quinta-feira, 24 de abril de 2008

Shalom!
Um empreendedor versátil e idealista cuja vida promete novos e surpreendentes capítulos!
No Papo em Comunidade de hoje: Ilan Gorin.

PIT - Olá Ilan! Advogado tributarista, contador. Em que momento você escolheu o que queria ser e por quê?
IG
- Na verdade eu fui estudar engenharia porque era bom em matemática e acabei passando no vestibular para a Universidade Federal do Rio de Janeiro, no Fundão. Eu fazia engenharia de produção quando surgiu uma greve de três meses. Neste período, me interessei em fazer um cursinho de análise de balanço, à noite, na Fundação Getulio Vargas e tomei conhecimento que a Arthur Andersen, que era a maior firma de auditoria do mundo na época, estava recrutando pessoas sem um pré-requisito de formação. Um dos professores deste curso da FGV, chamado João Mauricio de Araujo Pinho, que é um advogado tributarista bastante conhecido, amigo do meu pai na ocasião e que sabia que meu pai trabalhava no ramo, sabendo que eu poderia de alguma forma me tornar sócio do meu pai, me incentivou a concorrer para a vaga na Arthur Andersen, e aí, entrando lá me identifiquei. Estava com 18 anos e fui o mais novo a integrar a equipe na história da empresa, naquele momento. Realmente me interessei mesmo pela área contábil. Só que, com um ano de Arthur Andersen, ficou constatado, nas promoções anuais que eles faziam, que eu tinha mais talento para parte tributária do que para auditoria pura. Então pedi minha transferência para a área de impostos, consegui esta transferência e daí pra frente estou cada vez mais apaixonado pela área tributária.


PIT - Falando em área tributária, esta é uma área que está em constante renovação. Tem que se atualizar sempre...
IG
- Ah é... Mas eu gosto, não fica monótono. Todo dia, umas duas horas por dia, eu gasto estudando legislação nova. É um esforço muito superior, em geral, às outras profissões que não têm esta dinâmica tão grande. Mas, em contrapartida, estou tão treinado a interpretar leis e ainda tenho toda a memória das legislações passadas, que esta atualização não se torna um exercício tão árduo.


PIT - A empresa em que você trabalha vem desde a época do seu pai. Qual a experiência que se adquire trabalhando em uma empresa familiar?
IG
- Depois de dois anos na Arthur Andersen eu saí para trabalhar na Gorin, isto foi muito bom porque entrei na empresa com certo know how e não simplesmente como o filho do fundador, que estaria começando sem entender de absolutamente nada. Mas mesmo assim, no inicio, fiz um rodízio pelas diversas funções da empresa, a pedido do meu pai, de tal forma que três anos depois eu estava apto e ao me tornar sócio em 88 já estava com minhas funções plenas no atendimento aos clientes da área de assessoria contábil, fiscal e trabalhista, que é o que a gente faz até hoje. Assim eu convivi com meu pai até o seu falecimento em 2000. Foram uns 15 anos de relacionamento societário com ele, o que foi muito proveitoso para nós, mas observando os clientes e as empresas amigas, verifico que a sucessão é algo extremamente complexo e que tem que ser muito bem gerenciada, até por profissionais, para que os conflitos familiares não atrapalhem o andamento da empresa. A minha história, que também teve dificuldades, mas no geral foi uma história de sucesso com meu pai, é algo raríssimo, e até acho que se o relacionamento entre pais e filhos não é tão maravilhoso assim, os pais deveriam incentivar os filhos a seguirem outras carreiras, pois do contrário a empresa pode não ter um bom andamento e aí os sonhos tanto da geração antiga quanto da nova vão por água abaixo. É um assunto bem delicado.

PIT - Seus filhos vão seguir o mesmo caminho?
IG
- Em relação aos meus filhos eu tenho esta dúvida também. Não se deve colocar como primeira meta os filhos trabalharem com os pais, isto tem que vir naturalmente, porque pode haver grande frustração de ambas as partes. No caso dos meus filhos, apesar deles não concordarem muito, eu os deixo muito a vontade. A primeira, a princípio, já saiu do circuito, porque optou por psicologia. Na véspera do vestibular da PUC, trocou o direito por psicologia. Se optasse por direito teria maior chance de compartilhar comigo um trabalho futuro e tal. Então, a gente não é dono do destino mesmo, mas eu ainda tenho outros dois filhos e vamos ver no que vai dar, mas tem que ser bem natural para não haver nenhuma espécie de decepção e até brigas familiares.

