quinta-feira, 29 de maio de 2008


Shalom!

O Papo de hoje é com alguém que não vive sem escrever e seus textos já lhe renderam vários prêmios.

Com vocês a escritora Miriam Halfim!

PIT - Advogada, pesquisadora e escritora. Como podemos definir Miriam Halfim?
MH -
Já estive professora; voltei a ser, para jovens carentes. Acabo de colocar um filho de porteiro na UERJ através de esforço dele e aulas particulares (minhas) gratuitas. Vi, com emoção, o jovem aprender a concatenar idéias numa redação, a compreender e criticar textos que lia, a abrir os olhos para a Educação e um futuro melhor. Até quando lido com gente estou pesquisando. Pesquiso sempre. O mestrado em Literatura Inglesa aprimorou a curiosidade infindável que sinto pela cultura em geral e por gente. A leitura sem fim acabou escorrendo por entre os poros. Escrever transformou-se numa necessidade espiritual. Não vivo sem escrever todos os dias, mesmo que uma linha de algum texto em andamento.


PIT - Quando surgiu este interesse em escrever?
MH -
Desde bem pequena, meu avô materno lia histórias para mim, geralmente de cunho judaicas, que era o que ele conhecia e amava. Crescendo, abri o leque de opções e li tudo que me caía às mãos, até me especializar na literatura inglesa, uma paixão na universidade. Sem esquecer as outras literaturas, que continuo ávida por livros. Ensinava meus alunos a lerem 50 páginas por dia. Faço igual. Mesmo assim, é certo que não se consegue ler 10% do que vale a pena, em toda uma vida.


PIT - "Senhora de Engenho, Entre a Cruz e a Torá", ganhou o primeiro lugar do Prêmio Literário da cidade do Recife, em 2004. Conte para nós como surgiu a idéia deste livro e qual foi sua reação com este prêmio? Por que você decidiu escrevê-lo como texto teatral?
MH -
O teatro está no sangue. Morei e acompanhei a carreira de minha tia Berta Loran, uma mulher incansável, ativa e bem humorada aos 82 anos. Escrevo teatro, mas também contos. E transformo teatro em romance ou conto, e vice-versa, um exercício que aprendi com um ex-professor. Fiquei feliz com o prêmio do Recife, aliás, o quarto que recebi de Pernambuco. Os outros 3 foram segundo e terceiro lugares. Vale dizer que Pernambuco é o berço dos marranos no Brasil. Branca Dias e sua família viveram mesmo no Recife, em meados do século XVI. A colônia era a mais importante do país e até a saída dos holandeses floresceu com vigor. Como o estado possui um belo arquivo histórico, e uma crônica encantadora, busquei lá inspiração para alguns textos. Senhora de Engenho fluiu como teatro e deu certo. Como Ana de Ferro, Bento Teixeira e Empinando Papagaio (este é sobre meninos de rua, o único que não se liga a Pernambuco, mas ao país como um todo).


PIT - Você tem vários textos teatrais. Você acha que o texto representado é mais difundido e melhor compreendido entre as pessoas?
MH -
Tenho mais de 30 textos teatrais. Oito premiados (primeiro lugar e/ou outras classificações) e quatro encenados. Um texto teatral deve fazer rir ou chorar, aprendi com João Bethencourt. Um texto que deixa o espectador sair do teatro como entrou não vale a pena. O problema é que o teatro depende de valores maiores que um romance editado. Por outro lado, o teatro atualiza a experiência da folha de papel. Você vê a cena, assiste ao conflito, e num espaço curto de tempo, se comparado ao tempo de leitura. O que não afasta o valor de um bom livro. Ler um bom livro é essencial. Assistir a um bom teatro é igualmente importante. É a sofisticação da cultura.


PIT - Suas temáticas geralmente abordam situações judaicas. Por que esta escolha, você acha que este é um “terreno fértil”?
MH -
Eu escrevo sobre costumes em geral. Tenho várias peças de temas judaicos (é meu terreno, no qual piso diariamente), alguns textos sobre lésbicas e gays, outros sobre prostituição, sobre velhice, infância, sobre negros, sobre qualquer coisa que me atraia a atenção. Meu mestre de drama dizia que eu escrevia com compaixão pela miséria humana. Observo pessoas e as idéias vêm. Só se escreve sobre o que se conhece muito bem, ou sobre o que se pesquisa profundamente. É como trabalho.


PIT - Entre os seus textos, qual deles te deu maior prazer ou orgulho de escrever? Existe um preferido?
MH -
Cada texto é um novo prazer. Por certo, a premiação de um deles traz orgulho. É como se minhas palavras ecoassem nos corações dos jurados. Não há textos preferidos, mas existem os que não "estão" definitivos. E é certo, os que são pinçados por seu valor nos dão alegria. Mauro Rasi, outro grande dramaturgo, ex-cliente e leitor de texto meu, decretou que eu seria póstuma. A idéia não é confortável, pois é melhor ver um pouco do resultado de seu trabalho em vida.


PIT - Você é sócia-titular do Pen Club. Como funciona esta associação?
MH -
O Pen Clube tem associados que são convidados e votados para fazerem parte de seu quadro. Trabalha pela liberdade de pensamento, pela valorização da Cultura, e tem em seus quadros membros da ABL e pessoas que se destacaram nas Letras e nas Artes em geral. Em janeiro de 2007, a professora Bella Jozef me telefonou dizendo que estava na hora e havia sugerido meu nome ao Pen Clube. Pediu meu currículo e exemplar de livros que eu publicara. Alguns meses após ela me ligou dizendo que meu nome havia sido aceito e eu tomei posse aos 28 de maio daquele ano. O Pen Club tem uma programação muito interessante e sempre de alto nível cultural. É um patrimônio a ser cultivado.


PIT - O que podemos esperar de novidade?
MH -
Estou fazendo pesquisas há um ano, mas aprendi com meu falecido mestre João Bethencourt a não falar sobre uma peça antes de terminar a primeira versão, pelo menos. E pretendo montar uma peça muito em breve. E como o que o homem realmente deseja, nada impede de acontecer, é só esperar.


PIT - Muito obrigada por suas palavras e deixe aqui seu recado!
MH -
O orgulho de pertencer ao povo judeu vem da certeza de fazer parte de uma nação ligada ao Humanismo, à Educação, ao respeito pelo outro. Por isso, mesmo que algum judeu me desiluda, o Judaísmo sempre me encantará. Shalom.


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