultura latina, de forma geral, provoca certo fascínio entre os israelenses. Temos fama de "calientes" e a fama tem muito a ver com isso. Muitos israelenses aprendem português e espanhol acompanhando as novelas! Ah, vale dizer que muitos israelenses (e muitos árabes em Israel, principalmente!) torcem pelo Brasil nas Copas!


PIT - Além deste trabalho você é correspondente da rede Eldorado. Você já passou por alguma saia justa? Qual a maior dificuldade de um correspondente?
GT
- Saia justa? Não passei por saias justas, mas já tive algumas "aventuras", como durante a Segunda Guerra do Líbano. Eu ainda não trabalhava para a Eldorado formalmente, mas fiz na época alguns boletins para eles. Em uma ocasião, estava em Sha'ar Yishuv, um local muito próximo da fronteira. Estava conversando com jovens de lá, perguntando a eles se não tinham medo etc. Eles, fumando narguila, fazendo piada de toda aquela situação... De repente, o apito característico de quando um projétil está a caminho e um estrondo. Mesmo eles, que se diziam acostumados, ficaram visivelmente assustados e saíram correndo para os abrigos que têm em casa. Em vez de entrar em um abrigo, corri para um lugar alto, liguei para a rádio e entrei ao vivo. Coisas assim, essa adrenalina e a sensação de poder, com apenas um telefone, dar a sensação do que estou vivendo é o que me estimula mais no jornalismo! E a rádio é o único veículo que permite essa velocidade - nem a internet, que alcança mais lugares, é tão rápida, porque um texto precisa ser escrito antes de ser publicado, enquanto o rádio permite o improviso ao vivo. Dificuldades de ser correspondente? Eu diria que é difícil ser correspondente brasileiro e fazer as pessoas entenderem que também o nosso país tropical tem importância no mundo. Duas coisas aí - uma é uma pergunta recorrente que eu ouço de gente que fica sabendo do meu trabalho: "Mas interessa para os brasileiros o que acontece em Israel?" A segunda, uma falta de interesse entre porta-vozes de ajudar a realização do meu trabalho. Já perdi uma entrevista com o Shimon Peres porque a assessoria não julgou importante que o presidente falasse à imprensa brasileira. E uma vez fui chutado de um local onde estava fazendo uma reportagem porque no mesmo dia o assessor de imprensa da Sochnut tinha levado um grupo de jornalistas norte-americanos e não queria ver um sujeito que não tem a mesma importância que eles... Coisas assim!


PIT - Você participou da Marcha da Vida. Como foi a experiência? O que você acha deste projeto?
GT -
Acabei de voltar da Polônia, para cobrir para a revista Dezoito a participação dos jovens brasileiros de escolas judaicas na Marcha da Vida. Infelizmente, porque tenho uma porção de outros compromissos, não pude participar de toda a experiência da Marcha e não estive em lugares simbólicos como Treblinka ou Majdanek. Pretendo voltar. A verdade é que essa viagem deveria ser feita por cada ser humano para entender a dimensão do horror. O que mais me impressionou quando visitei Auschwitz e Birkenau foi a forma industrial e metódica desenvolvida pelos nazistas para matar. A imagem que mais me marcou, acho, foi a de uma sala no que hoje é o museu de Auschwitz onde estão conservados os fios de cabelo cortados dos prisioneiros que chegavam ao local - uma montanha imensa de cabelos, de cores diferentes, com tranças... Fiquei estático diante daquilo e muito comovido. Fiquei, na verdade, impressionado com a forma como os nazistas tiravam dos seres humanos tudo que diferenciava um do outro - dos cabelos aos pertences (sapatos, óculos, malas etc). Acho o projeto de levar jovens de 16, 17 anos para a Polônia admirável. Nenhuma aula, nenhum curso - por mais completo e extenso que seja - pode dar a dimensão que essa visita dá sobre o Holocausto. E na verdade o que vi nesse ano especial do evento - o vigésimo desde a criação - foi como sobrevivemos (como seres humanos, mais que como judeus) ao horror. Foi muito marcante reparar como aqueles jovens muitos deles netos de sobreviventes, voltaram cheios de vida e caminharam para lembrar e mostrar que nem o Holocausto conseguiu acabar com o judaísmo, apesar de ter sim feito um estrago imenso.

PIT - Sobre a situação de Israel, como os jovens israelenses vêem o conflito, a violência? Em sua opinião é mais seguro viver no Brasil ou em Israel?
GT -
Sem dúvida é mais seguro, bem mais seguro, viver em Israel. Quem disser que aqui não existe criminalidade é ingênuo ou mentiroso. Há, sim. Duas pessoas que eu conheço tiveram as casas invadidas e objetos roubados. Eu mesmo já fui roubado em Jerusalém. Mas nada se compara com a sensação que existe no Brasil de que devemos viver atrás de grades ou dentro de carros blindados para parecer que estamos seguros. Uso sempre um exemplo para ilustrar a situação no Brasil. Minha mãe e minha irmã moram em Campinas (que não é grande nem tem a criminalidade de São Paulo) em uma casa grande, em que outras onze estudantes de faculdades também vivem. Quando elas precisam entrar ou sair e está escuro, têm antes que ligar para uma empresa de segurança que envia uma viatura e espera até que tudo esteja trancado. Quem acha isso normal (e a maioria dos brasileiros já se acostumou com situações assim) tem um sério problema. Em Israel isso não existe. Pode ser que exista, sim. Mas hoje eu me sinto muito mais seguro aqui do que no Brasil. Quando estive em 2006 em São Paulo, pela primeira vez depois de fazer aliá, depois de um ano e meio morando em Israel, tive medo de andar na rua, de tomar ônibus. A gente só se dá conta da dimensão dos riscos quando se afasta deles e tem novas referências. Tenho muita saudade do Brasil e gostaria que meus filhos crescessem onde eu mesmo cresci. Mas tenho medo de criar filhos em uma realidade dessas. Com relação aos jovens israelenses, é difícil dizer como eles vêm o conflito e a violência de uma forma geral. Embora os israelenses sejam muito ligados ao que acontece por aqui (e isso é compreensível porque todos vão para o Exército, todos conhecem alguém que morreu em algum atentado...), existe muita gente apática. Essa apatia, no meu ver, é resultado em grande parte da pressão que a situação acaba exercendo sobre as pessoas. O israelense não agüenta mais ouvir sobre conflito, terrorismo, coisas assim. Coloca numa panela um país pequeniníssimo, cercado de inimigos, riscos enormes à existência e tudo isso em um período de tempo curtíssimo. O resultado não pode ser outro. É por isso que Israel é recordista em número de acidentes de trânsito, por exemplo.


PIT - Super obrigada por sua entrevista e deixe seu recado! O espaço é seu!
GT –
Obrigado pela oportunidade. Aproveito para desejar a você feliz aniversário. Quanto ao meu recado, acho que já dei, né?


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2 comentários:

Unknown disse...

Parabéns pela entrevista Gabi! Vc é uma pessoa sensacional e sua experiência deve ser ouvida por todos! Muito orgulho de vc e do seu trabalho! Sem contar esta pessoa maravilhosa que vc é! Muito sucesso!!!!! Bjs;)

Anônimo disse...

Legal ver a entrevista, pois acompanhei de perto boa parte dessa trajetória e na verdade nada mais natural esperar esse sucesso como resultado de tanto trabalho e dedicação. Parabéns!
Abs
Michel