PIT - Existe uma máxima de que os pais constroem, os filhos usufruem e os netos destroem... Você concorda?
IG
- Esta máxima realmente acontece se a gente forçar a barra. Acho que mais vale a passagem da expertise nos negócios, da cultura empresarial, do que propriamente do seu negócio, até porque o mundo está tão dinâmico que muitos negócios deixam de ser interessantes. As pessoas não devem engessar o raciocínio em cima do negócio atual no que se refere à carreira dos filhos.


PIT - Sobre a Gorin Auditoria Fiscal e Contábil, quais os serviços oferecidos?
A Gorin tem um pacote que envolve diversos serviços para médias empresas, principalmente no eixo Rio-São Paulo, mais no Rio do que em São Paulo. Este pacote envolve planejamento fiscal, que é um lado muito forte nosso; atendimento a fiscalizações, que é um trabalho complexo, mas necessário, que depende também de uma expertise; e orientação permanente na área contábil, fiscal e trabalhista para os clientes. Orientação e revisão do que a equipe interna desenvolve no estabelecimento da empresa. Este trabalho gera tanto segurança fiscal, por estar seguindo a legislação com as interpretações mais adequadas, sem erros eventuais, como economias fiscais, fruto de determinadas criatividades legais que a gente adota nas empresas.

PIT - Em época de entrega de imposto de renda você tem alguma dica para dar?
IG
- O imposto de renda de pessoa física não é nem nossa especialidade maior, a gente se dedica mais às empresas. Mas no caso da pessoa física a orientação mais forte que eu posso dar, já que as regras não têm mudado com freqüência, é o contribuinte ter o cuidado de simular os cálculos dele, principalmente se ele for casado, entre as diversas modalidades de declaração: completa, simplificada, declarando em conjunto com a esposa ou com o marido ou separado. Praticamente há quatro simulações a fazer e que, em geral, dão resultados bem diferentes e, só fazendo estas simulações, as pessoas podem optar pelo caminho mais econômico. Esta seria a recomendação prática para agora.


PIT - Em 2007 você lançou o livro “Sem Medo de Saber”, uma forma de homenagear seu pai, vitima do câncer, e conscientizar as pessoas sobre a importância do diagnóstico precoce da doença. Quando você realmente decidiu escrever o livro?
IG
- Não me lembro muito bem. Acho mais provável que tenha sido durante o tratamento do papai. Ele descobriu, depois de uma cirurgia, que tinha câncer espalhado pelos dois pulmões num estágio incurável. Os exames com imagens não definiam a situação e nesta cirurgia simplesmente se constatou que não tinha nada a se fazer de definitivo em busca da cura, apenas o tratamento de prolongação da vida através de quimioterapia. Desde aquele momento eu criei uma revolta dentro de mim em relação à forma com que a medicina interage com o público no que se refere à certa passividade quanto ao câncer. Como uma doença silenciosa, o câncer deve ter um diagnóstico precoce através de exames preventivos, não pode ser tratado da mesma forma que as outras doenças. E este meu sentimento eu consegui, com muita dificuldade, transformar no livro.

PIT - Que tipo de dificuldade você teve? Como foi a experiência de escrever um livro com um tema tão delicado?
IG
– As pessoas que passam por esta experiência sabem da importância do diagnóstico precoce. Talvez não saibam como alcançar o protocolo ideal deste diagnóstico, mas sabem a importância. Eu tive muita dificuldade em transmitir a experiência e a técnica do diagnóstico precoce. A cultura do Brasil, dos Estados Unidos e da Europa é, infelizmente, por vários motivos, ainda de tratar o câncer da mesma maneira que tratam as doenças não silenciosas ou as doenças que em geral costumam alcançar a cura depois do aparecimento dos sintomas. Isto dificultou o meu trabalho, tanto que demorei dois anos para fazer o livro porque fui obrigado a mandar uma equipe para o Japão que, ao lado de Taiwan e Coréia do Sul, de fato fazem exames preventivos dos mais sofisticados em pessoas assintomáticas. Tivemos a sorte de entrevistar os dois maiores especialistas do Japão e do mundo nesta matéria, enriquecendo o conteúdo do livro.
A minha experiência ao escrever o livro foi muito boa porque eu pude diminuir a minha revolta e exercer o amor pelo meu pai. E assim transmitir esta idéia para outras pessoas, que poderão evitar o que aconteceu comigo. Que foi a perda precoce do meu pai que descobriu que tinha um câncer sem cura aos 54 anos e veio a falecer com quase 60.


