quinta-feira, 13 de agosto de 2009


Shalom!
O Papo de hoje é um convite a uma nova reflexão sobre os textos sagrados.
Edgar Leite conte suas descobertas!!!


PIT - Olá Edgard bem vindo ao Papo em Comunidade!
EL -
Olá Patrícia, prazer em revê-la!

PIT - “As origens da Bíblia e os manuscritos do Mar Morto” é seu recente livro. O que te levou a escrevê-lo?
EL -
O livro é fruto de minhas pesquisas e de cursos que proferi no Centro de História e Cultura Judaica, na UERJ e na UNIRIO. Está relacionado às minhas preocupações acadêmicas relativas à natureza da experiência religiosa e, especialmente, à experiência religiosa bíblica. Isto é, atuo profissionalmente no campo dos estudos religiosos e me interessa o significado da religião na história. No caso, de como os textos bíblicos refletem as preocupações dos seres humanos sobre a transcendência.

PIT - O que de mais curioso você encontrou em pesquisas que possa nos contar?
EL -
Há muita coisa curiosa, mas vamos apenas a uma. As diversas guerras nas quais os judeus se envolveram na antiguidade, contra os babilônios, os sírios e os romanos, destruíram muitas bibliotecas e levaram à perda de muitos textos antigos importantes. São conhecidos, às vezes, porque são mencionados em outros livros. Por exemplo, sabemos da existência de um livro, atribuído a Nehemias, que estava na biblioteca do templo de Jerusalém e que hoje está perdido. Esse texto menciona um "fogo sagrado" que teria sido oculto quando da destruição do primeiro templo (586 a.e.c.). Quando o segundo templo foi reconstruído (516 a.e.c) Neemias reencontrou essa chama miraculosa, só que sob a forma de um líquido escuro e espesso, que uma vez jogado sobre as pedras do altar acendeu-se miraculosamente. Para os irmãos macabeus, que mais tarde tornaram a dedicar o templo de Jerusalém (164 a.e.c.), essa seria a origem da festa de Hanuká.

PIT - É possível dizer quem escreveu a Bíblia?
EL -
Foram muitas as mãos que trabalharam nas versões finais dos textos bíblicos. Na verdade os textos foram emendados, alterados e corrigidos por muitas pessoas durante a história, especialmente no período do segundo templo (516 a.e.c. - 70 e.c.). No entanto, é necessário anotar que esse processo todo foi sempre imbuído de inspiração religiosa e respeito à tradição. Embora nem sempre os entendimentos teológicos fossem convergentes.

PIT - Qual era o propósito da Bíblia quando foi escrita? Este propósito foi desvirtuado?
EL -
Ao meu ver, há sempre dois propósitos ao se elaborar um texto sagrado: o primeiro é alcançar, através da escrita, aquela realidade que está além da realidade visível, por inspiração ou revelação. O segundo é propiciar que a partir dessa realidade revelada se construam relações políticas entre seres humanos. Há sempre um conflito entre aquele que trabalha o tema da transcendência e o vivencia e aquele que o usa no estabelecimento das relações de autoridade e poder. O segundo está sempre tentando controlar - ou desvirtuar - o primeiro. Às vezes consegue, às vezes não. Os textos bíblicos foram escritos em épocas diferentes e em contextos históricos também diferentes. Em alguns deles houve mais liberdade e sinceridade, em outros, maior controle.

PIT - A Bíblia pode ser considerada um grande código a ser desvendado?
EL -
Todo texto bíblico contém em si um mistério, que é aquela inspiração mais íntima do redator. A expressão da realidade última que julgou alcançar, não apenas para si, mas também enquanto experiência universal, isto é, para os outros. Há muitos métodos para o leitor alcançar essa inspiração mais profunda, dependendo dos seus objetivos ao fazê-lo.
Acredito que há sim uma tentativa do autor bíblico em alcançar essa essência universal e eterna através da experiência literária. Ele o faz utilizando a linguagem de seu próprio tempo. A interpretação histórica é uma chave para entender o mundo do autor a partir de nossa temporalidade. Traduzir o seu mundo para o nosso. Assim podemos alcançar a intimidade de suas idéias e entende-las, em sua atemporalidade, em nossos dias. Alcançar o mistério de suas revelações.

PIT - Alguma passagem da Bíblia te chama mais atenção? Qual e Por quê?
EL -
Não precisamente uma palavra, mas um livro, o Shir Hashirim, o Cântico dos Cânticos. Por conta basicamente de uma intervenção do rabi Akhiva. Akhiva, no século I, defendeu que o "Cântico dos Cânticos", era o "sagrado dos sagrados", dos escritos da Bíblia. Com isso ele quis dizer, provavelmente, que a experiência da vida, especialmente do amor, era um dos momentos especiais para alcançar a essência do mundo e das coisas que nele estão.

PIT - Edgard, obrigada por sua entrevista e deixe aqui seu recado!
EL -
O meu texto é uma tentativa de sintetizar muitas das mais recentes contribuições acadêmicas ao estudo das origens da Bíblia. Elas convidam a uma nova reflexão sobre o significado dos textos sagrados. Agradeço a oportunidade e convido a todos os interessados a tomar conhecimento desses novos olhares. O lançamento do livro será no dia 18 de agosto, a partir das 19h, na livraria da travessa, em Ipanema. Mais detalhes estão no nosso blog:
http://origensdabiblia.blogspot.com/
Um grande abraço a você e a todos os que passarem por aqui!





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