PIT – O Brasil está encarando o diagnóstico do câncer de forma equivocada?
IG
– O problema não é a questão do Brasil. No mundo inteiro existe uma disputa de quem tem razão no sentido da validade do diagnóstico precoce. Estes países que comentei são partidários do diagnóstico precoce e os seus especialistas defendem esta tese baseados em artigos internacionais já publicados em revistas conceituadas. Médicos americanos e europeus tentam publicar artigos contrários a esta tese e aí fica uma discussão internacional que vai durar muito tempo. Mas a minha avaliação de leigo é que os artigos dos japoneses são bem mais embasados do que aqueles que foram escritos contra eles.


PIT - O livro conta com vários depoimentos de pessoas públicas que tiveram câncer, algum depoimento te marcou mais? Por quê?
IG
- Foram entrevistadas 40 pessoas, na sua maior parte famosas, sobre as experiências que elas ou parentes passaram, com final feliz ou não. No caso, 1/3 dos entrevistados obtiveram a cura e os outros 2/3 são parentes comentando a experiência e toda a questão psicológica do diagnóstico, da descoberta, do tratamento e posteriormente do falecimento. Com exceção do Raul Cortez, que fez seu relato ainda em vida e posteriormente veio a falecer. Acho que todos são especiais, prefiro não fazer um destaque maior porque cada um deles tem uma lição de vida, todos são muito importantes de serem lidos. Todos os depoimentos foram profundos e verdadeiros.


PIT - O diagnóstico precoce requer exames que não são acessíveis à grande maioria das pessoas e os planos de saúde não cobrem. Você acredita que isto mude algum dia no Brasil? Política e economicamente falando, é mais viável deixar as pessoas descobrirem a doença em um estágio avançado ou incentivar a descoberta a tempo?
IG -
Eu particularmente acho que se eu fosse contratado como consultor de um plano de saúde, um matemático, eu diria que realmente fazer um exame preventivo é mais caro do que tratar os casos, que é o que eles seguem até hoje. Só que tem que haver uma força maior do que o poder econômico dos planos de saúde e a dificuldade financeira dos estados. Tem que haver uma conscientização maior e a opinião pública forçar a modificação deste raciocínio, de tal forma que, como a vida é fundamental, tem que dar prioridade a ela. O câncer é o maior fator de morte no Brasil ou só perde, talvez, para acidentes de trânsito e casos coronarianos, mas são de qualquer maneira 200 mil mortes por ano no Brasil e milhões no mundo. Portanto, acho que deveria haver um movimento político a favor desta situação, deixando de lado os interesses econômicos dos planos e as dificuldades financeiras dos países em desenvolvimento. Torço para que isto aconteça um dia.


PIT - Você pretende escrever mais livros?
IG
- Sim, porque sou meio idealista e tenho outras lutas que gostaria de empreender a partir de várias ações, dentre as quais escrever livros. Tenho duas situações em mente e pretendo futuramente dar início a tais projetos.


PIT - Já que você falou em projeto, algum em vista?
IG
- Como falei, tenho projetos. Escrever mais livros está entre eles. Um dos livros, eu prefiro não comentar por enquanto. Mas o outro será, talvez, o meu maior projeto daqui pra frente. Quero me dedicar ao tema que eu acho que seria a solução dos principais problemas mundiais e locais que é o controle da natalidade. Pretendo me aprofundar bastante sobre este item, escrever um livro sobre este assunto com histórias internacionais sobre o que foi feito até hoje e acredito piamente que este trabalho pode gerar frutos positivos para as pessoas.


PIT – Ilan, muito obrigada por participar do Papo em Comunidade!
IG -
Eu que agradeço!

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